O nascimento de um bebê é um marco transformador na vida de uma mulher e de toda a família que a cerca. Durante a gestação, inúmeras expectativas — positivas e negativas — surgem, e o parto representa o ápice desse processo. No entanto, quando o parto ocorre por meio de uma cesárea, essa experiência pode trazer consigo desafios emocionais significativos, especialmente se a cirurgia não foi planejada ou entra em conflito com o desejo da mulher de vivenciar um parto vaginal.
O ambiente hospitalar, a necessidade de uma intervenção cirúrgica e as limitações físicas no pós-parto podem despertar sentimentos intensos, como medo, angústia, ansiedade e frustração. Diante desse cenário, a presença de uma *psicóloga perinatal e obstétrica* no centro cirúrgico torna-se indispensável. Sua atuação garante um suporte emocional adequado, promovendo uma experiência de parto mais humanizada e respeitosa.
A CESÁREA E A VULNERABILIDADE EMOCIONAL
A cesárea é uma experiência que, por sua natureza cirúrgica, pode ser percebida como invasiva. A mulher é anestesiada, o que implica a perda temporária de autonomia sobre seu corpo e funções executivas. Esse momento, já por si só intenso, pode gerar grande vulnerabilidade emocional. Para algumas mulheres, a cirurgia é vivenciada com relativa tranquilidade, enquanto para outras, pode despertar medos, inseguranças e até frustrações, muitas vezes resgatando experiências inconscientes ligadas à própria história familiar ou ao período gestacional de suas mães.
Nesse contexto, a psicóloga perinatal e obstétrica desempenha um papel fundamental. Ela atua para garantir que a experiência seja vivida da forma mais positiva possível, ajudando a mulher a se conectar com o “aqui e agora”. Além disso, integra o acompanhante nesse processo, tornando o momento mais acolhedor e humanizado para a mãe, o pai e o bebê.
O AMBIENTE HOSPITALAR E A IMPORTÂNCIA DO ACOLHIMENTO
Ao entrar em um centro cirúrgico para dar à luz, a mulher se depara com um ambiente frio, tecnológico e, muitas vezes, impessoal. Esse cenário pode ampliar sentimentos de medo e desconforto. A presença da psicóloga é crucial para oferecer suporte emocional, favorecendo a conexão da mulher e seu parceiro com a experiência do parto e a vinculação afetiva com o bebê. Com palavras suaves, um toque gentil e um olhar acolhedor, a psicóloga se torna um ponto de segurança em meio às luzes brilhantes, aos sons mecânicos e à sensação de desamparo que pode surgir durante o procedimento.
A ESCUTA QUALIFICADA E RESSIGNIFICAÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A ansiedade e o medo são emoções comuns no momento do parto, especialmente quando a cesárea não era a primeira opção da mãe. A *escuta qualificada* da psicóloga permite que a gestante expresse seus sentimentos sem julgamentos, ajudando-a a ressignificar sua experiência. Além disso, a profissional pode utilizar técnicas de respiração e relaxamento, reduzindo o estresse e criando um ambiente mais tranquilo e seguro.
FORTALECENDO O VÍNCULO MÃE-BEBÊ
Outro aspecto crucial da atuação da psicóloga obstétrica na cesárea é o fortalecimento do vínculo mãe-bebê. Na primeira hora de vida, o contato pele a pele e a amamentação podem ser desafiadores devido às condições cirúrgicas. A psicóloga trabalha em conjunto com a equipe médica para garantir que a mãe e o bebê tenham a melhor experiência possível, reforçando a importância do contato afetivo logo após o nascimento.
A IMPORTÂNCIA ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NO PÓS-PARTO IMEDIATO
A atuação da psicóloga não se limita ao momento do parto. No pós-parto imediato, muitas mulheres podem se sentir impotentes ou insatisfeitas com sua experiência de cesárea, o que pode impactar diretamente sua saúde emocional. A vulnerabilidade desse período, aliada às mudanças hormonais e às demandas da maternidade, pode favorecer o surgimento de transtornos como a depressão pós-parto. A psicóloga atua na prevenção desses quadros, oferecendo um espaço seguro para a elaboração das emoções vividas e garantindo um acolhimento respeitoso.
O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO NA CESÁREA
Em um mundo onde a humanização do parto ainda enfrenta desafios, a inserção da psicóloga perinatal e obstétrica no centro cirúrgico é um passo essencial para transformar a cesárea em uma experiência mais respeitosa e menos traumática. Afinal, trazer uma nova vida ao mundo é um momento que merece ser vivido com amor, acolhimento e presença emocional.
A presença da profissional de psicologia especializada em perinatalidade e obstetrícia não só beneficia a mãe, mas também fortalece os laços familiares e contribui para uma transição mais saudável da conjugalidade para a parentalidade. A cesárea, quando acompanhada de cuidado psicológico, pode ser uma experiência de parto tão significativa e positiva quanto o parto vaginal.
PAULA EL KHOURI PEREIRA
Estudante de Psicologia e pós-graduanda em Psicologia Perinatal e Obstétrica do Instituto Suassuna