A adolescência é um período de complexas mudanças neurofisiológicas, psicológicas, morfológicas, motoras, cognitivas que envolve processos primordiais: a definição da identidade (sexual e subjetiva), a independência, a emancipação dos pais e de todo sistema humano impositor de crenças, normas e comportamentos. É o tempo da oposição para a autoafirmação para que seja instaurado os próprios valores morais e éticos, o que suscita um constante conflito de poder entre um indivíduo e outro, e o ambiente.
Diante desses imensos e intensos dramas da afirmação do eu, os comportamentos transgressores se tornam consequência das atitudes egocêntricas e de onipotência do adolescente que, aliadas ao desejo de aventura, impulsiona-o a experimentar tudo e abuse de tudo (sexo, álcool, velocidade no trânsito), tendo comportamentos inadequados, agressivos e, muitas vezes, delinquentes.
O transtorno de conduta é diagnosticado quando o adolescente apresenta violência física e verbal frequentes, mentiras para obter bens e favores, para esquivar-se de obrigações; quando realiza furto, roubo com armas, destruição da propriedade alheia. Os comportamentos infratores desse adolescente consistem em infringir frequentemente normas da casa, fugir da escola, agredir colegas, humilhar, constranger aqueles que identifica como frágil, indefeso ou com alguma deficiência ou diferença na aparência.
Sua conduta pretende desafiar as leis, inverter a ordem social, destruir vínculos afetivos, nos quais enxerga amor, por inveja e ciúme. A vida escolar é repleta de fracasso com repetências e conflitos relacionais, em razão de resistir a ter qualquer conduta de cooperação e colaboração com a estrutura institucional.
O ambiente familiar, geralmente, é marcado por um padrão hostil de interação, com reclamações, ofensas, punições, inclusive violência física, em que a raiva se torna a emoção dominante. Os pais não lhe concederam o ensinamento do perdão e não lhe deram a oportunidade de reparação da conduta danosa, por isso, não lhe foi possível desenvolver a culpa, nem a sensibilidade com a dor alheia.
O transtorno de conduta é uma patologia da ausência de ética, da falta de valores morais, cujo cerne é a inexistência do sentimento empático. Os sentimentos de rejeição, medo, ciúme, inveja foram transformados em raiva e em impulsividade agressiva, devido às constantes frustrações oriundas de necessidades físicas e emocionais não satisfeitas que criaram uma profunda carência afetiva.
Por trás do fortão e temido adolescente, há uma criança ferida que lamenta a privação de carinho, a falta de reconhecimento de suas competências e a ausência de uma relação parental amorosa.
Sheila Antony – Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de Brasília (UNB). Fundadora e professora do Instituto de Gestalt‑terapia de Brasília (IGTB).
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