Overthinking: A Falta de Pensamento

  • post publicado em 09/07/24 às 10:17 AM
  • Tempo estimado de leitura: 3 minutos

 

Por Dr. Danilo Suassuna e Ricardo Reuters

A preocupação e o overthinking são fenômenos que frequentemente afligem muitos de nós. No entanto, uma análise mais profunda revela que esses estados mentais não são apenas frutos de um excesso de pensamento, mas sim de uma falta de pensamento genuíno e integrado. Vamos explorar essa ideia sob a perspectiva da psicologia gestáltica.

O Ciclo da Preocupação e o Medo

Não se trata de pensar demais! Na verdade, é o pensar de menos! A preocupação é caracterizada por um ciclo repetitivo de pensamentos ansiosos que frequentemente se alimentam de incertezas e medos. No entanto, essa ruminação não representa um pensamento verdadeiro. Em vez disso, é uma manifestação de nossa tentativa desesperada de controlar e prever o futuro, algo que, em essência, é impossível.

Pensar bem, no sentido mais profundo, implica em ir além das circunstâncias imediatas e da ansiedade momentânea. Trata-se de um processo que envolve aceitação, compreensão e a coragem de enfrentar a realidade como ela é, sem tentar controlá-la ou negá-la. É aqui que a abordagem gestáltica oferece uma perspectiva única e valiosa.

Pensar é Ir Além

Segundo a psicologia gestáltica, pensar verdadeiramente é estar presente no momento e aceitar a realidade sem preconceitos ou negações. Quando nos encontramos em um estado de overthinking, muitas vezes estamos presos em um padrão de evitar ou negar o que já sabemos ser verdade. Este estado de negação nos impede de avançar, nos deixando presos em um ciclo de repetição.

O overthinking é, em grande parte, uma tentativa de evitar a tomada de decisões difíceis. É um reflexo de nossa inabilidade de aceitar e lidar com as consequências de nossas ações. A mente se torna um prisioneiro de desculpas e ajustamentos que parecem mais funcionais no momento, mas que, na verdade, nos mantém estagnados.

As coisas realmente importante mudam muito pouco, vamos nos afastando cada vez mais do que importa.

Aceitação e Decisão

A estabilidade emocional e a redução das oscilações mentais estão mais relacionadas à aceitação do que à negação. Quando aceitamos o que vemos e sentimos, nos permitimos tomar decisões informadas e corajosas. A tomada de decisão requer a coragem de lidar com as consequências e o entendimento de que somos capazes de enfrentar o que vier.

A teoria gestáltica nos ensina que os ajustamentos criativos são essenciais para nossa existência. Eles são as “saídas” que encontramos em um dado tempo e espaço para lidar com as situações. Quando nos acomodamos e tentamos usar sempre as mesmas justificativas ou desculpas, nos tornamos estáticos e congelados em nossas percepções.

Ampliando Possibilidades no Aqui e Agora

Para ajudar alguém que sofre de overthinking, é essencial ampliar suas possibilidades de ação e percepção. Devemos encorajá-los a perceber novas saídas, recalcular rotas e explorar novas possibilidades. Isso só pode ser feito no “aqui e agora” existencial, onde a verdadeira mudança pode ocorrer.

Em muitos casos, a pessoa já conhece a solução para seu problema, mas tem dificuldade em aceitá-la. Sair da zona de conforto pode ser assustador, e é mais fácil encontrar argumentos para permanecer onde se está. O overthinking, nesse sentido, é uma cristalização da percepção do indivíduo, uma tentativa de justificar comportamentos e pensamentos no presente.

Conclusão

O overthinking não é apenas um excesso de pensamento, mas uma falta de pensamento verdadeiro e integrado. É uma manifestação da nossa tentativa de evitar a realidade e as decisões difíceis. Ao aceitarmos o que vemos e sentimos no momento presente, podemos encontrar novas saídas e nos libertar do ciclo de preocupação.

Como profissionais da psicologia, nosso papel é ajudar os indivíduos a ampliar suas possibilidades, a recalcular suas rotas e a encontrar novas formas de ajustamento criativo. Somente assim podemos ajudar nossos pacientes a se libertarem do ciclo de overthinking e a viverem de forma mais plena e consciente no “aqui e agora”.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.