

Phubbing: como o celular pode corroer seus relacionamentos sem que você perceba
Introdução
Você já esteve em uma conversa importante e, de repente, a outra pessoa pegou o celular e começou a mexer? Esse comportamento tem nome: phubbing — junção das palavras phone (telefone) e snubbing (esnobar, ignorar). O termo descreve o hábito de ignorar alguém presente para dar atenção ao aparelho.
Embora pareça apenas um detalhe do cotidiano, pesquisas apontam que o phubbing está longe de ser inofensivo. Ele pode gerar conflitos, sentimentos de rejeição e até corroer a qualidade dos relacionamentos amorosos e de amizade. O mais intrigante é que, muitas vezes, quem pratica o phubbing nem percebe o que está fazendo.
Por que o phubbing acontece?
A psicologia e a neurociência ajudam a explicar por que esse comportamento se tornou tão comum:
- Reforço imediato e viciante
Notificações e interações digitais funcionam como recompensas variáveis — um mecanismo semelhante ao dos jogos de azar. Isso nos leva a checar o celular repetidamente, muitas vezes de forma automática (Alter, 2017). - Medo de ficar por fora (FoMO)
O receio de perder algo importante nas redes sociais — o famoso Fear of Missing Out — alimenta a necessidade de vigilância constante (Przybylski et al., 2013). - Impulsividade e baixa autorregulação
Estudos mostram que pessoas com maior impulsividade têm mais dificuldade em resistir à vontade de olhar o aparelho (Balta et al., 2020). - Normas sociais
Como todos usam smartphones, tornou-se “aceitável” checar mensagens a qualquer momento, criando a ilusão de que olhar rapidamente não causa impacto. - Falta de consciência
Muitas vezes, quem pratica o phubbing sequer percebe a frequência desse comportamento ou como ele é interpretado pelo outro.
Impactos do phubbing nos relacionamentos
Se por um lado o celular aproxima pessoas distantes, por outro pode afastar quem está ao nosso lado. Pesquisas recentes mostram efeitos consistentes:
- Redução da satisfação conjugal e afetiva
Estudos apontam que parceiros que percebem ser ignorados pelo celular relatam menor satisfação no relacionamento (Roberts & David, 2016). - Sentimentos de exclusão e negligência
Quem sofre phubbing costuma sentir-se menos valorizado e menos conectado emocionalmente ao parceiro (Chotpitayasunondh & Douglas, 2018). - Conflitos mais frequentes
O uso do celular durante interações é visto como desrespeitoso, gerando discussões e ressentimento. - Prejuízos à saúde mental
Há associação entre phubbing e sentimentos de solidão, ansiedade, estresse e até sintomas depressivos (Bucuta et al., 2023).
Além disso, fatores individuais — como estilo de apego inseguro, baixa autoestima ou ciúmes — podem intensificar os efeitos negativos do phubbing.
O que a ciência ainda não sabe
É importante destacar que a maior parte dos estudos é correlacional. Isso significa que não podemos afirmar com 100% de certeza se o phubbing causa a deterioração do relacionamento ou se relações já frágeis favorecem o aumento desse hábito. Pesquisas longitudinais ainda são necessárias.
O que fazer para diminuir o phubbing?
A boa notícia é que o phubbing pode ser prevenido e reduzido com medidas simples:
- Estabeleça regras claras: criar momentos “sem celular”, como durante refeições ou conversas importantes.
- Converse com o parceiro: expresse como se sente quando é ignorado pelo aparelho. Muitas vezes, a outra pessoa não percebe o impacto.
- Pratique atenção plena (mindfulness): treinos de presença ajudam a reduzir a reatividade automática ao celular.
- Reduza notificações: silencie alertas que não são essenciais, diminuindo a tentação de checar o tempo todo.
- Busque apoio profissional: se o uso excessivo do celular já compromete o bem-estar ou o relacionamento, a psicoterapia pode ajudar a compreender e modificar o comportamento.
Conclusão
O phubbing é um exemplo de como a tecnologia pode interferir nas relações humanas de forma silenciosa e, muitas vezes, inconsciente. Mais do que um hábito irritante, ele traz impactos reais sobre a qualidade dos vínculos, a saúde mental e a satisfação conjugal.
Dr. Danilo Suassuna, como psicólogo, lembra que a chave está no equilíbrio: não se trata de demonizar o celular, mas de usá-lo de forma consciente. Estar presente, de corpo e mente, é um dos maiores presentes que podemos oferecer a quem amamos.