TDAH o que é e como lidar, em adultos e crianças

  • post publicado em 02/10/25 às 16:59 PM
  • Tempo estimado de leitura: 5 minutos

 

TDAH em adultos e crianças: o que é e como lidar

Introdução

Quem nunca ouviu frases como:
“Meu filho não para quieto um segundo!”
ou “Parece que minha cabeça nunca desliga, começo mil coisas e não termino nenhuma.”

Essas situações, que para alguns podem parecer apenas falta de disciplina ou distração, podem estar relacionadas ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O TDAH é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais discutidos atualmente. Muito se fala sobre ele em crianças, mas ainda é pouco conhecido o impacto que pode ter na vida adulta. O que muitas pessoas não sabem é que o TDAH não “desaparece” com o tempo: ele acompanha o indivíduo, com sintomas que mudam de intensidade e forma ao longo da vida.

Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), cerca de 5 a 7% das crianças apresentam o transtorno, e entre 2,5 a 4% dos adultos seguem convivendo com ele.

Mas afinal: como identificar o TDAH? Quais são os desafios que ele traz para crianças e adultos? E principalmente: como lidar com ele no cotidiano, com apoio profissional e estratégias práticas?

O que é o TDAH?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é caracterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que interfere no funcionamento diário e no desenvolvimento.

Importante destacar: todos nós podemos ser distraídos ou agitados em alguns momentos. A diferença está na intensidade, na frequência e, principalmente, no impacto na vida.

Principais sintomas

  • Desatenção: dificuldade de manter o foco em tarefas, esquecimentos frequentes, desorganização.
  • Hiperatividade: inquietação motora, dificuldade de permanecer sentado, sensação interna de agitação.
  • Impulsividade: dificuldade de esperar a vez, interrupção de conversas, decisões precipitadas.

O TDAH não é um “capricho” da criança ou “falta de maturidade” do adulto. Ele tem origem neurobiológica, com estudos apontando alterações em regiões do cérebro ligadas à atenção, ao controle inibitório e à autorregulação.

TDAH em crianças: os primeiros sinais

Imagine uma criança que:

  • começa a lição de casa, mas se perde no meio e não termina,
  • esquece o material escolar quase todos os dias,
  • se levanta a todo instante da carteira, atrapalhando a aula,
  • fala sem parar e responde antes mesmo da pergunta terminar.

Esses comportamentos podem ser sinais de TDAH.

Os sintomas geralmente aparecem antes dos 12 anos e são percebidos em diferentes contextos: em casa, na escola, em atividades sociais. Não é raro que o primeiro alerta venha de professores, que notam dificuldade de concentração, inquietude ou queda no rendimento.

Um detalhe importante: o TDAH não afeta a inteligência da criança. Pelo contrário, muitas são criativas e inteligentes, mas a dificuldade em manter o foco e organizar tarefas compromete o desempenho escolar.

TDAH em adultos: quando os sintomas continuam

Muitos acreditam que o TDAH “fica para trás” com o crescimento. Mas a realidade é outra.
Na vida adulta, os sintomas mudam de forma, mas permanecem presentes.

Exemplos comuns:

  • dificuldade em cumprir prazos no trabalho,
  • sensação de ter várias ideias ao mesmo tempo e não conseguir colocá-las em prática,
  • esquecimento de compromissos e contas a pagar,
  • impulsividade em compras ou decisões apressadas,
  • dificuldade em manter relacionamentos por falta de organização e atenção ao outro.

Quantos adultos não dizem: “Minha cabeça não para, parece que eu vivo no piloto automático”? Essa é uma descrição típica do TDAH.

Além disso, o impacto na autoestima é enorme. Muitos crescem ouvindo que são “preguiçosos” ou “irresponsáveis”, quando na verdade convivem com um transtorno que não foi identificado a tempo.

Mitos e verdades sobre o TDAH

  1. “É só falta de disciplina.”
    ❌ Mito. O TDAH é um transtorno neurobiológico, não consequência de má criação.
  2. “Crianças com TDAH são menos inteligentes.”
    ❌ Mito. Inteligência e TDAH não estão ligados. O que muda é a capacidade de regular atenção e comportamento.
  3. “O TDAH desaparece na adolescência.”
    ❌ Mito. Ele pode mudar de forma, mas frequentemente persiste na vida adulta.
  4. “Todo mundo é distraído, logo todo mundo tem TDAH.”
    ❌ Mito. Distração ocasional é normal. O TDAH é persistente, generalizado e incapacitante.

Impactos do TDAH

Na escola

  • Queda no rendimento, mesmo com esforço.
  • Dificuldade em seguir instruções.
  • Problemas de comportamento por não conseguir se controlar.

No trabalho

  • Dificuldade em organizar tarefas complexas.
  • Esquecimento de prazos e detalhes.
  • Conflitos com colegas devido à impulsividade.

Nos relacionamentos

  • Esquecimento de compromissos importantes (datas, encontros).
  • Interrupção constante em conversas.
  • Dificuldade de manter estabilidade.

Exemplos do cotidiano

  • A criança sai para pegar o caderno e volta brincando com outra coisa, esquecendo completamente a tarefa inicial.
  • O adulto que começa a limpar a casa, mas no meio do processo abre o celular, entra no e-mail e deixa tudo pela metade.
  • O profissional que tem ideias incríveis em reuniões, mas não consegue estruturar um projeto até o fim.

São situações que parecem banais, mas que, quando frequentes, causam frustração e sofrimento.

Abordagens terapêuticas e tratamento

O tratamento do TDAH deve ser multidisciplinar, combinando psicoterapia, intervenções educativas e, em alguns casos, acompanhamento psiquiátrico.

Psicoterapia

  • TCC: auxilia na organização, planejamento e mudança de padrões de pensamento.
  • Gestalt-terapia: favorece a consciência do aqui e agora e a autoaceitação.
  • Psicanálise: explora aspectos emocionais e inconscientes relacionados ao sintoma.
  • Abordagens humanistas: fortalecem a autoestima e o sentido de vida.
  • ACT e Mindfulness: trabalham foco, aceitação e estratégias de autorregulação.

Intervenções educacionais

  • Adequação pedagógica.
  • Apoio da escola em organização e supervisão.
  • Treino de habilidades sociais.

Família

  • Orientação parental.
  • Estabelecimento de rotinas.
  • Reforço positivo em vez de punição excessiva.

Em alguns casos

  • Medicação prescrita por psiquiatra, que pode ajudar no controle da atenção e impulsividade.

O papel do psicólogo

O psicólogo é fundamental no processo. Ele ajuda a identificar os sintomas, orientar a família, trabalhar estratégias práticas no cotidiano e fortalecer a autoestima do paciente.

Como ressalta o Dr. Danilo Suassuna, psicólogo, doutor  em Psicologia:

“O TDAH não é um rótulo, mas uma forma de compreender desafios que muitas pessoas enfrentam. O diagnóstico abre portas para apoio adequado e reduz a culpa que acompanha quem sempre ouviu que não se esforçava o suficiente. Psicologia atuante significa oferecer ciência e acolhimento, lado a lado.”

Quando buscar ajuda?

  • Quando os sintomas de desatenção ou hiperatividade atrapalham a vida escolar, profissional ou social.
  • Quando a criança sofre críticas constantes sem melhorar o desempenho.
  • Quando o adulto sente que está sempre atrasado, improdutivo ou frustrado com seus resultados.
  • Quando a impulsividade causa prejuízos financeiros, afetivos ou de saúde.

Conclusão

O TDAH é real, impacta milhões de vidas e exige compreensão, apoio e tratamento especializado.
Com psicoterapia, intervenções educativas e, quando necessário, medicação, é possível transformar o cotidiano e recuperar qualidade de vida.

No Todos Cuidados, você encontra psicólogos especializados para ajudar crianças e adultos a lidar com o TDAH de forma humana e eficaz.

E se você é psicólogo e deseja ampliar sua atuação clínica, investir em uma especialização em psicologia ou uma pós em psicologia é fundamental. Essa formação oferece recursos para compreender profundamente transtornos do neurodesenvolvimento, ajudando a transformar histórias e trajetórias.

 Referências

  • American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM-5-TR. 5ª ed. Arlington, VA: American Psychiatric Association; 2022.
  • World Health Organization (WHO). Attention-deficit hyperactivity disorder (ADHD). Geneva: WHO, 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/attention-deficit-hyperactivity-disorder-(adhd)
  • Polanczyk GV, Willcutt EG, Salum GA, Kieling C, Rohde LA. ADHD prevalence estimates across three decades: an updated systematic review and meta-regression analysis. Int J Epidemiol. 2014;43(2):434–42. doi:10.1093/ije/dyt261
  • Faraone SV, Biederman J, Mick E. The age-dependent decline of attention deficit hyperactivity disorder: a meta-analysis of follow-up studies. Psychol Med. 2006;36(2):159–65. doi:10.1017/S003329170500471X
  • Thapar A, Cooper M. Attention deficit hyperactivity disorder. Lancet. 2016;387(10024):1240–50. doi:10.1016/S0140-6736(15)00238-X
  • Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA). Diretrizes sobre TDAH. São Paulo: ABDA, 2023. Disponível em: https://tdah.org.br
  • Rohde LA, Barbosa G, Tramontina S, Polanczyk G. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Rev Bras Psiquiatr. 2000;22(supl II):7–11. doi:10.1590/S1516-44462000000600003
  • Barkley RA. Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. 4th ed. New York: Guilford Press; 2014.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527