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“Propaganda I’m Not Falling For” e a descompressão psíquica no tempo da positividade tóxica

  • post publicado em 28/05/25 às 10:33 AM
  • Tempo estimado de leitura: 3 minutos

 

“Propaganda I’m Not Falling For” e a descompressão psíquica no tempo da positividade tóxica

A frase “Propaganda I’m Not Falling For” — ou, em tradução livre, “Propaganda na qual eu não caio mais” — tornou-se um fenômeno recente no TikTok. Em vídeos curtos, usuários listam comportamentos, frases e promessas que, embora tivessem um dia seduzido, hoje são vistos com ceticismo ou até ironia. “Acordar às 5 da manhã vai mudar sua vida”, “Você só precisa querer muito para conseguir tudo”, “Ser mãe é o maior amor do mundo e ponto final”. A fórmula é simples: sobre uma trilha sonora nostálgica, os vídeos desmontam ideias que um dia pareceram verdades absolutas.

Mas o que está por trás desse movimento aparentemente leve e divertido?

O peso de uma vida ideal vendida como regra

Vivemos tempos em que o discurso do “sucesso” é onipresente. É como se houvesse um roteiro universal para a felicidade: produtividade máxima, corpo perfeito, filhos bem-comportados, rotina matinal impecável, alimentação orgânica, uma carreira de destaque e, claro, equilíbrio emocional. Esses discursos, muitas vezes disfarçados de inspiração, funcionam como pressões normativas internalizadas.

A psicologia social já alertava: quanto mais internalizamos um ideal inatingível, mais sentimos vergonha por não alcançá-lo. Como explica Brené Brown, a vergonha não vem do erro em si, mas da sensação de que “há algo errado comigo por não ser como dizem que eu deveria ser”.

A Gestalt-terapia, por sua vez, aponta que esse tipo de funcionamento é típico de um contato interrompido, em que o sujeito adapta-se excessivamente ao ambiente, perdendo a capacidade de reconhecer suas necessidades reais — o que Perls, Hefferline e Goodman (1951) chamaram de confluência. Nesse estado, não há clareza do “eu” e do “ambiente”, apenas uma fusão que sufoca a espontaneidade e o ajuste criativo.

A descompressão como forma de resistência

Essa tendência do TikTok pode ser lida como uma forma simbólica de restaurar o contato, ao nomear aquilo que não serve mais, e ao fazer isso com humor. Trata-se de uma espécie de descompressão psíquica coletiva diante da sobrecarga de exigências externas e auto impostas.

É o que observamos, por exemplo, quando um vídeo começa com:

“Propaganda na qual eu não caio mais: que meditar todos os dias me faria menos ansiosa”.
e termina com alguém rindo de si, ou apenas se permitindo o descanso sem culpa.

Essa comicidade é uma forma legítima de autorregulação organismíca — conceito central na Gestalt —, em que o sujeito volta-se para o que de fato sente, e não para o que acha que deveria sentir. Ao romper com roteiros engessados, essas pessoas se autorizam a sentir raiva, frustração, preguiça, dúvida… e encontram nisso não desvio, mas caminho.

Da positividade tóxica ao direito ao real

O termo positividade tóxica tem sido usado para descrever o imperativo de estar sempre bem, custe o que custar. Essa lógica gera o que Fritz Perls chamaria de introjecção — quando engolimos crenças ou regras sem digerir, sem questionar, sem fazer contato com o que realmente ressoa.

“Ser feliz o tempo todo”, “agradecer até pelo sofrimento”, “dar conta de tudo com um sorriso no rosto”: essas máximas não convidam à saúde, mas à desconexão interna. A Gestalt-terapia, ao contrário, convida à presença. Ao contato com o que é. Ao aqui-agora da experiência.

Nessa perspectiva, a tendência “Propaganda I’m Not Falling For” é uma forma moderna — e coletiva — de colocar um limite: basta de engolir verdades prontas. E isso já é um passo na direção do ajustamento criativo.

A maior regra da vida é se conhecer

Diante de tantas regras vendidas como fórmula universal, talvez a única que valha seja esta:
a maior regra da vida é se conhecer.

Se conhecer não é construir uma versão ideal de si mesmo — mas sim sustentar um campo onde pensamentos, sentimentos e desejos possam emergir com clareza. Só a partir dessa consciência é possível fazer escolhas autênticas. Como nos lembra Laura Perls, o objetivo da Gestalt não é a adaptação ao mundo, mas a capacidade de responder criativamente a ele a partir do que se é.

Conhecer-se é, portanto, um ato político. É dizer “não” ao que oprime, e “sim” ao que faz sentido. É o movimento de sair da confluência e reconstituir o self em sua inteireza.

Todos Cuidados: um espaço para escuta e reconexão

O projeto Todos Cuidados, do Instituto Suassuna, nasce exatamente desse princípio: ninguém precisa enfrentar o mundo sozinho — muito menos fingir que está bem o tempo todo. Acolher alguém em sofrimento não é tentar consertá-lo, mas escutá-lo com presença, cuidado e humanidade.

O Todos Cuidados oferece suporte psicológico acessível e contínuo, com profissionais capacitados que atuam a partir de vínculos reais. É uma clínica viva, sensível às dores do tempo presente, e comprometida com aquilo que a Gestalt-terapia nos lembra diariamente: todo contato verdadeiro é também um convite à transformação. https://institutosuassuna.com.br/todos-cuidados/ 

Porque seguir mais uma regra e escutar quem se é…
A gente escolhe o segundo caminho. Sempre.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527