As Transformações no Papel Paterno no Século XXI: Uma Análise Psicossocial

  • post publicado em 23/10/24 às 09:26 AM
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As Transformações no Papel Paterno no Século XXI: Uma Análise Psicossocial

O conceito de paternidade no século XXI passou por mudanças profundas, refletindo as transformações sociais, culturais e tecnológicas da contemporaneidade. Modelos tradicionais de pai-provedor estão sendo desafiados por novas configurações familiares e novas formas de exercer a paternidade. Entre essas novas formas, destacam-se a paternidade homoafetiva, transgênero, solo e a coparentalidade. Cada uma dessas modalidades traz desafios e oportunidades únicas para os pais e, consequentemente, para a estrutura psicológica familiar.

Paternidade Homoafetiva: Quebrando Paradigmas de Gênero

A paternidade homoafetiva desafia antigas noções sobre a necessidade de um pai e uma mãe para o desenvolvimento saudável da criança. No contexto das famílias formadas por casais homoafetivos, a divisão de responsabilidades e afetos não segue necessariamente os papéis de gênero tradicionais. Estudos na psicologia demonstram que o que realmente importa para o bem-estar emocional das crianças é a qualidade do vínculo e do cuidado recebido, e não o gênero ou a orientação sexual dos pais.

A psicologia do desenvolvimento enfatiza que crianças criadas em lares homoafetivos tendem a desenvolver habilidades sociais e emocionais de maneira semelhante às criadas em lares heteronormativos. A inclusão de figuras masculinas e femininas pode ocorrer em outros contextos, como avós, tios ou amigos próximos, sem comprometer a saúde emocional da criança.

Paternidade Transgênero: Uma Nova Perspectiva de Inclusão

Pais transgêneros enfrentam um conjunto único de desafios e oportunidades ao assumirem seu papel paternal. Muitas vezes, a transição de gênero acontece depois de já terem se tornado pais, o que pode exigir uma reconfiguração familiar. A psicologia oferece insights sobre a importância de ajudar as crianças a compreenderem e aceitarem a transição de seus pais, promovendo o diálogo aberto e o suporte emocional.

Um dos pontos centrais dessa modalidade de paternidade é que, para as crianças, o essencial é a continuidade do cuidado e do afeto. De acordo com estudos de psicologia da família, crianças que têm um pai transgênero podem inicialmente passar por um processo de ajustamento, mas o fator decisivo para seu bem-estar é a qualidade do vínculo emocional com o cuidador.

Paternidade Solo: Desafios da Criação Individual

A paternidade solo ocorre quando o pai, por diversas circunstâncias, assume integralmente a criação dos filhos sem a presença de uma mãe ou parceira(o). Esse tipo de paternidade pode surgir de contextos de divórcio, viuvez, ou mesmo da escolha deliberada de homens que optam por ter filhos por meios como adoção ou reprodução assistida.

Para esses pais, a psicologia destaca a importância de uma rede de apoio, visto que o acúmulo de responsabilidades pode gerar altos níveis de estresse. O apoio psicológico também é vital para ajudar esses pais a enfrentar o estigma social que pode surgir pela ausência de uma figura materna, especialmente em culturas onde a maternidade ainda é considerada central na criação dos filhos. Estudos sugerem que pais solos podem desenvolver estratégias de coping (superação de adversidades) que incluem uma maior aproximação emocional com os filhos, criando laços profundos e estáveis.

Coparentalidade: A Criação Compartilhada

A coparentalidade, por sua vez, refere-se à prática de criar um filho em conjunto com outro adulto, sem necessariamente haver uma relação romântica entre os coparentes. Essa modalidade pode ocorrer tanto entre pais biológicos que se separaram, quanto entre amigos ou conhecidos que decidem compartilhar a criação de um filho.

A psicologia da coparentalidade foca na importância da comunicação clara e da cooperação entre os coparentes. Quando os adultos conseguem manter uma colaboração saudável, o benefício para a criança é significativo, pois ela é capaz de experienciar diferentes formas de amor e cuidado. O principal desafio psicológico, entretanto, envolve a gestão de possíveis conflitos entre os coparentes e como esses conflitos podem afetar o bem-estar emocional da criança.

O Papel da Psicologia nas Novas Paternidades

As transformações no papel paterno trazem à tona questões psicológicas essenciais, principalmente relacionadas ao bem-estar dos filhos e à saúde emocional dos pais. A psicologia moderna oferece ferramentas e insights valiosos para ajudar pais e filhos a navegar por essas novas realidades familiares.

Nas paternidades homoafetivas, a abordagem psicológica pode enfatizar o fortalecimento do vínculo familiar e a criação de ambientes inclusivos, que ajudem as crianças a se sentirem seguras e amadas. No caso de pais transgêneros, o suporte psicológico tanto para o pai quanto para os filhos é essencial para promover a aceitação e a compreensão mútua. Já na paternidade solo, a psicologia foca em fornecer estratégias para lidar com o estresse e as responsabilidades parentais, além de combater o isolamento social. E, finalmente, na coparentalidade, a mediação e o fortalecimento da comunicação entre os pais são fundamentais para o sucesso dessa modalidade.

A flexibilidade e a adaptação são habilidades essenciais para todos esses tipos de paternidade, e o papel do psicólogo é ajudar os pais a desenvolverem essas competências. Independentemente da forma que a paternidade assume, o fator mais importante, de acordo com pesquisas psicológicas, é o afeto, a atenção e o suporte emocional que a criança recebe.

Conclusão: Novos Caminhos para a Paternidade

O século XXI trouxe uma diversidade de formas de exercer a paternidade, e a psicologia desempenha um papel crucial em ajudar pais e filhos a se adaptarem e prosperarem nessas novas configurações familiares. Paternidade não se trata apenas de cumprir papéis sociais ou culturais, mas sim de garantir o desenvolvimento saudável e feliz das crianças, em um ambiente de amor, respeito e apoio.

Se você é pai ou está pensando em ser, ou se simplesmente se interessa por essas novas configurações familiares, o que mais chamou sua atenção neste artigo? Que outros desafios você acha que essas novas formas de paternidade podem enfrentar? Deixe sua opinião nos comentários!

Dr. Danilo Suassuna

CRP 09/

Ms. Mariana Saloio

09/12344

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.