

TDAH em adultos e crianças: o que é e como lidar
Introdução
Quem nunca ouviu frases como:
“Meu filho não para quieto um segundo!”
ou “Parece que minha cabeça nunca desliga, começo mil coisas e não termino nenhuma.”
Essas situações, que para alguns podem parecer apenas falta de disciplina ou distração, podem estar relacionadas ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O TDAH é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais discutidos atualmente. Muito se fala sobre ele em crianças, mas ainda é pouco conhecido o impacto que pode ter na vida adulta. O que muitas pessoas não sabem é que o TDAH não “desaparece” com o tempo: ele acompanha o indivíduo, com sintomas que mudam de intensidade e forma ao longo da vida.
Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), cerca de 5 a 7% das crianças apresentam o transtorno, e entre 2,5 a 4% dos adultos seguem convivendo com ele.
Mas afinal: como identificar o TDAH? Quais são os desafios que ele traz para crianças e adultos? E principalmente: como lidar com ele no cotidiano, com apoio profissional e estratégias práticas?
O que é o TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é caracterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que interfere no funcionamento diário e no desenvolvimento.
Importante destacar: todos nós podemos ser distraídos ou agitados em alguns momentos. A diferença está na intensidade, na frequência e, principalmente, no impacto na vida.
Principais sintomas
- Desatenção: dificuldade de manter o foco em tarefas, esquecimentos frequentes, desorganização.
- Hiperatividade: inquietação motora, dificuldade de permanecer sentado, sensação interna de agitação.
- Impulsividade: dificuldade de esperar a vez, interrupção de conversas, decisões precipitadas.
O TDAH não é um “capricho” da criança ou “falta de maturidade” do adulto. Ele tem origem neurobiológica, com estudos apontando alterações em regiões do cérebro ligadas à atenção, ao controle inibitório e à autorregulação.
TDAH em crianças: os primeiros sinais
Imagine uma criança que:
- começa a lição de casa, mas se perde no meio e não termina,
- esquece o material escolar quase todos os dias,
- se levanta a todo instante da carteira, atrapalhando a aula,
- fala sem parar e responde antes mesmo da pergunta terminar.
Esses comportamentos podem ser sinais de TDAH.
Os sintomas geralmente aparecem antes dos 12 anos e são percebidos em diferentes contextos: em casa, na escola, em atividades sociais. Não é raro que o primeiro alerta venha de professores, que notam dificuldade de concentração, inquietude ou queda no rendimento.
Um detalhe importante: o TDAH não afeta a inteligência da criança. Pelo contrário, muitas são criativas e inteligentes, mas a dificuldade em manter o foco e organizar tarefas compromete o desempenho escolar.
TDAH em adultos: quando os sintomas continuam
Muitos acreditam que o TDAH “fica para trás” com o crescimento. Mas a realidade é outra.
Na vida adulta, os sintomas mudam de forma, mas permanecem presentes.
Exemplos comuns:
- dificuldade em cumprir prazos no trabalho,
- sensação de ter várias ideias ao mesmo tempo e não conseguir colocá-las em prática,
- esquecimento de compromissos e contas a pagar,
- impulsividade em compras ou decisões apressadas,
- dificuldade em manter relacionamentos por falta de organização e atenção ao outro.
Quantos adultos não dizem: “Minha cabeça não para, parece que eu vivo no piloto automático”? Essa é uma descrição típica do TDAH.
Além disso, o impacto na autoestima é enorme. Muitos crescem ouvindo que são “preguiçosos” ou “irresponsáveis”, quando na verdade convivem com um transtorno que não foi identificado a tempo.
Mitos e verdades sobre o TDAH
- “É só falta de disciplina.”
❌ Mito. O TDAH é um transtorno neurobiológico, não consequência de má criação. - “Crianças com TDAH são menos inteligentes.”
❌ Mito. Inteligência e TDAH não estão ligados. O que muda é a capacidade de regular atenção e comportamento. - “O TDAH desaparece na adolescência.”
❌ Mito. Ele pode mudar de forma, mas frequentemente persiste na vida adulta. - “Todo mundo é distraído, logo todo mundo tem TDAH.”
❌ Mito. Distração ocasional é normal. O TDAH é persistente, generalizado e incapacitante.
Impactos do TDAH
Na escola
- Queda no rendimento, mesmo com esforço.
- Dificuldade em seguir instruções.
- Problemas de comportamento por não conseguir se controlar.
No trabalho
- Dificuldade em organizar tarefas complexas.
- Esquecimento de prazos e detalhes.
- Conflitos com colegas devido à impulsividade.
Nos relacionamentos
- Esquecimento de compromissos importantes (datas, encontros).
- Interrupção constante em conversas.
- Dificuldade de manter estabilidade.
Exemplos do cotidiano
- A criança sai para pegar o caderno e volta brincando com outra coisa, esquecendo completamente a tarefa inicial.
- O adulto que começa a limpar a casa, mas no meio do processo abre o celular, entra no e-mail e deixa tudo pela metade.
- O profissional que tem ideias incríveis em reuniões, mas não consegue estruturar um projeto até o fim.
São situações que parecem banais, mas que, quando frequentes, causam frustração e sofrimento.
Abordagens terapêuticas e tratamento
O tratamento do TDAH deve ser multidisciplinar, combinando psicoterapia, intervenções educativas e, em alguns casos, acompanhamento psiquiátrico.
Psicoterapia
- TCC: auxilia na organização, planejamento e mudança de padrões de pensamento.
- Gestalt-terapia: favorece a consciência do aqui e agora e a autoaceitação.
- Psicanálise: explora aspectos emocionais e inconscientes relacionados ao sintoma.
- Abordagens humanistas: fortalecem a autoestima e o sentido de vida.
- ACT e Mindfulness: trabalham foco, aceitação e estratégias de autorregulação.
Intervenções educacionais
- Adequação pedagógica.
- Apoio da escola em organização e supervisão.
- Treino de habilidades sociais.
Família
- Orientação parental.
- Estabelecimento de rotinas.
- Reforço positivo em vez de punição excessiva.
Em alguns casos
- Medicação prescrita por psiquiatra, que pode ajudar no controle da atenção e impulsividade.
O papel do psicólogo
O psicólogo é fundamental no processo. Ele ajuda a identificar os sintomas, orientar a família, trabalhar estratégias práticas no cotidiano e fortalecer a autoestima do paciente.
Como ressalta o Dr. Danilo Suassuna, psicólogo, doutor em Psicologia:
“O TDAH não é um rótulo, mas uma forma de compreender desafios que muitas pessoas enfrentam. O diagnóstico abre portas para apoio adequado e reduz a culpa que acompanha quem sempre ouviu que não se esforçava o suficiente. Psicologia atuante significa oferecer ciência e acolhimento, lado a lado.”
Quando buscar ajuda?
- Quando os sintomas de desatenção ou hiperatividade atrapalham a vida escolar, profissional ou social.
- Quando a criança sofre críticas constantes sem melhorar o desempenho.
- Quando o adulto sente que está sempre atrasado, improdutivo ou frustrado com seus resultados.
- Quando a impulsividade causa prejuízos financeiros, afetivos ou de saúde.
Conclusão
O TDAH é real, impacta milhões de vidas e exige compreensão, apoio e tratamento especializado.
Com psicoterapia, intervenções educativas e, quando necessário, medicação, é possível transformar o cotidiano e recuperar qualidade de vida.
No Todos Cuidados, você encontra psicólogos especializados para ajudar crianças e adultos a lidar com o TDAH de forma humana e eficaz.
E se você é psicólogo e deseja ampliar sua atuação clínica, investir em uma especialização em psicologia ou uma pós em psicologia é fundamental. Essa formação oferece recursos para compreender profundamente transtornos do neurodesenvolvimento, ajudando a transformar histórias e trajetórias.
Referências
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