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EVITAR A SOLIDÃO É O MESMO QUE ETERNIZÁ-LA

Reflexões sobre o dilema da solidão, a vivência da solidão é um dos paradoxos da existência que mais tem me interessado.

Não há um paciente em psicoterapia que em algum momento não traga a queixa de que se sente sozinho na vida ou em alguma relação específica. Wheeler (1994) até afirma que o paciente vem à terapia porque está muito sozinho com seu problema. Não é à toa que vários transtornos psicológicos se estruturam em função da evitação da vivência da solidão. Isso acontece porque somos seres ontologicamente relacionais – e justamente por isso, fadados à solidão. Quando esta se agrava, agrava-se também a saúde de nossas relações com o outro e com a gente mesmo.

Conforme Buber (2012, p. 134), “a relação é o espaço ontológico cuja característica é reunir sem fundir, onde o homem simultaneamente encontra igualdade e distinção”. Para nosso próprio self assumir contornos mais definidos e estáveis, precisamos continuamente ter com o mundo uma relação de contato e separação. Dessa forma, cada relação nos lança a uma sequência infinita de mortes e (re)nascimentos que inevitavelmente nos encaminham para a solidão (Pinto, 2021). Ao passo em que há inúmeros fatores que interferem na qualidade de nossas relações com o outro e com a gente mesmo, a proximidade da morte é talvez o mais central. Bert Hellinger (2001) afirma que todo relacionamento é um processo em direção à morte. No contexto dessa afirmação, o autor refere-se ao fato de que a vivência de toda relação acontece com a consciência da morte e de que a relação um dia irá acabar. Cada relação só pode ser vivida com a intensidade correspondente ao quanto cada pessoa se conscientiza e abraça a perspectiva da morte. Porém, entendo que a morte se anuncia também no fato de que cada contato nos muda de maneira irrevogável. Do contato com o diferente nasce uma novidade de vida que inevitavelmente substitui (mata) uma outra.

Os contatos humanos, poderosos que são, podem “matar” ilusões, valores, conceitos, expectativas e padrões cristalizados de comportamento, gerando um profundo desarranjo em nossa estabilidade existencial. Se a vida humana se dá na vitalidade da coexistência (Buber, 2021), acrescento que na coexistência se dá também a morte do ser humano. Nessa perspectiva, não é difícil compreender porque as pessoas evitam a experiência da solidão, pois cada contato, independente do quão profundo seja, nos aproxima da morte. O problema é que pelo medo da solidão – e, portanto, da morte – passamos a coexistir com cada vez menos vitalidade. Reparem na quantidade de coisas que fazemos hoje de maneira virtual. O ambiente virtual tem sido o ethos de parte assombrosa dos contatos humanos, inclusive os sexuais. Por falar em sexualidade, podemos observar um profundo e quase generalizado desencanto nas relações românticas acompanhado de um pavor da experiência de apaixonamento e/ou da conjugalidade. A sexualidade tem sido enganosamente despida de seu potencial criativo e transformador justamente porque se tirou dela tudo o que pressagia a morte: o afeto, a possibilidade da concepção, o compromisso com uma relação e com o sentimento do outro, a possibilidade da perda (morte) do prazer e da liberdade individual. Busca-se uma sexualidade que não desarranja, que não fere o senso de segurança; enfim, uma sexualidade que eterniza o status quo, contrariando seu poder de transgredi-lo. Me assusta também como ainda vivemos de maneira predominantemente racional. Por mais que se pregue uma concepção holística de ser humano nos modelos de saúde vigentes, ainda se lida com o humano de maneira terrivelmente fragmentada. Uma paciente relatava que se via como alguém muito emocional, ao mesmo tempo em que passava a sessão inteira dando explicações e causas para sua impulsividade e desatenção. “Você acha mesmo que você é tão emocional? A sua fala até agora não contemplou nenhum sentimento seu. Apenas explicações sobre porque você é como é.” Ao refletir com ela que sentimento não se contempla só com a fala (racional), mas também (e, às vezes, principalmente) com o silêncio, ela começou a ser mais honesta consigo mesma, admitindo o quanto foge de seus sentimentos e o quanto isso tem contribuído para sua depressão.

É frequente as pessoas acharem que são muito emocionais só porque estão sofrendo ou tendo crises de ansiedade. Parte-se de um conceito retrógrado, ainda impregnado no imaginário social pós-moderno, que ter crises psicológicas é ser muito emocional – ou seja, desassociado do “equilíbrio” (vulgo: racionalidade) que se valoriza socialmente. A verdade é que usamos a razão para evitar e rechaçar o contato com os sentimentos, apoiando-nos em abstrações acerca de nós mesmos que não só não nos trazem clareza de quem somos, como também nos rouba a vitalidade de nossas escolhas e relações. Logo, “justamente por enredar-se em abstrações, o indivíduo se torna engolfado na mais profunda solidão” (Buber, 2012, p. 123). Por que insistimos em perpetuar concepções genéricas e socialmente aceitas sobre as experiências humanas? Por que reproduzimos as mesmas justificativas e racionalizações que, quando crianças, ouvimos os adultos dar para seus comportamentos? Porque a adequação ao discurso social e à cultura de pensamento nos dá um falso senso de pertencimento. Dizemos que somos únicos, mas mostramos com nosso racionalismo que não queremos nos diferenciar do que todo mundo já pensa, diz e faz. Não queremos sacrificar discursos e comportamentos aprendidos em prol de sermos mais autênticos e maduros, pois ambas as qualidades exigem o preço da solidão. Perls (1977) me confirma disso ao apontar que para não assumir a responsabilidade pela pessoa adulta que é, a pessoa racionaliza, apega-se a memórias de infância e à imagem de que é uma criança. “Porque crescer significa estar só, e estar só é o pré-requisito para a maturidade e o contato” (p. 209). Ao passo em que a solidão faz parte da existência, temos nos submetido a uma solidão patológica por rejeitar as mortes necessárias para nos tornarmos quem de fato somos. Mortes de conceitos errados, de valores desatualizados, de expectativas injustas e de relações adoecedoras. Morte daquilo que pensamos que somos e das explicações que sempre nos demos, a fim de enxergarmos quem somos também em nossa corporeidade, sensualidade e espiritualidade. Conhecer-se genuinamente e realizar-se como pessoa envolve tanto o contato com o terreno ora fértil, ora inóspito das relações quanto a retirada para o lugar solitário da autocontemplação. Quem nega a solidão torna-se incapaz de se orientar no tempo e no espaço da própria vida e, consequentemente, de estabelecer uma organização da própria personalidade. A solidão é o momento de sentir, de contemplar e de decifrar aquilo que sutilmente clama por compreensão dentro de nós. Negar-se ao encontro com a própria solidão é a maneira mais trágica de eternizá-la. Aceitá-la e apreciá-la coloca-nos em contato com a grandeza da vida.

REFERÊNCIAS Buber, M. (2012). Sobre comunidade. São Paulo: Perspectiva. Hellinger, B. & Hövel, G. ten. (2001). Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor. São Paulo: Cutrix. Perls, F. S. (1977). Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus. Pinto, E. B. (2021). Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado. São Paulo: Summus. Wheeler, G. (1994). Compulsion and Curiosity: a Gestalt-Approach to Obsessive-Compulsive Disorder. British Gestalt Journal, 3(1), pp. 15-21.

Pedro Paulo Coelho (@pedropaulocoelhoo)

Psicólogo, Gestalt-terapeuta, palestrante e gago incurável.

Solidão, luto

Luto e solidão

Quero ficar sozinho! Não quero falar com ninguém! Me deixe em paz!

São falas que, por vezes, você vai ouvir!

Autores importantes como Soares e Mautoni (2013, p. 17), afirmam que o luto “é um processo solitário e individual”. Mas isso é certo?

Cada indivíduo vivencia sua existência à seu modo. Então, temos que respeitar o modo de ser e de existir de cada um, sem ser chato ou ficar, desculpem minhas palavras, “cagando regra” na cabeça de ninguém!

Aqui no Instituto Suassuna temos uma pós graduação focada nesta temática. Então deixa te passar um pouco mais de contexto sobre esse tema.

Vamos entender esse fenômeno um pouco melhor, vem comigo!

Às vezes você terá dificuldade de conversar com alguém sobre luto ou sobre essa dor que está sentindo. Isso porque, falar sobre luto em nossa sociedade parece um tabu. Quase que um absurdo falar com alguém sobre esse tema, afinal ‘não vamos mexer nisso não, ele deve estar passando por momentos difíceis”. Mesmo que a morte seja um fato inexorável, sobre o qual não se tem controle algum, recai sobre a fragilidade humana o temor pelo desconhecido, o fim!

A saber, diferentes culturas acabam por dar uma série de significações e explicações diferentes a fim de que se sustente uma crença, seja na continuidade ou prolongamento da existência após o “fim da vida”. Desde o início da humanidade há registros sobre o modo como se lida com o tema da morte bem como as manifestações e sensibilidade do coletivo social na expressão dos sentimentos causados pela consciência da finitude.

Nos dias atuais, a morte “é empurrada mais e mais para os bastidores da vida social durante o impulso civilizador” (ELIAS, 2001: 19). Ou seja, acaba-se acreditando que este momento deva ser abafado, ou mesmo vivenciado de forma individual e cada um em seu “canto”.

um autor que admiro muito Ricoeur (1994) em sua obra La Souffrance nést pas la douler, aponta para o fato de que, o sofrimento quando se abate sobre alguém é sempre solitário e sempre inominável, porque incomunicável em sua perplexidade e extensão, o que faz de cada sofredor um sofredor, específico na sua irresolução e na sua incomunicabilidade. Para quem já assistiu o Harry Potter, costumo dizer que é algo parecido com o dementador. Tira suas energias e consome por dentro, sem que se saiba ao menos dizer o que está acontecendo.

Para alguns, é momento de tanta dificuldade que sente-se num duplo sofrimento. Primeiro pela perda de alguém tão importante, e por outro lado sente-se inadequado. Essa sensação de inadequação é acompanhada de dúvidas cruéis como: devo falar? o que falar? e se eu falar e…..?

Por vezes o social faz com que, aquele que sofre, economize-se em gestos e sentimentos, colocando-se [o social] como cego e surdo, diante daquele q sofre uma perda, quase sempre com o discurso de “melhor dar uma distraída nele para não pensar tanto nisso”. Assim, o enlutado acaba por escolher pela jornada do silencio, sendo este caminho o menos doido, frente a uma sociedade, por vezes, não acolhedora daquilo que nem eu sei dizer.

Ainda que em silencio, muito se guarda em um “fundo” de angústia, isolamento, sofrimento, por isso chamo a atenção, aqui, para o amparo social.

Mas calma ai! Isso não significa que você precisa conversar a toda hora sempre e em todo lugar sobre esse tema com a pessoa que sofre. Alto lá!

Ser acolhedor, amparar, cuidar, são palavras e atitudes que demandam uma escuta atenta. Exatamente. O melhor a se fazer é acolher, inclusive em silêncio. A pessoa enlutada precisa se sentir acolhida, e nada melhor que o silêncio, para que isso ocorra. Se der certo ela, em algum tempo, se sentirá segura, irá se entregar à essa possibilidade relacional e então conseguirá falar, sentir e realmente contar com você!

Deste modo, ressalto a importância da rede de apoio, pois, inevitavelmente este será um momento solitário e individual, mas que pode ser partilhado, inclusive em silencio, ao lado de alguém que confie muito

Em um poema de Drummond lembro de ver algo no sentido de que “a dor passa, mas não passa ter doido”

Adorei nosso papo ate aqui! me mande considerações e venha fazer parte de uma turma que trabalha com esse tema todo dia.

Aqui no Instituto Suassuna temos uma pós-graduação que cuida bem dessa temática.

Para saber mais sobre o tema, venha fazer parte de nossa pós graduação. Com mais de 400 horas de estudos práticos e supervisões, você terá acesso a profissionais com vasta experiência prática que lhe formam para lidar com o sofrimento humano, acolhendo e fazendo a diferença na vida de cada um que lhe procurar.

Suicídio e Luto, do Instituto Suassuna, tem carga horária de mais de 360 horas

Venha se aprofundar mais sobre esse tema tão delicado e necessário, convidamos você a conhecer um pouco mais sobre a nossa pós graduação em Suicídio e Luto. Acesse o nosso site ou entre em contato.

Venha transformar o futuro com o IS! 💚

 

Dr. Danilo Suassuna

Doutor em Psicologia

CEO Instituto Suassuna

www.danilosuassuna.com.