

Síndrome do impostor ou realidade? Como diferenciar — e o que fazer
Você já se sentiu pequeno diante de um novo desafio?
Como se, de repente, estivesse em um lugar grande demais para caber dentro da sua experiência?
Esse é um sentimento comum.
Muita gente chama de síndrome do impostor.
Mas será que sempre é isso mesmo?
Ou será apenas a ansiedade natural de estar diante de algo novo, maior, desafiador?
O que é, de fato, a síndrome do impostor
Em 1978, as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes cunharam o termo impostor phenomenon.
Elas observaram pessoas altamente competentes, com conquistas claras, mas que se sentiam como fraudes.
É aquele pensamento: “Um dia vão descobrir que não sou tão bom assim.”
Esse não é um capricho mental. É um padrão que envolve insegurança, perfeccionismo e medo de falhar.
Pesquisas atuais mostram que está associado à ansiedade, à baixa autoestima e, em muitos casos, a ambientes de alta cobrança.
Mas será que tudo é síndrome?
Não, nem sempre.
Do ponto de vista psicológico, é esperado que o sujeito se sinta inseguro quando confrontado com situações novas.
Essas emoções não são sintomas patológicos, mas manifestações naturais do processo de adaptação.
O medo, a ansiedade e a dúvida funcionam como sinais internos de que estamos atravessando um território desconhecido. Eles alertam para a necessidade de desenvolver novas habilidades, reorganizar expectativas e, muitas vezes, recalcular a rota.
Como doutor em Psicologia, afirmo: sentir desconforto diante do novo não é sinal de fraqueza. É um componente estrutural da condição humana. Sem essa tensão, não haveria crescimento.
Como diferenciar síndrome e realidade?
Pergunta importante: como saber se é impostor ou apenas realidade?
Três pistas ajudam a responder:
- Evidência x narrativa: se há provas claras de competência (feedbacks positivos, conquistas, resultados) mas você insiste em se ver como fraude, é provável que seja fenômeno do impostor. Se, por outro lado, existem lacunas reais de conhecimento, pode ser apenas a percepção correta de que é hora de aprender mais.
- Persistência e impacto: o frio na barriga antes de uma apresentação é natural. Mas se a dúvida é crônica, leva à procrastinação e faz você recusar oportunidades, já não é apenas ansiedade adaptativa.
- Origem interna x externa: no fenômeno do impostor, a origem é interna (“não sou capaz”). Já a avaliação realista leva a ação prática (“preciso estudar isso”, “vou buscar supervisão”).
Exemplos do dia a dia
Talvez você já tenha vivido isso:
No primeiro dia de um novo trabalho, pensou: “não vou dar conta”.
Ou no início de uma pós-graduação, sentiu que todo mundo sabia mais do que você.
Esses momentos não significam que você seja uma fraude.
Significam apenas que você está em movimento, atravessando a curva natural de adaptação.
O que a ciência mostra que ajuda
Estudos apontam caminhos para lidar melhor com esse sofrimento:
- Antifragilidade: aprender a se beneficiar do caos. Como aponta Nassim Nicholas Taleb em Antifrágil, a vida não é apenas sobre resistir ao impacto, mas sobre crescer a partir dele. Os momentos de instabilidade são convites a expandir capacidades.
- Psicoeducação: entender o que é o fenômeno já alivia a vergonha.
- Terapia: em diferentes abordagens, a psicoterapia oferece espaço para reconhecer crenças limitantes, elaborar inseguranças e criar novas formas de enfrentamento.
- Mentoria e supervisão: ouvir feedback específico de alguém mais experiente ajuda a alinhar a percepção interna com a realidade externa.
Uma pausa para refletir
E se, no fundo, o que você chama de “síndrome” for apenas a ansiedade saudável de estar crescendo?
E se, em vez de tentar eliminar o medo, o caminho for aprender a ser antifrágil — isto é, a se tornar mais forte justamente porque enfrentou a adversidade?
Por fim…
No início, tudo parece confuso.
É como se estivéssemos em um barco pequeno, lançado em um mar maior do que imaginávamos.
Um exemplo comum: uma pessoa começa em uma empresa grande e passa os primeiros dias pensando que logo alguém descobrirá que ela não deveria estar ali.
Mas, no final da primeira semana, recebe elogios pelo desempenho. O que pesava não era a falta de capacidade, mas a cobrança interna.
Eu, Dr. Danilo Suassuna, costumo dizer em minhas aulas:
“Sentir-se deslocado diante do novo não é doença. É apenas a vida pedindo para você se preparar, reorganizar e aprender.”
E aqui cabe a sabedoria simples de um ditado que sempre ouvi em família: “no andar da carruagem, as abóboras se ajeitam”.
Com o tempo, o que parecia pesado demais encontra seu lugar, dentro e fora de nós.
Sentir não é sinal de fraqueza. É sinal de humanidade.
E buscar apoio não é desistir, é escolher caminhar com mais leveza.
No Todos Cuidados, você encontra psicólogos preparados para caminhar ao seu lado.
E se você é psicólogo e quer transformar insegurança em atuação prática, o Instituto Suassuna está de portas abertas para formar profissionais atuantes, prontos para os desafios reais da vida.
📚 Referências
- Clance, P. R., & Imes, S. A. (1978). The impostor phenomenon in high achieving women: Dynamics and therapeutic intervention. Psychotherapy: Theory, Research & Practice, 15(3), 241–247.
- Bravata, D. M., Watts, S. A., Keefer, A. L., Madhusudhan, D. K., Taylor, K. T., Clark, D. M., Nelson, R. S., & Cokley, K. O. (2020). Prevalence, predictors, and treatment of impostor syndrome: A systematic review. Journal of General Internal Medicine, 35, 1252–1275.
- Neureiter, M., & Traut-Mattausch, E. (2016). Inspecting the dangers of feeling like a fake: An empirical investigation of the impostor phenomenon in the world of work. Frontiers in Psychology, 7, 1445.
- Muradoglu, S., & Fikretoglu, D. (2023). Impostor phenomenon and mental health: A meta-analysis. Clinical Psychology Review, 99, 102255.
- Taleb, N. N. (2012). Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos. Rio de Janeiro: Best Business.