A clínica psicanalítica na contemporaneidade

  • 11 jan

Freud, há 130 anos, aproximadamente, observou que ao falar, as pessoas expunham mais do que elas próprias sabiam de si mesmas. Ao deixar transitar as palavras sem nenhuma preocupação apriorística, Freud e seus analisandos se deram conta de que a linguagem é articulada num emaranhado labiríntico, o qual, em seu cerne, aponta para o desejo e a falta constituintes do sujeito. Tal descoberta não foi sem consequência.

Ao mesmo tempo em que a escuta de Sigmund Freud pôde estabelecer as vias aos recônditos humanos, percebeu ele o potencial terapêutico quando alguém resolve encarar a matéria prima de seu desejo, ou seja, quando paramos de navegar a vida utilizando desculpas, hipocrisias, morais utilitaristas, frases prontas e afetos prêt-a-porter. A clínica psicanalítica, nesse sentido, numa mesma feita, busca uma liberdade artesã, produz reflexões sobre a história singular de cada um, em vez de se render a aplicações educativas baratas feitas para vendar ideais (des)confortáveis do nosso capitalismo de cada dia.

A invenção freudiana passou por grandes impasses e remodelações nesse pouco mais de século de sua história, não para se acomodar às exigências adaptativas que a pressão produtiva que nossa contemporaneidade impõe, mas sim, para continuar a ajudar a que a procura a lidar com as tramas discursivas de nosso mundo etéreo. Ou seja, a clínica ainda se atenta e se interessa pelos impasses do desejo humano, entende que é a partir do autêntico desejo que se pode criar uma forma de vida autoral e que a criatividade, tão importante ao cotidiano massificante, depende do quanto conseguimos suportar as nossas dúvidas, vazios e Verdade.

 

João Camilo de Souza Junior – @joao.camilo.s.j

Possui graduação e mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (2008-2013/graduação) (2014-2016/mestrado). Especialista em Saúde Mental pela Universidade Católica de São Bosco (2014-2016). Experiência profissional em Psicologia Clínica e Saúde pública. Docente em instituição de ensino superior: UNIFUCAMP (Centro Universitário Mário Palmério).

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