Vazio é Fertil

  • post publicado em 25/11/24 às 14:11 PM
  • Tempo estimado de leitura: 3 minutos

 

Vazio é Fertil

Desmistificando a Gestalt-terapia: Contato, Fronteiras de Contato e o Vazio Fértil 

Na correria do dia a dia, muitas vezes não percebemos como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor – seja com as pessoas, os acontecimentos ou até nossos próprios pensamentos e emoções. A Gestalt-terapia, uma abordagem humanista-existencial criada por Fritz Perls e seus colaboradores, propõe um olhar cuidadoso para essas interações e como elas moldam nossa experiência de vida. Hoje, vamos explorar dois conceitos essenciais da Gestalt-terapia: o contato e as fronteiras de contato e o enigmático vazio fértil.

Se você já se sentiu “desconectado” de si mesmo ou percebe que evita mudanças e transições em sua vida, este texto é para você.

Contato e Fronteiras de Contato: O Coração da Gestalt-terapia

Na Gestalt-terapia, o contato é o ponto de encontro entre o self (nós mesmos) e o ambiente. É por meio do contato que interagimos com o mundo e damos sentido à nossa experiência. Cada gesto, olhar ou pensamento nasce dessa troca.

Porém, esse processo não acontece de forma desordenada: ele é regulado pelas chamadas fronteiras de contato. Essas fronteiras são como filtros que determinam o que permitimos ou bloqueamos em nossas interações.

  • Uma fronteira saudável é flexível: ela protege nossa individualidade, mas permite que nos conectemos de forma significativa com o outro.
  • Uma fronteira rígida pode nos isolar, criando distância emocional e barreiras que impedem relacionamentos autênticos.
  • Já uma fronteira excessivamente permeável nos torna vulneráveis, dificultando a separação entre o que é nosso e o que pertence ao outro.

Na prática terapêutica, explorar essas fronteiras é fundamental para ajudar o cliente a perceber onde elas estão rígidas ou frouxas demais. Muitas vezes, esse processo envolve identificar e trabalhar com os chamados mecanismos de interrupção do contato.

Os Mecanismos de Interrupção do Contato

Ao longo da vida, desenvolvemos estratégias – nem sempre conscientes – para lidar com situações difíceis, mas que acabam atrapalhando o contato pleno com o mundo. São os chamados mecanismos de interrupção do contato. Entre os mais comuns, estão:

  1. Introjeção: Aceitamos ideias ou valores sem questionar se eles realmente fazem sentido para nós. Imagine seguir regras impostas pela sociedade ou pela família sem refletir sobre o quanto elas correspondem ao que você acredita.
  2. Projeção: Quando atribuímos ao outro aquilo que não queremos ou conseguimos reconhecer em nós mesmos. Por exemplo, sentir raiva, mas culpar alguém por “ser agressivo”.
  3. Confluência: Perder os próprios limites, tentando se adaptar ao outro de maneira exagerada, como se precisássemos sempre agradar ou evitar conflitos.
  4. Retroflexão: Redirecionar para si mesmo algo que gostaríamos de expressar externamente, como engolir um grito ou guardar uma mágoa.

Esses mecanismos são formas de proteção, mas também podem limitar nosso crescimento emocional. Identificá-los na terapia é o primeiro passo para superá-los.

O Vazio Fértil: Transformando o Desconhecido em Possibilidade

Quantas vezes você já se deparou com o vazio? Aquele momento em que algo acaba – um relacionamento, um trabalho, ou até mesmo uma fase da vida – e você não sabe o que vem a seguir. Esse vazio pode ser assustador, não é mesmo?

Na Gestalt-terapia, esse estado é conhecido como vazio fértil. Ele não é visto como algo a ser evitado, mas como um espaço de potencial criativo. É no vazio fértil que as possibilidades emergem, onde velhas certezas dão lugar ao novo.

Esse conceito é especialmente poderoso para lidar com transições ou crises. Quando abandonamos antigos padrões, crenças ou relações que já não fazem sentido, criamos espaço para que algo novo surja. Porém, isso exige coragem: habitar o vazio é desconfortável, porque significa abrir mão de controles ilusórios e permitir que a mudança aconteça.

Como esses conceitos se aplicam à Vida cotidiana?

Você já parou para pensar nas suas fronteiras de contato? Algumas reflexões práticas podem ajudar:

  • Em quais situações você sente dificuldade de dizer “não”? Isso pode indicar uma fronteira permeável.
  • Quando sente que precisa “erguer um muro” para se proteger, será que sua fronteira está rígida demais?
  • Como lida com as incertezas? Consegue enxergar o vazio como um lugar de transformação ou sente necessidade de preenchê-lo rapidamente com respostas prontas?

No contexto terapêutico, o papel do psicólogo é ajudar o cliente a flexibilizar suas fronteiras e a encarar o vazio fértil como uma oportunidade, e não como um obstáculo. Fora do consultório, esses conceitos também podem ser ferramentas poderosas para o autoconhecimento.

O que a Gestalt-terapia pode nos ensinar sobre Crescimento e autenticidade

O contato genuíno com o mundo e a capacidade de habitar o vazio fértil são habilidades que podem transformar nossa maneira de viver. Na prática, isso significa:

  • Estar mais presente no aqui e agora, sem se perder em preocupações com o passado ou o futuro.
  • Ser mais consciente de como você interage com as pessoas, com seus sentimentos e com as mudanças ao seu redor.
  • Encarar o vazio como parte natural da vida, um convite para crescer e se renovar.

E Você, Como Lida com Suas Fronteiras e Com o Vazio?

A Gestalt-terapia nos lembra que somos seres em constante interação com o mundo. Como você percebe suas próprias fronteiras de contato? Elas ajudam ou dificultam suas relações? E quando o vazio aparece, você consegue enxergá-lo como uma oportunidade de transformação?

Compartilhe suas reflexões nos comentários. Adoraríamos saber como você enxerga esses temas no seu dia a dia!

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia pleo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestal-terapia de Goiânia (ITGT - GO). Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Foi professor da PUC - GO e do ITGT - GO entre os anos de 2006 e 2011; Membro do Conselho Consultivo da Revista da Aborgagem Gestáitica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad - hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC - Minas); Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

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