Na minha prática clínica surge com frequência crianças que descrevem sensações de não pertencer à escola o que gera sentimentos de inferioridade em relação aos demais colegas, impossibilitando seu desenvolvimento escolar e sua capacidade de aprender.
Na origem da recusa em ir à escola, portanto, podem estar a rejeição e ameaças pelo grupo de pares. A recusa pode também estar associada a relação estabelecida com a equipe de professores, diante dos quais, não se sente reconhecida e compreendida nas suas dificuldades pessoais. A sensação de não corresponder às expectativas pedagógicas, pode gerar insegurança e mexer com a autoestima da criança. Afinal, antes de chegar à escola, os conhecimentos são assimilados de modo espontâneo, a partir da experiência direta do aluno. Quando ela chega à escola, existe uma intenção prévia de organizar situações que propiciem o aprimoramento dos processos de pensamentos e da própria capacidade de aprender.
Para muitos alunos a escola não condiz com sua realidade, pois, dentro dela não há lugar para seus problemas e suas preocupações. Muito de sua experiência não é considerada, e às vezes a criança acredita que não é capaz de aprender, e que não adianta “perder tempo” porque de qualquer jeito serão reprovados.
Aos poucos, eles vão perdendo o estímulo e a motivação para continuar se esforçando, sentindo-se realmente são incapazes de aprender resignando a um fracasso, marcando assim o resto da sua vida.
Em qualquer das situações, entretanto, é necessário que os pais estejam muito atentos, que consigam perceber que criança precisa de ajuda para ultrapassar esse momento e não permitam que a situação se prolongue, pois, quantos mais dias estiver afastada da escola mais difícil será o seu regresso.
Por isso a frase muito comum de ser escutada é: não quero ir mais para a escola. Sintomas como ansiedade, medo, por vezes pânico, dificuldade em dormir, pesadelos, mal-estar físico para os quais na maioria dos casos não existe uma justificação médica (como vômitos, dores de barriga, dores de cabeça, febre, entre outros, surgem com frequência.
Habitualmente, estes sintomas surgem durante os dias da semana e com mais frequência ao acordar, tornando este momento do dia difícil para pais e filhos e perdem a intensidade ao longo do dia.
De quem é a culpa dessa atitude? Na verdade, acredito que todos sejam culpados pais, criança e escola.
Por parte dos pais a dica é não tentar convencer os filhos de que não tem motivos sérios. Não adianta presentear ou utilizar recompensas para força-lo a ir à escola. Menos ainda, punir, tirar internet, atividades desportivas, videogames, etc.
É preciso compreender a constelação de motivos da recusa da criança em não ir à escola.
Entre eles, os relacionados ao contexto familiar ou o social. Não obstante, são mais frequentes no início da escolaridade, ou, por vezes, em mudanças de ciclo, equipamento escolar ou alterações familiares; podem ainda surgir após períodos de férias, de doença.
Assim a recusa ao retorno às aulas, não pode ser entendido como problema que se encerre no aluno. Deve ser compreendido como um processo construído nas relações escolares, nas histórias de vida das pessoas envolvidas, nas relações institucionais e no contexto maior da estrutura social.
Como estratégias, fique atento às mudanças de comportamento de seu filho; explore os sentimentos que a criança vivencia ao falar da escola; se disponibilize a ir com ele a escola e conversar com os professores e a coordenação; se identificarem situações que possam ser enfrentadas, ajude-o a faze-lo, pois estará fortalecendo seu filho diante das dificuldades.
Enfim, não se desespere para não ampliar a angústia da criança e com mais medo de voltar à escola.
A busca de um psicólogo pode ser saudável mesmo por que é preciso saber que mesmo mudando de escola, os traumas vivenciados permanecem no vivido da criança.