São muitos os aspectos envolvidos no processo de reprodução, apesar de toda modernidade e conquistas ocorridas nos últimos anos, o desejo de continuidade permanece vivo e assim, a maternidade e paternidade são fortemente alimentados. As pessoas com diagnostico de infertilidade fadadas a não edificarem seus núcleos familiares com filhos biológicos, descrevem sentimentos diversos, dentre estes culpa e estigmatização, seus destinos, entretanto foram alterados a partir do desenvolvimento da biotecnologia e da medicina reprodutiva.
Uma parcela da população mundial (15%) seria afetada pela infertilidade e o longo do percurso proporcionado pelos avanços tecnológicos, supõe-se que a maioria dos casos se deva a questões socioculturais.
O processo de reprodução seja ela natural ou assistida pode receber interferências do estado emocional, visto que quando a pessoa se encontra incapaz de engravidar experiência vários sentimentos; pois a validação de sua identidade se dá a partir construção cultural da sociedade em que vive e a reprodução ocupa um lugar significativo neste dinamismo. A ausência de gestação e/ou do filho pode contribuir para o aumento da instabilidade emocional e o nível de ansiedade, com frequência, gera estresse.
No meio cientifico/ clínico é sabido que a infertilidade pode ser causada por inúmeros fatores relacionados à mulher, ao homem, ou a ambos; muito embora a reprodução se dê a partir da função biológica que permite produzir descendentes, na maioria dos casos de infertilidade é a combinação de vários fatores que acabam demandando reflexões de diversas áreas de conhecimento dentre elas a psicologia, apesar da relação entre estados psíquicos e funções fisiológicas é de enorme complexidade, não existindo portanto uma relação simples e linear.
Na busca por compreender o sentido da infertilidade e não sua causa, nos encontramos diante de diversas questões, a históricas que descrevem os, os registros de tratamentos e remontam ao período do Brasil colônia, onde havia uma mística muito grande em torno da reprodução, os tratamentos aplicados tinham implicações religiosas e seguiam rituais exóticos. A infertilidade era considerada fruto do pecado ou de artimanhas demoníacas e a cura dependiam da vontade divina, nesta ocasião a sociedade brasileira não atribuía ao conhecimento científico a possibilidade da cura.
A infertilidade sempre foi estigmatizada, trazendo consigo discriminação e gerando vários sentimentos negativos, apesar de termos andado a passos largos, ainda hoje questionamentos éticos e religiosos despontam na vida da pessoa com diagnostico de infertilidade. Recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um documento muito esperado pela comunidade internacional que representa sua posição com respeito à infertilidade e aos cuidados com a fertilidade. De acordo com este registro, a infertilidade constitui uma falta de saúde e, sobretudo, uma enfermidade com predomínio do mal-estar psíquico, social e físico.
Inobstante aos avanços sociais, científicos e/ou tecnológicos, a fisiologia ligada ao processo reprodutivo interfere, de forma direta ou indireta, na capacidade de procriar e a partir dos progressos, cada vez mais a chegada de um filho pode ser, e na realidade o é, decorrência de uma atitude racional, consciente e programada.
Há evidências de que a infertilidade não deva ser entendida como uma doença clássica com seus componentes: dor, internação, risco de vida, pois ela pode coexistir sem eles; muito embora desencadeie diversas alterações psicológicas. (Seger & Melamed 2020)
O psicólogo, neste contexto, deve oferecer um importante espaço de acolhimento e escuta; de reconhecimento e valorização da história de cada paciente que chega com o mesmo sonho que os outros, mas com uma vivência única, em todo seu espectro psicossocial”. (Seger,2009; Avelar 2019)
Referência Bibliográfica
Avelar, C.C. (2019). Útero de substituição e seus impactos na filiação e subjetivação. In: J. Quayle, L.M.N. Dornelles, D.M. Farinati (Orgs). Psicologia em Reprodução Assistida. Editora dos Editores, pp. 301-315.
Seger, L., & Melamed, R. (2020). A Saúde e a doença na reprodução assistida – Psicologia. In. E. Borges Jr.; D. P. A. F. Braga; A. S. Setti – Reprodução Humana Assistida – Associação Instituto Sapientiae -São Paulo: Editora Atheneu. (2nd ed., pp. 309 – 316).
Seger, L. (2009) Avaliação emocional do paciente de reprodução humana assistida (RHA). In. Melamed, R., Seger, L., Borges Junior, E. Psicologia e Reprodução Humana Assistida uma abordagem multidisciplinar São Paulo: Grupo GEN. (1st ed. pp. 81 – 92).
Organização Mundial da Saúde (OMS) in. https://redelara.com
Autor: Rose Marie Massaro Melamed Psicóloga