Teoria Organísmica e a Gestalt-terapia

  • post publicado em 13/02/25 às 15:20 PM
  • Tempo estimado de leitura: 4 minutos

 

Teoria Organísmica e a Gestalt-terapia

A Teoria Organísmica é um dos pilares fundamentais da Gestalt-terapia, fornecendo a base para a compreensão do ser humano como um todo integrado, em constante interação com seu ambiente. Essa teoria enfatiza que os processos psicológicos não podem ser separados das dimensões físicas e emocionais, e que o organismo busca naturalmente o equilíbrio e a autorregulação.

Mas como essa teoria se relaciona com a Gestalt-terapia? De que forma ela influencia o trabalho clínico? E por que é tão relevante para a compreensão do ser humano?

Neste artigo, vamos explorar os fundamentos da Teoria Organísmica, suas conexões com a Gestalt-terapia e as implicações para a prática clínica, trazendo uma reflexão clara e embasada nos principais teóricos da abordagem.

O Que é a Teoria Organísmica?

A Teoria Organísmica foi desenvolvida inicialmente por pesquisadores da Psicologia Humanista, como Kurt Goldstein e Carl Rogers, e propõe que o ser humano deve ser compreendido como um organismo unificado, onde mente, corpo e emoções formam uma totalidade indivisível.

Para a Teoria Organísmica, o organismo:

🔹 É um todo integrado – Não faz sentido separar aspectos físicos, emocionais e cognitivos; todos fazem parte de um mesmo sistema (Goldstein, 1934).

🔹 Busca a autorregulação – O organismo tem a capacidade inata de se reorganizar para manter o equilíbrio e a saúde (Perls, 1951).

🔹 Se adapta ao ambiente – O ser humano responde ao contexto em que está inserido e ajusta seu comportamento conforme suas necessidades (Rogers, 1959).

🔹 Possui uma tendência ao crescimento – O indivíduo busca naturalmente desenvolver-se e atingir sua plenitude (Maslow, 1968).

Esses conceitos são essenciais para a Gestalt-terapia, pois sustentam a ideia de que o ser humano não deve ser fragmentado em diagnósticos e sintomas isolados, mas sim visto como um todo em constante movimento e interação com o mundo.

A Conexão Entre Teoria Organísmica e Gestalt-terapia

A Gestalt-terapia, desenvolvida por Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman, foi profundamente influenciada pela Teoria Organísmica. O conceito de que o ser humano é um organismo unificado, em busca de equilíbrio e crescimento, é a base de muitos princípios gestálticos.

Principais Pontos de Convergência

1️⃣ O Organismo Como Um Todo
Assim como a Teoria Organísmica, a Gestalt-terapia vê o ser humano como um sistema integrado, no qual emoções, pensamentos e sensações corporais estão interligados.

“A pessoa total deve ser levada em consideração, pois mente e corpo não podem ser separados” (Perls, 1969).

2️⃣ A Autorregulação Organísmica
A Gestalt-terapia enfatiza a autorregulação, ou seja, a capacidade do indivíduo de encontrar um equilíbrio saudável ao reconhecer suas necessidades e satisfazê-las de maneira espontânea.

“O organismo sempre se ajusta criativamente ao ambiente para manter seu equilíbrio” (Perls, Hefferline & Goodman, 1951).

3️⃣ A Importância do Contato
O contato com o ambiente é essencial para a sobrevivência e crescimento do organismo. A Gestalt-terapia explora como os indivíduos estabelecem e interrompem contato em seus relacionamentos e experiências.

“O contato é a base da existência, pois é por meio dele que o indivíduo se relaciona com o mundo” (Robine, 2011).

4️⃣ O Ajustamento Criativo
A Teoria Organísmica sugere que os indivíduos encontram formas criativas de se adaptar ao ambiente. Na Gestalt-terapia, isso significa que comportamentos disfuncionais muitas vezes são respostas adaptativas a circunstâncias adversas.

“Toda resposta humana, mesmo a patológica, é uma tentativa de adaptação e deve ser compreendida dentro de seu contexto” (Latner, 1973).

Implicações para a Prática Clínica

A aplicação da Teoria Organísmica na Gestalt-terapia traz implicações importantes para o trabalho terapêutico:

1. Foco na Experiência Total do Cliente

O terapeuta gestáltico observa não apenas o que o cliente diz, mas também como ele se expressa corporalmente, emocionalmente e relacionalmente.

2. Exploração da Consciência Corporal

A Gestalt-terapia convida o cliente a perceber suas sensações físicas, tensões e bloqueios, pois o corpo reflete aspectos psicológicos inconscientes.

“O corpo expressa o que as palavras não dizem” (Perls, 1973).

3. Estímulo à Responsabilidade Pessoal

Ao compreender que o organismo busca equilíbrio por conta própria, o cliente é incentivado a assumir um papel ativo em seu próprio processo de cura.

4. Identificação de Interrupções no Ciclo de Contato

A Gestalt-terapia ajuda a identificar como o cliente interrompe seu processo natural de autorregulação, seja por bloqueios emocionais, traumas ou crenças limitantes.

5. Fortalecimento da Espontaneidade e Criatividade

A terapia convida o cliente a explorar novas formas de se expressar e interagir com o mundo, ampliando seu repertório de respostas ao ambiente.

A Teoria Organísmica na Atualidade

A Teoria Organísmica continua sendo relevante para a Gestalt-terapia moderna, especialmente nos seguintes contextos:

📌 Psicoterapia Somática – Muitas abordagens contemporâneas, como a terapia corporal e a bioenergética, trabalham com a integração entre mente e corpo.

📌 Terapia de Trauma – A compreensão do organismo como um sistema autorregulado auxilia no tratamento de traumas, pois reconhece que a cura passa pelo corpo tanto quanto pela mente.

📌 Psicologia da Saúde – A Gestalt-terapia tem sido aplicada na psicologia hospitalar e na promoção da saúde, reforçando a importância do equilíbrio entre corpo e mente.

📌 Neurociências e Psicoterapia – Estudos sobre regulação emocional e neuroplasticidade reforçam a ideia de que o organismo tem capacidade de adaptação e cura.

Conclusão

A Teoria Organísmica é essencial para a Gestalt-terapia, pois fornece uma base para compreender o ser humano como um todo integrado, que busca equilíbrio e crescimento através da interação com o ambiente.

Na prática clínica, essa perspectiva permite um olhar mais abrangente e humanizado, ajudando o cliente a se reconectar consigo mesmo e com suas necessidades.

Ao reconhecer que o organismo possui mecanismos naturais de autorregulação, o terapeuta pode auxiliar o cliente a reencontrar sua capacidade inata de adaptação, espontaneidade e crescimento.

E você?

Como percebe a influência da Teoria Organísmica na prática da Gestalt-terapia? Já utilizou esse conceito na sua experiência clínica? Compartilhe sua opinião nos comentários! 😊

Referências

  • Goldstein, K. (1934). The Organism: A Holistic Approach to Biology Derived from Pathological Data in Man.
  • Rogers, C. (1959). A Theory of Therapy, Personality, and Interpersonal Relationships as Developed in the Client-Centered Framework.
  • Maslow, A. (1968). Toward a Psychology of Being.
  • Perls, F., Hefferline, R., & Goodman, P. (1951). Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality.
  • Perls, F. (1969). Gestalt Therapy Verbatim.
  • Robine, J.-M. (2011). Contact and Relationship in a Field Perspective.
  • Latner, J. (1973). The Gestalt Therapy Book.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia pleo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestal-terapia de Goiânia (ITGT - GO). Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Foi professor da PUC - GO e do ITGT - GO entre os anos de 2006 e 2011; Membro do Conselho Consultivo da Revista da Aborgagem Gestáitica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad - hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC - Minas); Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

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