Vivenciar o processo de luto como uma forma de expressão da dor causada pelo rompimento de um vínculo significativo, ou seja, um vínculo importante para a pessoa, é considerado esperado e necessário. Chamamos de processo, pois há um trabalho mental em busca de resolução de uma perda real ou simbólica que exigirá muito da pessoa enlutada. Segundo Bowlby (2004), o processo de luto reflete a frustração de uma necessidade básica de vinculação, que é manter a proximidade com uma figura significativa, bem como o romper de um significado de segurança na vida.
Sabemos que quando perdemos algo ou alguém muito importante costumamos sofrer. A intensidade do sofrimento pode variar de acordo com a força do vínculo que foi construído e precisamos compreender que cada pessoa vai experimentar e expressar o seu sofrimento à sua maneira. Quando a pessoa menospreza sua experiência do luto, pode sofrer consequências físicas e psíquicas, ou seja, pode sofrer com ansiedade, confusão mental, depressão, e até suicídio. Entretanto, luto não é uma doença, com isso, não se justifica intervenção para todos os casos. Parkes (1998) nos diz que o luto é uma manifestação de estresse emocional considerado normal frente a uma situação de rompimento de vínculo. Ou seja, o luto é um processo psicologicamente difícil e doloroso, e a maioria das pessoas vão passar por um processo normal de luto e se adaptar às perdas e suas consequências.
Algumas pessoas podem sofrer um luto antecipado, quando ela está vivendo uma possibilidade de perda, após receber um diagnóstico potencialmente fatal. Outras podem estar passando por um processo de luto intenso pela perda recente ou traumática. Algumas outras podem estar experimentando um processo de luto adiado comum em casos, por exemplo, em que a pessoa fica responsável pelo inventário.
Enquanto não finaliza todo o processo de divisão de bens, a pessoa se mantém recolhida em seus sentimentos e assim que finaliza o inventário, o sofrimento pela falta daquela pessoa vem à tona com toda intensidade, mesmo após anos da perda da pessoa, como se o velório tivesse sido ontem. Há também o caso de a pessoa estar experimentando um luto complicado. Este caracteriza-se quando a pessoa experimenta uma desorganização com sofrimento intenso e prolongado que a impede de retomar suas atividades com a qualidade anterior a perda (WORDEN, 1998). O enlutado vivenciando um luto complicado vai necessitar de um cuidado maior tanto das pessoas próximas, quanto de profissionais qualificados para auxiliá-lo na retomada de investimento nas situações necessárias para o enfrentamento da vida. Grupos de apoio, psicoterapia e conversas acolhedoras ajudam ao mostrar aos enlutados que as reações que experimentam, após a perda, fazem parte do processo de luto e que outras pessoas passam por situações parecidas.
Cristiane de Carvalho Neves – Especialista em Luto – CRP -09/5022
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Referências Bibliográficas:
BOWLBY, J. Separação – angústia e raiva. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Vol. 2 da trilogia. (trad.)
PARKES, C. M. Luto – estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus, 1998. Novas buscas em psicoterapia, Vol.56 (trad.)
WORDEN, J. W. Terapia do luto – um manual para o profissional de saúde mental. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. (trad.)