“Não é só vergonha”: Quando o silêncio do adolescente esconde algo mais sério

  • post publicado em 22/05/25 às 10:36 AM
  • Tempo estimado de leitura: 5 minutos

 

“Não é só vergonha”: Quando o silêncio do adolescente esconde algo mais sério

Na adolescência, é comum que os jovens passem por fases de insegurança, introspecção e evitem situações que exigem exposição. Muitas vezes, isso é interpretado como “vergonha”, “timidez” ou simplesmente uma fase passageira. Mas, em alguns casos, o que parece um traço de personalidade pode, na verdade, ser sintoma de um sofrimento psíquico mais profundo: a ansiedade social.

Neste artigo, vamos explicar com base na psicologia científica:

  • O que é ansiedade social e como diferenciá-la da timidez e da introversão;
  • O impacto dessa condição na vida escolar, familiar e digital dos adolescentes;
  • Como o cérebro reage em situações de exposição social;
  • O que pais, professores e cuidadores podem fazer para ajudar;
  • E como o projeto Todos Cuidados, do Instituto Suassuna, pode oferecer suporte psicológico acessível e humanizado.

Timidez: uma resposta emocional natural

A timidez é uma resposta comum a situações novas ou sociais. Ela se manifesta como uma sensação de desconforto diante do desconhecido, e não costuma impedir que a pessoa participe da situação.

Adolescentes tímidos geralmente precisam de mais tempo para se sentir à vontade em novos ambientes ou entre pessoas que não conhecem. Mas, com apoio, familiaridade e segurança emocional, eles tendem a se adaptar.

Importante: a timidez não é um transtorno. É um traço que faz parte da personalidade de milhões de pessoas. Não causa sofrimento intenso nem impede o desenvolvimento de relações interpessoais.

Introversão: uma forma de recarregar energias

A introversão também é um traço de personalidade e não está associada a sofrimento psíquico. Pessoas introvertidas preferem ambientes mais calmos, interações profundas e tendem a se sentir esgotadas após longos períodos de socialização.

Na adolescência, jovens introvertidos podem evitar festas grandes ou grupos numerosos, mas não por medo — e sim porque preferem contextos mais íntimos, com menos estímulo sensorial. Isso também é absolutamente saudável e não requer “tratamento”.

Ansiedade social: quando o medo vira barreira

A ansiedade social (ou fobia social, segundo o DSM-5) é um transtorno psicológico caracterizado por medo intenso e persistente de ser julgado negativamente em situações sociais ou de desempenho.

Esse medo pode ser tão paralisante que impede o adolescente de:

  • fazer apresentações em sala,
  • comer ou escrever na frente dos outros,
  • interagir com colegas,
  • frequentar festas, cursos ou ambientes novos,
  • ou até ir à escola regularmente.

A evitação social não é mais uma escolha: é uma tentativa de escapar do sofrimento.

O que a ciência diz sobre isso?

A neurociência nos ajuda a entender o que está por trás da ansiedade social.

Pesquisas com ressonância magnética funcional mostram que o sistema límbico, especialmente a amígdala cerebral, está hiperativado em pessoas com fobia social (Etkin & Wager, 2007). Isso significa que o cérebro interpreta situações sociais como ameaçadoras, mesmo quando objetivamente são seguras.

Além disso, há um desequilíbrio no eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal), levando a uma liberação excessiva de cortisol, o hormônio do estresse. Esse quadro afeta o raciocínio, a memória de curto prazo e a regulação emocional, o que explica por que adolescentes com ansiedade social podem “travar” diante de perguntas simples ou tarefas corriqueiras.

Impacto na vida escolar

A escola é um dos principais cenários onde a ansiedade social se manifesta — e também um dos mais desafiadores. Afinal, o ambiente escolar envolve avaliações constantes, exposição em grupo, interações sociais e comparações entre pares.

Adolescentes com ansiedade social podem:

  • evitar ir à escola, causando queda no rendimento ou evasão;
  • não responder a perguntas, mesmo sabendo a resposta;
  • recusar apresentações orais;
  • ter dificuldade de participar de trabalhos em grupo;
  • sentir-se isolados ou mal interpretados por professores e colegas.

Esses adolescentes não são desinteressados nem apáticos — estão em sofrimento psíquico.

E nas redes sociais?

A ansiedade social também pode se manifestar no mundo digital. Apesar de muitos adolescentes com esse transtorno se sentirem mais confortáveis atrás das telas, o medo do julgamento permanece.

Eles podem:

  • evitar postar fotos ou vídeos por medo de críticas,
  • apagar mensagens por insegurança,
  • sentir vergonha de participar de grupos de conversa,
  • comparar-se constantemente com os outros e se sentirem inferiores.

O uso excessivo das redes também pode funcionar como um mecanismo de evitação, mantendo o adolescente longe das interações presenciais e reforçando seu isolamento.

Como diferenciar o traço do transtorno?

ComportamentoTimidez/IntroversãoAnsiedade Social
Presença de medoLeve e controlávelIntenso, paralisante
Sofrimento subjetivoBaixo ou nenhumAlto — acompanhado de angústia e autocrítica
Evitação de situaçõesPontual e seletivaGeneralizada e constante
Interferência na vidaMínimaAlta — prejuízo acadêmico, relacional e afetivo
Evolução com o tempoCostuma melhorar com o tempoTende a piorar se não for tratada

O que os pais e responsáveis podem observar?

É fundamental que a família esteja atenta a mudanças de comportamento, como:

  • recusa frequente em sair de casa ou ir à escola,
  • queixas físicas antes de eventos sociais (dor de cabeça, náuseas, falta de ar),
  • isolamento crescente,
  • irritabilidade ao ser exposto a qualquer forma de atenção.

Evitar a exposição a todo custo pode parecer uma escolha ou birra, mas na ansiedade social é uma forma de autoproteção contra o sofrimento real.

Como ajudar?

1. Não minimize o que está sendo sentido

Evite frases como:

  • “É só vergonha”,
  • “Você precisa se soltar mais”,
  • “Todo mundo sente isso, vai lá!”

Elas invalidam a experiência e aumentam a culpa.

2. Acolha com empatia

Diga:

  • “Quer me contar o que te deixa desconfortável nessa situação?”
  • “Tudo bem se você estiver nervoso. Vamos pensar juntos em como lidar com isso?”

3. Ofereça apoio prático

  • Combine pequenos desafios: sair de casa, cumprimentar alguém, ligar para um amigo.
  • Normalize o erro, o silêncio, o tempo diferente de cada um.

4. 

Busque ajuda profissional

A psicoterapia é o recurso mais indicado para tratar a ansiedade social. O tratamento ajuda o adolescente a desenvolver habilidades sociais, identificar crenças disfuncionais e, sobretudo, reconhecer seu valor além do olhar do outro.

O papel da escola e dos professores

A escola tem um papel essencial — não apenas como espaço de aprendizagem, mas como ambiente de desenvolvimento emocional.

Professores atentos podem:

  • criar alternativas de apresentação (vídeos, podcasts, apresentações em dupla),
  • incentivar, sem forçar, a exposição gradual do aluno,
  • trabalhar atividades de grupo que valorizem diferentes formas de participação,
  • manter comunicação próxima com a família para apoiar o aluno.

Um ambiente escolar que respeita a diversidade emocional dos estudantes não rotula, mas inclui.

Projeto Todos Cuidados: escuta, acolhimento e acessibilidade

Reconhecendo que muitos adolescentes vivem esse sofrimento silencioso, o Instituto Suassuna criou o projeto Todos Cuidados — uma proposta que conecta adolescentes e suas famílias a psicólogos preparados para oferecer escuta, acolhimento e intervenção qualificada.

O atendimento é:

  • acessível financeiramente, com valores reduzidos;
  • realizado por profissionais em formação avançada, sempre supervisionados;
  • oferecido de forma ética, sigilosa e respeitosa, presencialmente ou online.

O foco do projeto é garantir que nenhuma dor subjetiva passe despercebida. Porque a saúde mental não é luxo: é direito, é cuidado, é prioridade.

Todo silêncio merece atenção

Ser introvertido ou tímido não é um problema. Mas quando o medo de se expor começa a isolar, limitar e causar sofrimento, é hora de buscar escuta qualificada.

Adolescentes têm direito ao tempo próprio de crescer — e também ao cuidado certo na hora certa.

Pais e responsáveis têm o papel de oferecer apoio, mas também de reconhecer os limites daquilo que conseguem fazer sozinhos. E é por isso que a psicologia existe: não para patologizar cada comportamento, mas para ajudar a restaurar a liberdade de ser quem se é — sem medo.

Se você conhece um adolescente que tem se calado demais, evite julgamentos. Escute. Acolha. E, se necessário, encaminhe.

O projeto Todos Cuidados está à disposição para ser esse ponto de partida.

Porque viver não pode ser sinônimo de se esconder.

E crescer, mesmo com medo, é mais leve quando se tem alguém por perto.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527