Dedo podre

  • post publicado em 29/07/20 às 20:00 PM
  • Tempo estimado de leitura: 2 minutos

 

            Alguns adolescentes vêm ao meu consultório reclamar que tem dedo podre e que não vão conseguir nunca uma pessoa ideal. O que eu faço? COFIRMO! Realmente, a pessoa ideal nunca irá aparecer, até porque se aparecer, passará à concretude, deixando de ser idealizada e se sujeitando à vivência diária de um relacionamento real que tem, mais do que acertos, erros.

            Seguindo o tema, a única resposta viável à queixa é que foi a própria pessoa que “apontou seu dedo a alguém”; foi ela quem escolheu. Assim, nada mais se concretiza além de sua escolha pessoal. Revela-se então seu desejo mais profundo: sim, às vezes escolhemos barcos furados… inclusive para testar nossa capacidade de nadar ou remar.

            Quando falamos em dedo podre, estamos falando de um processo de escolhas. A quantas anda o que vc deseja? Essa é a grande pergunta. No ímpeto de não estar só, acabamos aceitando “o que vier”, sem que isso passe por um crivo específico. Muitas vezes, é uma tentativa de preencher um buraco afetivo, seja uma sensação de abandono ou perda – um vazio que corrói por dentro.

            A noção de que outra pessoa pode me completar ou me deixar satisfeito emocionalmente remonta à ideia de que existe uma cara metade, quando na verdade, não é bem assim. O que temos são relações duradouras, nas quais as pessoas se consideram, em sua duplicidade, ou seja, aceitam os dois lados do parceiro. Esse apreço à individualidade não deve ser chamado de cara metade, mas sim de RESPEITO!

            Os relacionamentos são cheios de demandas. A maioria das pessoas espera algo do parceiro, sem saber realmente o que deseja. Esse excesso de cobranças acaba levando os relacionamentos para um buraco sem fundo, onde não há espaço para satisfação ou prazeres, que são sempre sufocados por exigências e reivindicações, cada vez mais difíceis de serem cumpridas.

            Por fim, o dedo podre está em não saber o que realmente podemos oferecer, gratuitamente, ao outro. Quando me conheço, não tenho medo de me entregar de corpo e alma, eliminando quaisquer expectativas que excedam o que realmente sou. O verdadeiro encontro de “almas gêmeas” se dá quando existe um outro também disposto a essa exposição emocional, muitas vezes sofrida, mas ao mesmo tempo, berço de inúmeras possibilidades de cura.

Danilo Suassuna

Foto de Designecologist no Pexels

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia pleo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestal-terapia de Goiânia (ITGT - GO). Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Foi professor da PUC - GO e do ITGT - GO entre os anos de 2006 e 2011; Membro do Conselho Consultivo da Revista da Aborgagem Gestáitica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad - hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC - Minas); Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

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