Perinatalidade: Fatores de Risco para a Vinculação nas Técnicas de Reprodução Assistida (TRA)

  • post publicado em 12/09/24 às 16:28 PM
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Perinatalidade: Fatores de Risco para a Vinculação nas Técnicas de Reprodução Assistida (TRA)

A perinatalidade é uma fase crítica para o estabelecimento de vínculos entre pais e bebês. Em casos de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro (FIV), essa ligação pode enfrentar desafios específicos. A seguir, são explorados fatores de risco que podem impactar a vinculação parental e estratégias para mitigar esses desafios.

Expectativas Elevadas e Ansiedade

A jornada das Técnicas de Reprodução Assistida (TRA) é frequentemente marcada por expectativas intensas e pressão emocional. Casais que recorrem a esses métodos frequentemente depositam grandes esperanças no sucesso do tratamento, o que pode gerar um estado constante de apreensão. Essa ansiedade é intensificada pelo desejo de que a gravidez se concretize após um longo período de tentativas e, em muitos casos, de fracassos. A espera pelos resultados, o medo de um novo insucesso e a pressão para que tudo dê certo podem consumir os pais emocionalmente. Esse estado de tensão contínua pode dificultar a conexão emocional com o bebê, tornando o vínculo menos espontâneo e mais carregado de expectativas.

Histórico de Perdas ou Fracassos

Casais que enfrentaram múltiplos ciclos de TRA ou que sofreram perdas gestacionais carregam um fardo emocional significativo. A experiência de fracassos anteriores pode criar uma barreira emocional, onde o medo de reviver a dor de uma nova perda impede que os pais se entreguem plenamente à experiência da gestação. Como observado por Ribeiro et al. (2015), “o medo de uma nova perda pode ser uma barreira significativa na formação de vínculos emocionais durante a gestação e o pós-parto.” Este temor constante pode fazer com que os pais hesitem em se vincular emocionalmente ao bebê antes de ter a certeza de que tudo está bem, o que pode retardar ou dificultar a formação de um vínculo parental saudável.

Complexidade das Configurações Familiares

As “TRA” possibilitam uma variedade de configurações familiares, incluindo casais homoafetivos, pais solteiros e aqueles que utilizam doadores de gametas ou gestação de substituição. Essas novas formas de parentalidade podem introduzir desafios adicionais à vinculação parental. Casais homoafetivos, por exemplo, podem enfrentar pressões sociais e preconceitos que influenciam sua experiência de parentalidade. Pais solteiros por escolha podem lidar com sentimentos de isolamento ou questionamentos internos sobre a adequação de suas decisões. Além disso, o uso de doadores de gametas ou a gestação de substituição pode levantar questões sobre a identidade parental e o papel de cada indivíduo no vínculo com o bebê. Esses fatores podem complicar a construção de um vínculo emocional pleno e seguro.

Estresse e Cansaço

O processo de TRA é emocionalmente desgastante e, quando combinado com as demandas físicas e emocionais da gravidez e da nova parentalidade, pode resultar em altos níveis de estresse e cansaço. Os pais que passam por TRA geralmente investem uma quantidade significativa de energia emocional, física e financeira no processo, o que pode deixá-los exaustos. Esse cansaço pode reduzir a disponibilidade dos pais para se conectar com o bebê. A exaustão pode tornar o vínculo mais difícil de estabelecer, pois os pais podem se sentir sobrecarregados e menos capazes de responder às necessidades emocionais do bebê.

Intervenções Médicas e Hospitalização do Bebê

Em alguns casos, especialmente em gestações múltiplas ou complicadas, o bebê pode precisar de cuidados médicos especiais ou internação em UTI neonatal. Essa separação física precoce pode ter um impacto significativo na formação do vínculo parental. A impossibilidade de se fazer o imprinting(scaner) e  manter contato constante com o bebê nas primeiras horas ou dias de vida pode atrasar o desenvolvimento de uma conexão emocional profunda. Além disso, os pais podem experimentar sentimentos de culpa, ansiedade ou impotência, o que pode complicar ainda mais o processo de vinculação.

Estratégias para Mitigar os Riscos

  1. Apoio Psicológico Especializado:
    O acompanhamento de um psicólogo especializado em perinatalidade e reprodução assistida pode ser essencial. Psicólogos com experiência na área compreendem os desafios únicos enfrentados pelos pais em TRA e podem ajudar a lidar com a ansiedade, os traumas passados e as expectativas elevadas. A Rede de Umbiguinho é uma iniciativa que oferece suporte especializado, ajudando famílias a construir vínculos fortes e saudáveis durante essa fase.
  2. Preparação e Educação:
    Preparar-se para os desafios do período perinatal após TRA pode ajudar a estabelecer expectativas mais realistas e a preparar emocionalmente os pais para as complexidades que podem surgir. O conhecimento sobre as possíveis dificuldades pode reduzir a ansiedade e aumentar a confiança dos pais em sua capacidade de cuidar do bebê.
  3. Estabelecimento de Rotinas Positivas:
    Criar rotinas que promovam o contato físico e emocional, como o “pele a pele”, a amamentação (quando possível) e momentos tranquilos de interação, pode fortalecer o vínculo parental. Essas práticas ajudam a criar uma conexão emocional mais profunda e segura com o bebê.
  4. Apoio Social e Redes de Suporte:
    Ter uma rede de apoio sólida, que pode incluir familiares, amigos e grupos especializados como a Rede de Umbiguinho, é vital para o bem-estar dos pais. Esses grupos oferecem suporte emocional e ajudam a compartilhar e resolver os desafios específicos enfrentados por famílias que recorrem a TRA.

Assim…

A vinculação parental no contexto das Técnicas de Reprodução Assistida pode ser desafiadora, mas com o suporte adequado, os pais podem superar esses obstáculos e construir um vínculo forte e saudável com seus bebês. Reconhecer os fatores de risco e implementar estratégias para mitigá-los é essencial para garantir que o início da vida familiar seja marcado por amor, conexão e bem-estar.

Pergunta para o leitor: Como você está se preparando para fortalecer o vínculo com seu bebê? Já considerou buscar apoio psicológico ou se conectar com redes de suporte como a Rede de Umbiguinho para enfrentar esse período de transição com mais segurança?

Traduzindo…

longe de querer colocar regras nos relacionamentos interpessoais, ou encher sua vida de regra, temos nesse texto “Parentalidade” como o que se refere ao conjunto de práticas, responsabilidades e comportamentos associados ao papel de ser pai ou mãe. Isso inclui não apenas os aspectos biológicos da criação de um filho, mas também as dimensões sociais, emocionais, espirituais, educativas e morais que envolvem cuidar e orientar uma criança ao longo de seu desenvolvimento. A parentalidade é uma construção que pode variar culturalmente e é influenciada por fatores como valores familiares, normas sociais e contextos históricos. Ela pode ser exercida por pais biológicos, adotivos, ou outras figuras parentais.

Referências:

  • Ribeiro, G. L., Gomes, A. P., & Moreira, J. R. (2015). Psicologia da reprodução humana assistida: O impacto emocional dos tratamentos de fertilização. Revista de Psicologia e Saúde, 7(3), 215-229.
  • Burns, L. H. (2006). Complexidades da parentalidade após fertilização in vitro. Journal of Assisted Reproduction and Genetics, 23(4), 179-185.

Dr.Danilo suassuna

CRP 09/3697

Mariana Saloio

CRP 09/12344

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.