O que é o desenvolvimento normal e como acompanhar o crescimento do seu filho?

  • post publicado em 16/06/25 às 09:11 AM
  • Tempo estimado de leitura: 4 minutos

 

O desenvolvimento infantil é um dos temas que mais geram dúvidas nos pais. É comum se perguntar: “Meu filho está crescendo dentro do esperado?” ou “Será que ele já deveria estar falando ou andando?”. No entanto, cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento, e compreender essa trajetória ajuda a evitar comparações desnecessárias e preocupações excessivas.

Donald Winnicott, um dos grandes teóricos do desenvolvimento infantil, enfatizava que o ambiente seguro e responsivo dos pais é o principal fator para que a criança se desenvolva de forma saudável. Ou seja, mais do que seguir padrões rígidos, é essencial oferecer acolhimento, suporte e uma base segura para que a criança explore o mundo e adquira novas habilidades no seu tempo.

Este artigo vai te ajudar a entender os marcos do desenvolvimento infantil, respeitando as variações individuais e destacando quando é importante buscar apoio profissional.

O que é o desenvolvimento normal?

O desenvolvimento infantil é um processo dinâmico, contínuo e influenciado tanto por fatores biológicos quanto ambientais. Segundo a IACAPAP (International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions), o desenvolvimento normal ocorre dentro de uma média populacional, mas sempre com variações individuais.

As principais áreas do desenvolvimento são:

• Físico: crescimento corporal, maturação cerebral, desenvolvimento motor grosso (andar, correr) e fino (pintar, segurar objetos).

• Cognitivo: aprendizado, memória, linguagem, criatividade, raciocínio lógico e resolução de problemas.

• Socioemocional: capacidade de expressar emoções, interagir com os outros e desenvolver autonomia.

Cada uma dessas áreas se desenvolve de forma interligada e em ritmos diferentes.

Marcos do desenvolvimento por faixa etária

0 a 6 meses – O mundo dos sentidos e do vínculo

✅ Desenvolvimento físico: Movimentos ainda reflexos, começa a sustentar a cabeça, acompanha objetos com os olhos.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Reage a sons e vozes, começa a demonstrar interesse pelo ambiente.

✅ Desenvolvimento socioemocional: Sorri socialmente (por volta dos 2 meses), responde ao contato com o cuidador.

➡️ Winnicott falava da “mãe suficientemente boa” – ou seja, a mãe ou cuidador não precisa ser perfeito, mas estar presente, acolher as necessidades básicas do bebê e permitir que ele se sinta seguro.

6 a 12 meses – Exploração e primeiras interações

✅ Desenvolvimento físico: Fica sentado sem apoio, começa a engatinhar, segura objetos com mais firmeza.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Balbucia sílabas (“ma-ma”, “da-da”), entende gestos simples (dar tchau, bater palmas).

✅ Desenvolvimento socioemocional: Demonstra preferência por pessoas conhecidas, manifesta estranhamento com desconhecidos (ansiedade de separação).

➡️ Importante: O bebê precisa de previsibilidade e constância para criar segurança emocional. Essa fase é essencial para o desenvolvimento do apego seguro, conceito central para Winnicott.

1 a 2 anos – Primeiras palavras e independência inicial

✅ Desenvolvimento físico: Começa a andar, explora o ambiente de forma ativa.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Diz suas primeiras palavras com significado, entende ordens simples (“dá o brinquedo pra mamãe”).

✅ Desenvolvimento socioemocional: Aponta para objetos de interesse, imita comportamentos, expressa emoções básicas.

➡️ Fase da “separação e individuação” (Winnicott): A criança começa a perceber que é um ser independente da mãe, o que pode gerar ansiedade e comportamentos ambivalentes – ora quer colo, ora quer explorar sozinha.

2 a 3 anos – Autonomia e explosão de linguagem

✅ Desenvolvimento físico: Corre, sobe e desce escadas com mais firmeza.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Forma frases curtas, começa a usar pronomes (“meu”, “eu quero”).

✅ Desenvolvimento socioemocional: Demonstra frustração com mais intensidade (famosa fase das birras), começa a brincar paralelamente com outras crianças.

➡️ Importante: Segundo Winnicott, a frustração faz parte do desenvolvimento saudável. O papel dos pais é ajudar a criança a nomear suas emoções e ensiná-la a regulá-las.

3 a 6 anos – Imaginação e regras sociais

✅ Desenvolvimento físico: Pula, corre, aprende a usar tesoura e lápis com mais precisão.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Começa a compreender conceitos como tempo e quantidade, faz perguntas incessantes (“por quê?”).

✅ Desenvolvimento socioemocional: Brincadeiras passam a ser mais interativas e criativas, aprende a esperar sua vez.

➡️ O brincar tem papel fundamental nessa fase, ajudando no desenvolvimento da linguagem, criatividade e habilidades sociais.

6 a 12 anos – Socialização e aprendizado acadêmico

✅ Desenvolvimento físico: Maior coordenação motora, domina escrita e leitura.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Pensamento mais lógico, compreensão de regras e normas sociais.

✅ Desenvolvimento socioemocional: Procura aprovação dos colegas, começa a desenvolver empatia.

➡️ Winnicott falava da “capacidade de estar só”, ou seja, da importância da criança se sentir segura mesmo sem a presença constante dos pais.

Adolescência (12 a 18 anos) – Identidade e autonomia

✅ Desenvolvimento físico: Crescimento acelerado, mudanças hormonais.

✅ Desenvolvimento cognitivo: Pensamento abstrato, desenvolvimento da identidade pessoal.

✅ Desenvolvimento socioemocional: Busca por independência, influência dos pares, questionamento de regras.

➡️ Desenvolvimento emocional ainda está em curso, o que pode gerar impulsividade. Pais devem equilibrar liberdade com limites saudáveis.

Quando buscar ajuda profissional?

Embora cada criança tenha seu próprio ritmo, alguns sinais podem indicar a necessidade de avaliação profissional:

🔴 Aos 6 meses: não responde a estímulos ou não sorri socialmente.

🔴 Aos 12 meses: não balbucia ou não reage ao próprio nome.

🔴 Aos 2 anos: não forma frases simples ou demonstra dificuldade extrema na interação social.

🔴 Aos 3 anos: não mantém contato visual ou apresenta comportamentos repetitivos.

Se houver qualquer preocupação, um psicólogo ou psiquiatra infantil pode ajudar a identificar se há um atraso no desenvolvimento ou alguma condição que necessite de acompanhamento.

O papel do psicólogo e do psiquiatra na infância

Os pais desempenham um papel essencial no desenvolvimento infantil, mas o acompanhamento de especialistas pode fazer toda a diferença:

• O psicólogo infantil ajuda na identificação de dificuldades emocionais e comportamentais, orientando os pais sobre como estimular a criança.

• O psiquiatra da infância e adolescência avalia condições como TDAH, transtornos de ansiedade e neurodesenvolvimento, garantindo um suporte adequado.

Quanto mais cedo forem identificadas dificuldades, maiores são as chances de uma intervenção eficaz. O desenvolvimento saudável não significa atingir marcos no tempo exato, mas sim oferecer um ambiente seguro e estimulante.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527