Por uma maternidade menos idealizada

  • 30 mar

A vinculação entre maternidade e feminilidade e ser mãe como principal papel da mulher vem produzindo distorções quanto ao desejo ou não desejo de uma mulher tornar-se mãe.

O atual contexto exige do sujeito contemporâneo, e em especial das mulheres, que seja eficiente e que exerça com excelência toda e qualquer atividade.

Tropeços, dúvidas e temores designam fraqueza e, portanto, não estão em conformidade com o que é signo de valor.

E é nesse caldo cultural que as mulheres da atualidade se veem submersas e colocadas frente à maternidade.

 

Muitas são as interrogações: desejo ser mãe ou devo ser mãe? Qual o momento ideal para ser mãe?

Quais são os pré-requisitos para ser uma boa mãe e uma profissional de sucesso? Como administrar realização profissional e maternidade?

Temos presenciado um adiamento cada vez maior da maternidade, com consequências sobre a fertilidade –

como resposta à idealização das condições necessárias para que uma mulher possa tornar-se mãe.

 

As mulheres ao se verem confrontadas com tamanha exigência perseguem com afinco o momento tido como ideal para que, então, possam se perguntar sobre se desejam ser mães.

É quase como se necessitassem de um doutorado que as qualificassem como aptas a percorrerem os caminhos enigmáticos, turbulentos e sempre surpreendentes da maternidade.

O resultado dessa idealização e dessa exigência sobre a mulher são mães angustiadas, exaustas e com um profundo sentimento de culpa por não estarem conseguindo ser supermulheres.

Os efeitos sobre as crianças são igualmente nefastos, pois não toleram frustrações e limites.

 

Parafraseando Simone de Beauvoir, não se nasce mãe, torna-se. E, ao tornar-se, é fundamental estar aberta ao novo, ao incerto, ao não saber.

É preciso abrir espaço para falhar e aprender, para construir com o filho uma relação de afeto, amor e cuidado onde as perguntas são mais importantes que as respostas.

É preciso permitir-se frustrar-se e frustrar o outro. É ali onde percebemos o filho como um diferente e o respeitamos em sua singularidade que a construção permanente desse tornar-se se dá.

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