Síndrome do impostor ou realidade

  • post publicado em 02/10/25 às 16:58 PM
  • Tempo estimado de leitura: 4 minutos

 

Síndrome do impostor ou realidade? Como diferenciar — e o que fazer

Você já se sentiu pequeno diante de um novo desafio?
Como se, de repente, estivesse em um lugar grande demais para caber dentro da sua experiência?

Esse é um sentimento comum.
Muita gente chama de síndrome do impostor.
Mas será que sempre é isso mesmo?
Ou será apenas a ansiedade natural de estar diante de algo novo, maior, desafiador?

O que é, de fato, a síndrome do impostor

Em 1978, as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes cunharam o termo impostor phenomenon.
Elas observaram pessoas altamente competentes, com conquistas claras, mas que se sentiam como fraudes.

É aquele pensamento: “Um dia vão descobrir que não sou tão bom assim.”

Esse não é um capricho mental. É um padrão que envolve insegurança, perfeccionismo e medo de falhar.
Pesquisas atuais mostram que está associado à ansiedade, à baixa autoestima e, em muitos casos, a ambientes de alta cobrança.

Mas será que tudo é síndrome?

Não, nem sempre.

Do ponto de vista psicológico, é esperado que o sujeito se sinta inseguro quando confrontado com situações novas.
Essas emoções não são sintomas patológicos, mas manifestações naturais do processo de adaptação.

O medo, a ansiedade e a dúvida funcionam como sinais internos de que estamos atravessando um território desconhecido. Eles alertam para a necessidade de desenvolver novas habilidades, reorganizar expectativas e, muitas vezes, recalcular a rota.

Como doutor em Psicologia, afirmo: sentir desconforto diante do novo não é sinal de fraqueza. É um componente estrutural da condição humana. Sem essa tensão, não haveria crescimento.

Como diferenciar síndrome e realidade?

Pergunta importante: como saber se é impostor ou apenas realidade?

Três pistas ajudam a responder:

  1. Evidência x narrativa: se há provas claras de competência (feedbacks positivos, conquistas, resultados) mas você insiste em se ver como fraude, é provável que seja fenômeno do impostor. Se, por outro lado, existem lacunas reais de conhecimento, pode ser apenas a percepção correta de que é hora de aprender mais.
  2. Persistência e impacto: o frio na barriga antes de uma apresentação é natural. Mas se a dúvida é crônica, leva à procrastinação e faz você recusar oportunidades, já não é apenas ansiedade adaptativa.
  3. Origem interna x externa: no fenômeno do impostor, a origem é interna (“não sou capaz”). Já a avaliação realista leva a ação prática (“preciso estudar isso”, “vou buscar supervisão”).

Exemplos do dia a dia

Talvez você já tenha vivido isso:
No primeiro dia de um novo trabalho, pensou: “não vou dar conta”.
Ou no início de uma pós-graduação, sentiu que todo mundo sabia mais do que você.

Esses momentos não significam que você seja uma fraude.
Significam apenas que você está em movimento, atravessando a curva natural de adaptação.

O que a ciência mostra que ajuda

Estudos apontam caminhos para lidar melhor com esse sofrimento:

  • Antifragilidade: aprender a se beneficiar do caos. Como aponta Nassim Nicholas Taleb em Antifrágil, a vida não é apenas sobre resistir ao impacto, mas sobre crescer a partir dele. Os momentos de instabilidade são convites a expandir capacidades.
  • Psicoeducação: entender o que é o fenômeno já alivia a vergonha.
  • Terapia: em diferentes abordagens, a psicoterapia oferece espaço para reconhecer crenças limitantes, elaborar inseguranças e criar novas formas de enfrentamento.
  • Mentoria e supervisão: ouvir feedback específico de alguém mais experiente ajuda a alinhar a percepção interna com a realidade externa.

Uma pausa para refletir

E se, no fundo, o que você chama de “síndrome” for apenas a ansiedade saudável de estar crescendo?
E se, em vez de tentar eliminar o medo, o caminho for aprender a ser antifrágil — isto é, a se tornar mais forte justamente porque enfrentou a adversidade?

Por fim…

No início, tudo parece confuso.
É como se estivéssemos em um barco pequeno, lançado em um mar maior do que imaginávamos.

Um exemplo comum: uma pessoa começa em uma empresa grande e passa os primeiros dias pensando que logo alguém descobrirá que ela não deveria estar ali.
Mas, no final da primeira semana, recebe elogios pelo desempenho. O que pesava não era a falta de capacidade, mas a cobrança interna.

Eu, Dr. Danilo Suassuna, costumo dizer em minhas aulas:
“Sentir-se deslocado diante do novo não é doença. É apenas a vida pedindo para você se preparar, reorganizar e aprender.”

E aqui cabe a sabedoria simples de um ditado que sempre ouvi em família: “no andar da carruagem, as abóboras se ajeitam”.
Com o tempo, o que parecia pesado demais encontra seu lugar, dentro e fora de nós.

Sentir não é sinal de fraqueza. É sinal de humanidade.
E buscar apoio não é desistir, é escolher caminhar com mais leveza.

No Todos Cuidados, você encontra psicólogos preparados para caminhar ao seu lado.
E se você é psicólogo e quer transformar insegurança em atuação prática, o Instituto Suassuna está de portas abertas para formar profissionais atuantes, prontos para os desafios reais da vida.


📚 Referências

  • Clance, P. R., & Imes, S. A. (1978). The impostor phenomenon in high achieving women: Dynamics and therapeutic intervention. Psychotherapy: Theory, Research & Practice, 15(3), 241–247.
  • Bravata, D. M., Watts, S. A., Keefer, A. L., Madhusudhan, D. K., Taylor, K. T., Clark, D. M., Nelson, R. S., & Cokley, K. O. (2020). Prevalence, predictors, and treatment of impostor syndrome: A systematic review. Journal of General Internal Medicine, 35, 1252–1275.
  • Neureiter, M., & Traut-Mattausch, E. (2016). Inspecting the dangers of feeling like a fake: An empirical investigation of the impostor phenomenon in the world of work. Frontiers in Psychology, 7, 1445.
  • Muradoglu, S., & Fikretoglu, D. (2023). Impostor phenomenon and mental health: A meta-analysis. Clinical Psychology Review, 99, 102255.
  • Taleb, N. N. (2012). Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos. Rio de Janeiro: Best Business.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

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