Por uma maternidade menos idealizada

  • post publicado em 30/03/22 às 08:57 AM
  • Tempo estimado de leitura: 2 minutos

 

A vinculação entre maternidade e feminilidade e ser mãe como principal papel da mulher vem produzindo distorções quanto ao desejo ou não desejo de uma mulher tornar-se mãe.

O atual contexto exige do sujeito contemporâneo, e em especial das mulheres, que seja eficiente e que exerça com excelência toda e qualquer atividade.

Tropeços, dúvidas e temores designam fraqueza e, portanto, não estão em conformidade com o que é signo de valor.

E é nesse caldo cultural que as mulheres da atualidade se veem submersas e colocadas frente à maternidade.

 

Muitas são as interrogações: desejo ser mãe ou devo ser mãe? Qual o momento ideal para ser mãe?

Quais são os pré-requisitos para ser uma boa mãe e uma profissional de sucesso? Como administrar realização profissional e maternidade?

Temos presenciado um adiamento cada vez maior da maternidade, com consequências sobre a fertilidade –

como resposta à idealização das condições necessárias para que uma mulher possa tornar-se mãe.

 

As mulheres ao se verem confrontadas com tamanha exigência perseguem com afinco o momento tido como ideal para que, então, possam se perguntar sobre se desejam ser mães.

É quase como se necessitassem de um doutorado que as qualificassem como aptas a percorrerem os caminhos enigmáticos, turbulentos e sempre surpreendentes da maternidade.

O resultado dessa idealização e dessa exigência sobre a mulher são mães angustiadas, exaustas e com um profundo sentimento de culpa por não estarem conseguindo ser supermulheres.

Os efeitos sobre as crianças são igualmente nefastos, pois não toleram frustrações e limites.

 

Parafraseando Simone de Beauvoir, não se nasce mãe, torna-se. E, ao tornar-se, é fundamental estar aberta ao novo, ao incerto, ao não saber.

É preciso abrir espaço para falhar e aprender, para construir com o filho uma relação de afeto, amor e cuidado onde as perguntas são mais importantes que as respostas.

É preciso permitir-se frustrar-se e frustrar o outro. É ali onde percebemos o filho como um diferente e o respeitamos em sua singularidade que a construção permanente desse tornar-se se dá.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.