Alguns adolescentes vêm ao meu consultório reclamar que tem dedo podre e que não vão conseguir nunca uma pessoa ideal. O que eu faço? COFIRMO! Realmente, a pessoa ideal nunca irá aparecer, até porque se aparecer, passará à concretude, deixando de ser idealizada e se sujeitando à vivência diária de um relacionamento real que tem, mais do que acertos, erros.
Seguindo o tema, a única resposta viável à queixa é que foi a própria pessoa que “apontou seu dedo a alguém”; foi ela quem escolheu. Assim, nada mais se concretiza além de sua escolha pessoal. Revela-se então seu desejo mais profundo: sim, às vezes escolhemos barcos furados… inclusive para testar nossa capacidade de nadar ou remar.
Quando falamos em dedo podre, estamos falando de um processo de escolhas. A quantas anda o que vc deseja? Essa é a grande pergunta. No ímpeto de não estar só, acabamos aceitando “o que vier”, sem que isso passe por um crivo específico. Muitas vezes, é uma tentativa de preencher um buraco afetivo, seja uma sensação de abandono ou perda – um vazio que corrói por dentro.
A noção de que outra pessoa pode me completar ou me deixar satisfeito emocionalmente remonta à ideia de que existe uma cara metade, quando na verdade, não é bem assim. O que temos são relações duradouras, nas quais as pessoas se consideram, em sua duplicidade, ou seja, aceitam os dois lados do parceiro. Esse apreço à individualidade não deve ser chamado de cara metade, mas sim de RESPEITO!
Os relacionamentos são cheios de demandas. A maioria das pessoas espera algo do parceiro, sem saber realmente o que deseja. Esse excesso de cobranças acaba levando os relacionamentos para um buraco sem fundo, onde não há espaço para satisfação ou prazeres, que são sempre sufocados por exigências e reivindicações, cada vez mais difíceis de serem cumpridas.
Por fim, o dedo podre está em não saber o que realmente podemos oferecer, gratuitamente, ao outro. Quando me conheço, não tenho medo de me entregar de corpo e alma, eliminando quaisquer expectativas que excedam o que realmente sou. O verdadeiro encontro de “almas gêmeas” se dá quando existe um outro também disposto a essa exposição emocional, muitas vezes sofrida, mas ao mesmo tempo, berço de inúmeras possibilidades de cura.
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