Rapunzel e o mito do amor romântico 

  • post publicado em 08/07/24 às 10:26 AM
  • Tempo estimado de leitura: 3 minutos

 

Flynn Rider, também conhecido como Eugene Fitzherbert, é um personagem icônico do filme “Enrolados” (Tangled) da Disney. Sua personalidade complexa oferece uma perspectiva interessante sobre o mito do amor romântico e como ele é retratado em diferentes personagens da Disney.

Personalidade de Flynn Rider

Flynn Rider é apresentado inicialmente como um ladrão charmoso e egoísta, obcecado por riqueza e status. Ele é astuto e usa sua inteligência para fugir das autoridades e realizar seus planos. Sua principal motivação no início do filme é recuperar a tiara roubada de Rapunzel, demonstrando seu foco em bens materiais e poder.

Contudo, à medida que Flynn passa mais tempo com Rapunzel, ele revela uma faceta mais vulnerável e compassiva. Ele começa a valorizar o relacionamento que desenvolve com ela, mostrando que sua bravata inicial esconde um desejo por conexão e autenticidade. Eventualmente, Flynn se transforma em um herói altruísta, disposto a sacrificar tudo por Rapunzel.

Segundo Carl Rogers, um dos fundadores da psicologia humanista, a autoatualização é um processo contínuo de realização do potencial próprio e do crescimento pessoal. Flynn Rider exemplifica esse processo ao evoluir de um ladrão egoísta para um indivíduo altruísta e conectado emocionalmente【Rogers, 1959】.

Relacionamento com o Mito do Amor Romântico

Flynn Rider encapsula muitas das características do mito do amor romântico, que é uma narrativa idealizada e muitas vezes irrealista sobre como o amor deve ser. Este mito sugere que o amor verdadeiro pode transformar uma pessoa, fazendo com que abandonem suas falhas e egoísmos em prol de um relacionamento perfeito e harmonioso. O arco de Flynn reflete essa transformação dramática, onde o amor e a convivência com Rapunzel o fazem redescobrir sua verdadeira identidade e valores.

De acordo com a teoria do amor de Sternberg, o amor completo é composto por três componentes: intimidade, paixão e compromisso【Sternberg, 1986】. A transformação de Flynn pode ser vista como a progressão através desses componentes, conforme ele desenvolve intimidade e compromisso com Rapunzel, além da paixão inicial.

Comparações com Outros Personagens da Disney

A Bela e a Fera

Assim como Flynn, a Fera em “A Bela e a Fera” (Beauty and the Beast) é um personagem que começa com uma personalidade egoísta e amargurada. A transformação da Fera ao longo do filme, graças ao amor de Bela, é um paralelo direto ao desenvolvimento de Flynn. Ambos os personagens são inicialmente vistos como antagonistas ou anti-heróis, mas o amor verdadeiro os leva a uma metamorfose pessoal e moral.

Aladdin

Aladdin, do filme homônimo, também compartilha semelhanças com Flynn Rider. Ambos são astutos, carismáticos e começam suas jornadas como indivíduos marginalizados pela sociedade. No entanto, enquanto Aladdin deseja melhorar de vida e ganhar o coração da princesa Jasmine, Flynn busca riqueza e aventura. No final, o amor e a sinceridade os levam a priorizar valores mais nobres e a abraçar suas verdadeiras identidades.

Príncipe Naveen (A Princesa e o Sapo)

O Príncipe Naveen de “A Princesa e o Sapo” (The Princess and the Frog) também se assemelha a Flynn Rider. Naveen é um príncipe despreocupado e hedonista que aprende lições valiosas sobre responsabilidade e amor verdadeiro ao se apaixonar por Tiana. A transformação de Naveen de um príncipe egoísta para um parceiro devotado é similar à jornada de Flynn.

Crítica ao Mito do Amor Romântico

Embora os arcos de personagens como Flynn Rider sejam cativantes e inspiradores, eles também perpetuam certos aspectos do mito do amor romântico que podem ser problemáticos. A ideia de que o amor verdadeiro pode e deve transformar uma pessoa profundamente pode criar expectativas irreais sobre relacionamentos. As transformações dramáticas e rápidas podem sugerir que problemas pessoais e traços de caráter podem ser facilmente resolvidos através do amor, o que não corresponde à realidade.

Estudos mostram que o mito do amor romântico pode levar a expectativas irrealistas e decepções nos relacionamentos reais【Sprecher & Metts, 1989】. A crença de que o amor verdadeiro resolverá todos os problemas pode impedir o crescimento individual e a resolução de conflitos de maneira saudável e realista.

Conclusão

Flynn Rider é um exemplo clássico de como a Disney utiliza o mito do amor romântico para criar narrativas de transformação pessoal e redenção. Comparado a outros personagens como a Fera, Aladdin e Príncipe Naveen, Flynn ilustra a jornada do egoísmo à altruísmo, motivado pelo amor verdadeiro. Embora essas histórias sejam emocionantes e encantadoras, é importante também reconhecer e questionar as expectativas irreais que o mito do amor romântico pode promover.

Referências:

  • Rogers, C. (1959). A Theory of Therapy, Personality, and Interpersonal Relationships as Developed in the Client-centered Framework. In: Koch, S. (ed.) Psychology: A Study of a Science. Vol. 3: Formulations of the Person and the Social Context. New York: McGraw Hill.
  • Sternberg, R. J. (1986). A Triangular Theory of Love. Psychological Review, 93(2), 119-135.
  • Sprecher, S., & Metts, S. (1989). Development of the ‘Romantic Beliefs Scale’ and Examination of the Effects of Gender and Gender-role Orientation. Journal of Social and Personal Relationships, 6(4), 387-411.

Danilo Suassuna

Pedro Paulo Coelho

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.