Sabe-se que todo SER HUMANO traz consigo a história dos ancestrais,
os costumes, a cultura, as formas de lidar com os outros, consigo, com o
ambiente, a vida e as emoções decorrentes desse processo.
Cada SER HUMANO é uma só vida, mas também é a manifestação de
todo o universo. “Assim como na íris do olho, na orelha, na palma da mão ou do pé está contido todo o corpo humano, do mesmo modo, em cada indivíduo, está contida a humanidade inteira.” (Gutman, L. 2016, p. 67).
Sendo assim, nossas estruturas internas também carregam a história do
homem. A história de nossa família, primeiro núcleo de convívio em grupo,
responsável por nos inserir na cultura; a história de nossos avós, avôs, bisavós, bisavôs e de nossos antepassados.
Independentemente de nossas raízes e ancestralidades, possuímos
emoções comuns, básicas a qualquer ser humano. No entanto, experimentadas de diferentes formas, a partir do contexto em que vivemos.
Rodrigo Fonseca, especialista em Inteligência Emocional e presidente da
Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (SBie), explica que a palavra
“emoção” vem do latim emovere., aquilo que nos move, que movimenta nossa vida. “Uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais baseadas nas memórias emocionais, e surgem quando o cérebro recebe um estímulo externo. O sentimento, por sua vez, é uma resposta à emoção e diz respeito a como a pessoa se sente diante daquela emoção”.
As emoções dão origem aos sentimentos, mas ambos estão extremamente relacionados, pois da mesma forma que uma emoção pode despertar um sentimento, um sentimento é capaz de gerar mais emoções da mesma espécie. Termos consciência de como reagimos e nos sentimos diante de cada emoção é fundamental para nos recuperarmos de uma emoção ou sentimento negativo. As emoções são inconscientes, enquanto os sentimentos são o “juízo” sobre essas emoções.
O psicólogo americano, Daniel Goleman, considerado o “pai da inteligência emocional” define-a como a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerirmos bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.
Para o autor, a Inteligência Emocional é a maior responsável pelo sucesso
ou insucesso dos indivíduos. Como exemplo, o especialista aponta que a maioria das situações de trabalho e da vida são envolvidas por relacionamentos entre as pessoas. Isso significa que pessoas com qualidades de relacionamento humano — como afabilidade, compreensão e gentileza — têm mais chances de alcançar o sucesso.
Todas as emoções, tal como o medo, raiva, tristeza e alegria fazem parte de nós e contribuem diretamente para a nossa sobrevivência. Como disse o querido Marcelo Nagao (8 anos), estudante do terceiro ano C, “As emoções são como sanduíche: nós somos o pão e as emoções são o recheio”. Assim, o
ambiente em que vivemos e crescemos é de suma importância para nosso
desenvolvimento e a formação de nossas estruturas emocionais, cognitivas e físicas.
Estudos apontam que os contextos hostis, de violência e abuso moral, como nos casos de guerra, são determinantes no desenvolvimento de transtornos psíquicos em crianças e, consequentemente, nos futuros adultos. Para além das situações extremas e lamentáveis de guerra, não podemos desconsiderar que é na vida cotidiana que entramos em contato com nossas
questões interiores e construímos nossas características e personalidades.
Assim, considera-se relevante as discussões, reflexões e autorreflexões das
emoções, capacitando-nos a entrar em contato conosco, a identificar e assimilar o que sentimos ao experimentar o mundo, o outro e nossas relações.
Quanto maior nossa habilidade de reconhecer o que acontece conosco (interna e externamente), maior a nossa consciência em relação ao agir e às
atitudes que imprimimos. Também é maior nossa capacidade de se colocar no lugar do outro, nossa empatia. Educar as emoções significa nos tornarmos cada vez mais aptos a lidar com nossos desejos, angústias, frustrações e medos.
As inteligências emocionais e cognitivas caminham paralelamente e, as
competências da inteligência emocional, como autoconhecimento, autogestão, consciência social e administração de relacionamentos, podem contribuir para o desenvolvimento humanitário, permitindo ao indivíduo a busca pelo equilíbrio da razão e emoção. É sob esta perspectiva que a orientação educacional vem desenvolvendo, junto a diversos segmentos da escola, como o corpo docente e a equipe do Integral, atividades ligadas à inteligência emocional, que promovam a reflexão e autorreflexão.
Por meio de rodas reflexivas, atividades planejadas e assembleias trabalhamos com o processo de metacognição (refletir sobre si e seu processo), o desenvolvimento do falar e argumentar (cura pela palavra, o dito torna-se consciente e traz a possibilidade da reflexão) e o desenvolvimento da habilidade de ouvir.
Parte-se da ideia de que as crianças têm o direito de falar e serem ouvidas
quanto a tudo aquilo que as inquieta, intriga, gera dúvidas, desconfortos ou
desconhecimentos. De acordo com Gutman (2016), supor que as crianças não compreendem, ou que não tem por que saber “das coisas dos adultos” é um costume arraigado. No entanto, as situações vivenciadas por nossas crianças cotidianamente, são permeadas e recheadas de “coisas de adulto”.
Um exemplo de tal cenário são os dados obtidos com uma roda reflexiva
realizada numa sala de quinto ano. Nessa roda, organizamos uma discussão em torno de duas questões: “O que é normal para você” e “O que te espanta?”
As situações e fatos que espantam nossas crianças são, todas, situações
sociais e reais, observadas por elas através de noticiários, telejornais e pelo
acesso à internet. São cenários de violências e abusos, tais como, o terrorismo, as guerras, os debates conflituosos na política e na vida, a violência no trânsito, as letras e qualidade da música na atualidade, o preconceito, a desigualdade social.
Quais emoções nosso contexto histórico tem despertado em nossos jovens e crianças? De que forma podemos ajudá-los a entender a si mesmos e o mundo sem julgamentos e preconceitos? Medo e tristeza têm se revelado fortes emoções na vida de nossos adolescentes. Casos de depressão, síndrome do pânico e suicídio são cada vez mais frequentes.
Não há problema nenhum em sentirmos medo ou tristeza, ao contrário,
são emoções que nos ajudam a lidar com as adversidades. No entanto, é
necessário saber identificá-las e reconhecer até onde podemos ou devemos
senti-las, até onde elas nos paralisam diante dos desafios da vida.
Parte-se do princípio de que a verdade, enquanto conhecimento objetivo,
deve nortear nossas discussões e que os fatos devam ser observados sob a
perspectiva de uma lente de aumento, capaz de abarcar a maior quantidade de variáveis, sem preconceitos e julgamentos, pois a Inteligência Emocional pode ser desenvolvida, treinada e aprimorada por meio da construção de novos hábitos, novas formas de pensar e se comportar.
Eloá Azzena Parada – Possui graduação em Pedagogia, Mestrado em Educação pela PUC – SP, Psicanalista, Psicopedagoga, especialista em Educação Ambiental e Desenvolvimento Socioemocional. Atua há 15 anos na educação e possui experiência como professora e Orientadora Educacional em escolas tradicionais e socioconstrutivistas de São Paulo. É Coordenadora Pedagógica da Escola Interamérica em Goiânia e mãe da Lara e da Nina.
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