Arrogância ou prepotência ?

  • post publicado em 22/10/25 às 11:38 AM
  • Tempo estimado de leitura: 4 minutos

 

Arrogância ou prepotência? 

Reconhecer-se não é arrogância: é maturidade emocional! 

Você já se sentiu em dúvida se está sendo confiante demais ou arrogante?

Em um mundo que valoriza quem “se impõe”, é fácil confundir autoconfiança com prepotência — e, muitas vezes, quem aprende a reconhecer seu próprio valor é mal interpretado.

Mas há uma diferença profunda entre se colocar no mundo com firmeza e se colocar acima do mundo.

Como costumo dizer:

“Não é dar passo pra frente; é lembrar de dar passo pra trás.”

Esse passo pra trás não é retrocesso. É pausa. É consciência. É o movimento de quem aprende a reconhecer a si mesmo sem perder o vínculo com o outro.


Arrogância, prepotência e reconhecimento de si: o que muda?

A arrogância é o desejo de parecer superior.

A prepotência é o ato de tentar impor essa superioridade.

O reconhecimento de si é o equilíbrio entre saber o próprio valor e respeitar o valor dos outros.

Na clínica, vejo com frequência pessoas que confundem autoconhecimento com autodefesa.

Elas acreditam que precisam se afirmar o tempo todo — interrompem, disputam, corrigem, precisam “ter razão”. Por trás disso, quase sempre existe medo: medo de não ser visto, de não ser ouvido, de não ser suficiente.

Erich Fromm (1941) já dizia que “o homem moderno foge da liberdade porque teme a responsabilidade que ela traz”.

E reconhecer-se é justamente o contrário dessa fuga: é aceitar a responsabilidade de ser quem se é, com limites, erros e acertos.

Exemplo cotidiano: o chefe e o líder

Pense em um ambiente de trabalho.

O chefe arrogante se exibe, exige, humilha.

O líder maduro escuta, orienta e reconhece talentos.

Um fala para provar que sabe.

O outro fala para ajudar o outro a crescer.

Ambos ocupam o mesmo espaço de autoridade, mas a diferença está na intenção — e na consciência.

Como ressalto nas formações do Instituto Suassuna:

“O verdadeiro reconhecimento não precisa de palco. Precisa de coerência.”

Por que é tão fácil confundir autoconfiança com arrogância?

Desde cedo, muitas pessoas foram ensinadas a diminuir o próprio brilho.

Frases como “não se ache”, “quem fala demais se exibe” ou “fica quieto, não precisa mostrar” são marcas culturais que reprimem a autoexpressão.

A consequência é uma geração que, ao tentar se posicionar, sente culpa — e, ao tentar ser humilde, se apaga.

Carl Rogers (1959) chamou isso de incongruência: quando o que sentimos dentro de nós não pode ser expresso de forma autêntica.

Esse descompasso gera sofrimento.

A pessoa se cobra para ser “simpática”, “modesta”, “agradável”, mas se sente frustrada por não conseguir se colocar.

Reconhecer-se é quebrar esse ciclo.

É dizer: “Eu tenho valor, mas não sou melhor que ninguém.”

É um gesto de equilíbrio emocional — não de vaidade.

Dar passo pra frente e passo pra trás

A vida pede ritmo.

Existem momentos de avançar — falar, conquistar, agir.

Mas também existem momentos de recuar — ouvir, refletir, se reposicionar.

Dar passo pra trás, como costumo dizer, é sinal de presença psíquica.

É o instante em que o sujeito observa o que está sentindo antes de reagir.

Viktor Frankl (1946) chamou isso de liberdade interior:

“Entre o estímulo e a resposta, existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher a resposta.”

A arrogância é o oposto disso — é reação automática, movida por medo ou insegurança.

O reconhecimento de si é resposta consciente, movida por maturidade.

Como cultivar o reconhecimento de si (sem cair na prepotência)

  1. Pratique a escuta.

    Falar sobre si é importante, mas ouvir o outro é essencial para o equilíbrio das relações.

    Autoconhecimento sem empatia vira narcisismo.
  2. Observe suas intenções.

    Pergunte-se: “Quero ajudar ou quero provar algo?”

    A resposta revela se há arrogância escondida no gesto.
  3. Aprenda com o erro.

    Quem se reconhece não precisa parecer perfeito.

    A vulnerabilidade é parte da força.
  4. Valorize o silêncio.

    Em um mundo barulhento, quem sabe se calar demonstra domínio emocional.

    Como dizemos na clínica: silêncio também é linguagem.
  5. Busque ajuda se for difícil se enxergar com clareza.

    A psicoterapia é o espaço onde o sujeito aprende a se ver sem filtros, sem exageros e sem autodepreciação.

    Projetos como o Todos Cuidados do Instituto Suassuna nascem justamente desse propósito: oferecer acompanhamento acessível e humano, ajudando pessoas a reconhecerem seu valor sem precisarem se sobrepor a ninguém.

Reconhecer-se é voltar para si

Reconhecer-se é um ato de coragem.

Exige recuar quando o ego quer avançar.

Exige escutar quando a mente quer provar.

E, acima de tudo, exige humildade para admitir que ainda há o que aprender.

Como digo com frequência nas formações para psicólogos:

“Quem não se reconhece vive disputando espaço; quem se reconhece cria espaço.”

Reconhecer-se é o que sustenta a autenticidade, a presença e o cuidado.

É o que transforma a arrogância em consciência — e a prepotência em responsabilidade.

Dar passo pra trás, às vezes, é o maior avanço que a alma pode dar.

Com o Todos Cuidados, o passo pra trás vira passo de cuidado

O Projeto Todos Cuidados, do Instituto Suassuna, nasceu com o propósito de transformar esse passo pra trás em um gesto de saúde mental coletiva.

Cada sessão é uma oportunidade de pausa — um espaço de escuta, acolhimento e reflexão sobre si mesmo.

Porque reconhecer-se não é um ato solitário.

É um movimento que se sustenta em relação: comigo, com o outro e com o mundo.

E quando o cuidado com o outro é levado a sério, o reconhecimento de si deixa de ser arrogância e passa a ser presença.

Uma presença que cuida, transforma e dá sentido ao que somos — juntos.

https://institutosuassuna.com.br/todos-cuidados

Por Dr. Danilo Suassuna, psicólogo e doutor em Psicologia

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527