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Já se deu conta do tanto de mães que existem no nosso Brasil?

  • post publicado em 02/09/21 às 17:20 PM
  • Tempo estimado de leitura: 4 minutos

 

Já se deu conta do tanto de mães que existem no nosso Brasil? Eu tenho a imensa felicidade em poder trabalhar e viver com mulheres-mães que são tão diferentes de mim e tão diferentes umas das outras.

Mas o que faz, a sociedade ter um tratamento generalista, superficial sobre a mulher-mãe?

O conceito social da maternidade

Levantei uma enquete certa vez, para a produção de um capítulo de livro, onde perguntava sobre o papel de mães e pais. De maneira bem comum, 85% das respostas sobre “o que é ser mãe” eram referentes ao cuidado da criança, afeto oferecido e atendimento das necessidades gerais da casa. Esse padrão de entendimento é alimentado diariamente na nossa sociedade, nos filmes, novelas, músicas, alguns comportamentos e pelo senso comum.

Não digo aqui se é certo ou errado, mas de forma crítica, analítica, percebo que permitir que o conceito siga na superficialidade não vai dar luz às questões impactantes do cenário materno, como por exemplo a sobrecarga que muitas mulheres vivenciam, adoecimentos e transtornos de ordem mental por diferentes fatores, e somada a conciliação das atividades, dificuldades sobre seus papeis profissionais, pessoais e parentais.

Nem sempre a mulher que paria o seu filho, era a mesma que cuidava, vale lembrar de tempos anteriores:

“era comum, na sociedade escravista, as mães darem seus filhos para que as amas negras às amamentassem, devido à disponibilidade de mulheres escravizadas que eram direcionadas para essa atividade – entre outros trabalhos domésticos. A proximidade física dessas amas com a família para quem trabalhavam poderia desencadear relações afetivas para além da condição de trabalho, fossem elas escravas ou livres. Heranças desse passado escravista estão presentes na sociedade contemporânea e, em especial no cuidado com as crianças, os limiares entre afetividade e trabalho são habitualmente ultrapassados”

(RODRIGUES, Marta Bonow. Amas de leite: dos anúncios de jornais do Século XIX em Pelotas/RS à atualidade – relações de trabalho e afeto no cuidado com crianças. Tessituras, Pelotas, v. 5, n. 1, p. 185-204, jan./jun. 2017)

Então, o cuidado era oferecido por uma pessoa que não a mãe daquela criança. E com esse pequeno trecho de artigo, percebo o tanto de conceitos por trás de cada palavra, a vulnerabilidade acentuada da mulher negra escravizada, que era separada de seus filhos, suas crianças eram escravizadas e o leite que jorrava de seu peito alimentava a criança “que não recebia cuidado parental dos seus pais”. Me faz pensar nos tempos atuais, o quanto essa imagem ainda é representada, a trabalhadora domestica, deixa seu filho para cuidar do filho da patroa. Mas isso é assunto para um outro texto.

Até aqui entendemos que não foi sempre o mesmo conceito. E isso é importante, apesar de incomodo. Importante, pra lembrarmos que ser mãe é um pedacinho de um papel desempenhado por uma pessoa, e que essa tem sua subjetividade e sua forma de interpretar e ser no mundo. Então, não haverá uma mãe igual a outra. E saber disso trás liberdade, pois apesar de tentarem, não será possível manter o conceito materno dentro de uma caixinha. A parte incomoda, diz respeito aos estereótipos alimentados diariamente de forma sutil, implícito que não objetivamente impõe a mulher-mãe onde ela tem que ficar, mas alimentando esse repertório internamente, faz com que ela mesma se ponha nesses “lugares”, culpa materna, conhece?

Por aqui, sou uma grande incentivadora para mulheres-mães saírem das caixinhas sociais. Seja de forma psicoterapêutica, em grupos de apoio e de escuta. Faço da oportunidade de estar perto delas, amigas intimas, ou alguma que eu esbarre na rua, uma possibilidade de despertar.

Estar desperta é estar conectada com sua essência de vida, ou seja, atendendo suas necessidades reais, se fortalecendo e emancipando emocionalmente para reconhecer os gatilhos e os impositores para que ela volte pra caixinha.

Como você pode despertar?

  • Identificando em que tempo verbal você vivencia (passado, presente ou futuro) – Viver no passado, por uma experiência positiva ou negativa, não te permite compreender em profundidade a sua realidade, o seu agora. O futuro, pode ser incrível ou muito ameaçador, mas continua sendo uma imagem mental, ainda não aconteceu. O presente, o agora bom ou ruim, a oportunidade que você tem de se acolher como é e a partir disso fazer escolhas que estejam alinhadas com seus valores.

  • Compreensão da dimensão corpo-mente e mente-corpo – Somos integrados, mente não funciona sem o corpo, assim como o corpo precisa da mente para funcionar da melhor forma. Seu corpo é um autofalante da mente, ele pode manifestar através de sinais, comportamentos e sintomas, o que a mente ainda não deu conta. Ouvir o que seu corpo diz, pode te ajudar a encontrar pontos de conforto e desconforto e sinais para possíveis modificações.

  • Integrar grupos de mães (diante da sua necessidade) – Grupos de gestação; puerpério; maternidade de crianças com desenvolvimento atípico; mães enlutadas; mães LGBTQIA+; mães universitárias. Conhecer outros formatos de desempenhar papeis, acolherem-se mutuamente, fonte de apoio e força, ampliando seu repertório de compreensões sobre si e de possibilidades de atuar no seu lugar de mãe.


Somos tão únicas e tão plurais!

Respeite sua história e seja uma mãe possível para a sua criança/adolescente.

Seja mais gentil com você e com seus processos e percebendo a necessidade busque ajuda! Você não precisa dar conta de tudo, ok?

Não há uma mãe igual a outra, mesmo que o sobre a temática materna hajam muitas semelhanças . E saber disso trás considerável liberdade. Ser a mãe possível, a mãe no agora, a mulher integrada.

Escrito por Marcella Sandim, mulher-mãe e psicóloga – Especialista em Psicologia e Maternidade – Mestranda em Psicologia pela UFRRJ – Integra o Projeto de Extensão Mães na Universidade UFRJ – Integrante do Núcleo Materna -Integrante do GTI de Saúde Mental Perinatal do Rio de Janeiro – Integrante do Coletivo de Mães e Pais da Rural (COPAMA) – Preceptora de estágio em Pré-Natal Psicológico (UFRRJ) – Membro fundadora do Grupo de Trabalho Parentalidades em Diálogos – Membro fundadora Espaço Casa Mãe – Escritora – Ela é natureza!

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.