O parto é uma experiência viceral, psicológica, emocional e exclusiva das mulheres. E, portanto, somente a elas deveria caber a decisão de como ele se dará. Porém, a institucionalização do parto, na maioria das vezes, tira das mulheres em trabalho de parto, o poder de decisão. A fragilidade emocional em que a gestante está submersa, pode fazer com que médicos, companheiros ou alguém importante que a esteja acompanhando, lhe convença de que aquilo que ela queria, não é o melhor para ela. Ela se submete por acreditar ser impotente contra o poder que ali se impõe. Mais tarde, advém a culpa por não ter gritado com todas as forças o que na verdade desejava vivenciar com toda a sua plenitude de mulher. Muitas planejam com antecedência, desejando um parto como aqueles que assistiram em vídeos, onde a dor da espera é substituída pelo alívio e a alegria da mãe ao ter seu filho nos braços. Porém, a idealização é sempre perigosa, pois exclui a realidade. O parto vaginal é um processo biológico, mas a espera pode ser prolongada, afinal quem decide a hora de sair da sua “bolha” é o bebê. Também pode ser que a gestante seja convencida de que a indução acelere o processo, o que intensifica a dor e após um trabalho de muitas horas, a exaustão poderá então, lhe fazer optar justamente pelo o que ela não queria, o parto cesária. Indiscutivelmente, gestações de risco necessitam de medidas apropriadas que preservem a vida da mãe e do bebê. Mas é crucial que a mulher tenha lugar de fala, independentemente da condição em que se dará o parto. O nascimento do filho, é para a mulher o momento de maior vínculo, onde se concretiza a sua nova condição de mãe, que gestou uma vida e agora a toma nas mãos. O acompanhamento psicológico no pré-natal pode ser esse lugar também, pois no decorrer da gestação, ela poderá, sem receio, trazer suas idealizações, desejos, medos e inseguranças para uma intervenção segura e acolhedora.