Atendendo uma pessoa muito querida recentemente, me deparei com uma fala muito boa e até pedi um minuto para anotar. A família toda esteve em momento complicado em meio à Covid-19. O filho virou enfermeiro e doente ao mesmo tempo. Cuidava do pai, da mãe, e quando sobrava um tempo, atendia, por meio de mídias sociais, algumas demandas de outros membros da família… Ah! e cuidava de si também, às vezes. Daí surgiu nossa intrigante conversa. “Estamos aqui falando de quê?” – me perguntou ele, e continuou… “de uma carga viral ou emocional?”.
Quantos são os sentimentos e sensações, muitas vezes deixados de lado, ignorados, tanto em cuidadores formais, informais ou mesmo o cuidador familiar – doente ou não. Para além de um vírus e uma pandemia, temos pessoas que sofrem arduamente na tarefa do cuidar. Fica a dor de reconhecer a derrota diante um inimigo invisível.
Para quem passa ou passou pela experiência, ficam momentos de angústia e temor frente a incapacidade ou a impossibilidade de agir; sobra a espera, e quem sabe o suspiro por um resultado melhor. Àqueles que perderam entes queridos, a dor da perda e da “não” despedida.
Em tempos de pandemia e sofrimentos, é certo estarmos atentos, a todo instante, ao momento em que a carga viral está alta ou baixa, o nível de saturação, e outros mil indicadores de saúde (que são de suma importância). Porém, em nenhum momento, aventa-se perguntar sobre a saúde emocional, seja do paciente, seja do cuidador.
Palavra simples, mas com implicações infinitas. Perceber o Outro para além de si é deixar-se de lado em detrimento de outrem, e isso pesa muito. Seguindo um velho ensinamento, considero importante “amar ao próximo como a ti mesmo”.
Abraço
Foto de Nandhu Kumar no Pexels