Famílias modernas tendem a viver um ‘unitempo’, todos ‘são’ da mesma geração. As diferenças geracionais têm tido suas fronteiras cada vez mais difusas, em que se observa, com frequência, uma tentativa de os pais estarem mais próximos de seus filhos, fazerem as mesmas atividades, usarem as mesmas roupas.
Esse processo de desgerontocratização”, que engloba não só os adolescentes, mas também as precoces crianças e os adultos, dificulta o processo de diferenciação tão necessário aos adolescentes para que possam construir uma identidade adulta e demarcar um espaço próprio no mundo.
Assim, não é a distância entre gerações que pode trazer a agressão que temos visto se disseminar entre pais e filhos, e sim o excesso de proximidade geracional.
As famílias tradicionais e pós-modernas forneciam modelos identitários diferenciados a cada um dos membros. Na primeira, os modelos pautavam-se em valores e padrões de comportamentos relativamente estáveis, passados de geração a geração. Na segunda, há uma indefinição e ausência de modelos fixos. Há a coexistência de valores e padrões de comportamentos tradicionais e novos, portanto, muitas vezes, contraditórios.
A desconstrução de modelos fixos do passado, que alterou os papéis e as posições de homens e mulheres, pais e filhos, avôs e avós, alterou também as formas de relação entre as diferentes gerações na família, inclusive, o exercício de autoridade em seu interior.
Entretanto algumas rupturas naturais do desenvolvimento infantil, muitas vezes passa a ser pautada por uma ignorância, a dos pais, por não compreenderem seu filho, e deste, por não entender seus pais.
Os pais, que eram tidos como heróis por seu filho na infância, são destituídos desse lugar, desidealizados e passam a ocupar um lugar de estranhamento frente ao filho. Por outro lado, os pais também têm dificuldade de reconhecer seu filho, pois até mesmo o corpo que ele ocupa não é mais o mesmo; a imagem da criança desaparece.
A destituição dos pais de um lugar privilegiado posto na infância pelos filhos deve-se também por os adolescentes perceberem defeitos nos pais. Consequentemente, eles se tornam críticos das atitudes e valores dos pais, colocando em xeque o exercício da autoridade.
A descoberta de que os filhos não são mais “suas crianças” também pode indicar haver um temor pelos pais de serem ultrapassados por eles, conforme os filhos estão em um processo de desenvolvimento e os pais podem estar lamentando pelo seu tempo já passado. Desse modo, os pais podem posicionar-se de forma ambivalente frente aos filhos, desejando que cresçam e se tornem independentes, por um lado, e reforçando comportamentos de dependência, por outro.
Como uma das tarefas da adolescência é a construção de uma identidade adulta, o jovem deve renunciar a seus papéis infantis, abarcando o abandono de um tipo de relação estabelecida com os pais. Esse processo demanda modificações na família, havendo necessidade de adaptação das regras e, consequentemente, de ajustamento no exercício da autoridade.
Uma possibilidade é a de manter uma relação com seus filhos pautada na negociação e na amizade, ou seja, um tipo de relacionamento marcado pela tendência à igualdade e ao diálogo, em que as diferenças hierárquicas tendem mantidas mas de forma saudável e respeitosa, desde que os pais exemplifiquem as atitudes exigidas dos filhos, principalmente, no que se refere aos limites com bebidas, horários e o cumprimento dos compromissos assumidos. Senão, filho criado o trabalho é dobrado.
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Autor: Virginia Suassuna