Celular e relacionamento

  • post publicado em 17/09/25 às 13:35 PM
  • Tempo estimado de leitura: 3 minutos

 

Phubbing: como o celular pode corroer seus relacionamentos sem que você perceba

Introdução

Você já esteve em uma conversa importante e, de repente, a outra pessoa pegou o celular e começou a mexer? Esse comportamento tem nome: phubbing — junção das palavras phone (telefone) e snubbing (esnobar, ignorar). O termo descreve o hábito de ignorar alguém presente para dar atenção ao aparelho.

Embora pareça apenas um detalhe do cotidiano, pesquisas apontam que o phubbing está longe de ser inofensivo. Ele pode gerar conflitos, sentimentos de rejeição e até corroer a qualidade dos relacionamentos amorosos e de amizade. O mais intrigante é que, muitas vezes, quem pratica o phubbing nem percebe o que está fazendo.

Por que o phubbing acontece?

A psicologia e a neurociência ajudam a explicar por que esse comportamento se tornou tão comum:

  1. Reforço imediato e viciante

    Notificações e interações digitais funcionam como recompensas variáveis — um mecanismo semelhante ao dos jogos de azar. Isso nos leva a checar o celular repetidamente, muitas vezes de forma automática (Alter, 2017).
  2. Medo de ficar por fora (FoMO)

    O receio de perder algo importante nas redes sociais — o famoso Fear of Missing Out — alimenta a necessidade de vigilância constante (Przybylski et al., 2013).
  3. Impulsividade e baixa autorregulação

    Estudos mostram que pessoas com maior impulsividade têm mais dificuldade em resistir à vontade de olhar o aparelho (Balta et al., 2020).
  4. Normas sociais

    Como todos usam smartphones, tornou-se “aceitável” checar mensagens a qualquer momento, criando a ilusão de que olhar rapidamente não causa impacto.
  5. Falta de consciência

    Muitas vezes, quem pratica o phubbing sequer percebe a frequência desse comportamento ou como ele é interpretado pelo outro.

Impactos do phubbing nos relacionamentos

Se por um lado o celular aproxima pessoas distantes, por outro pode afastar quem está ao nosso lado. Pesquisas recentes mostram efeitos consistentes:

  • Redução da satisfação conjugal e afetiva

    Estudos apontam que parceiros que percebem ser ignorados pelo celular relatam menor satisfação no relacionamento (Roberts & David, 2016).
  • Sentimentos de exclusão e negligência

    Quem sofre phubbing costuma sentir-se menos valorizado e menos conectado emocionalmente ao parceiro (Chotpitayasunondh & Douglas, 2018).
  • Conflitos mais frequentes

    O uso do celular durante interações é visto como desrespeitoso, gerando discussões e ressentimento.
  • Prejuízos à saúde mental

    Há associação entre phubbing e sentimentos de solidão, ansiedade, estresse e até sintomas depressivos (Bucuta et al., 2023).

Além disso, fatores individuais — como estilo de apego inseguro, baixa autoestima ou ciúmes — podem intensificar os efeitos negativos do phubbing.

O que a ciência ainda não sabe

É importante destacar que a maior parte dos estudos é correlacional. Isso significa que não podemos afirmar com 100% de certeza se o phubbing causa a deterioração do relacionamento ou se relações já frágeis favorecem o aumento desse hábito. Pesquisas longitudinais ainda são necessárias.

O que fazer para diminuir o phubbing?

A boa notícia é que o phubbing pode ser prevenido e reduzido com medidas simples:

  • Estabeleça regras claras: criar momentos “sem celular”, como durante refeições ou conversas importantes.
  • Converse com o parceiro: expresse como se sente quando é ignorado pelo aparelho. Muitas vezes, a outra pessoa não percebe o impacto.
  • Pratique atenção plena (mindfulness): treinos de presença ajudam a reduzir a reatividade automática ao celular.
  • Reduza notificações: silencie alertas que não são essenciais, diminuindo a tentação de checar o tempo todo.
  • Busque apoio profissional: se o uso excessivo do celular já compromete o bem-estar ou o relacionamento, a psicoterapia pode ajudar a compreender e modificar o comportamento.

Conclusão

O phubbing é um exemplo de como a tecnologia pode interferir nas relações humanas de forma silenciosa e, muitas vezes, inconsciente. Mais do que um hábito irritante, ele traz impactos reais sobre a qualidade dos vínculos, a saúde mental e a satisfação conjugal.

Dr. Danilo Suassuna, como psicólogo, lembra que a chave está no equilíbrio: não se trata de demonizar o celular, mas de usá-lo de forma consciente. Estar presente, de corpo e mente, é um dos maiores presentes que podemos oferecer a quem amamos.

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

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