

Arrogância ou prepotência?
Reconhecer-se não é arrogância: é maturidade emocional!
Você já se sentiu em dúvida se está sendo confiante demais ou arrogante?
Em um mundo que valoriza quem “se impõe”, é fácil confundir autoconfiança com prepotência — e, muitas vezes, quem aprende a reconhecer seu próprio valor é mal interpretado.
Mas há uma diferença profunda entre se colocar no mundo com firmeza e se colocar acima do mundo.
Como costumo dizer:
“Não é dar passo pra frente; é lembrar de dar passo pra trás.”
Esse passo pra trás não é retrocesso. É pausa. É consciência. É o movimento de quem aprende a reconhecer a si mesmo sem perder o vínculo com o outro.
Arrogância, prepotência e reconhecimento de si: o que muda?
A arrogância é o desejo de parecer superior.
A prepotência é o ato de tentar impor essa superioridade.
O reconhecimento de si é o equilíbrio entre saber o próprio valor e respeitar o valor dos outros.
Na clínica, vejo com frequência pessoas que confundem autoconhecimento com autodefesa.
Elas acreditam que precisam se afirmar o tempo todo — interrompem, disputam, corrigem, precisam “ter razão”. Por trás disso, quase sempre existe medo: medo de não ser visto, de não ser ouvido, de não ser suficiente.
Erich Fromm (1941) já dizia que “o homem moderno foge da liberdade porque teme a responsabilidade que ela traz”.
E reconhecer-se é justamente o contrário dessa fuga: é aceitar a responsabilidade de ser quem se é, com limites, erros e acertos.
Exemplo cotidiano: o chefe e o líder
Pense em um ambiente de trabalho.
O chefe arrogante se exibe, exige, humilha.
O líder maduro escuta, orienta e reconhece talentos.
Um fala para provar que sabe.
O outro fala para ajudar o outro a crescer.
Ambos ocupam o mesmo espaço de autoridade, mas a diferença está na intenção — e na consciência.
Como ressalto nas formações do Instituto Suassuna:
“O verdadeiro reconhecimento não precisa de palco. Precisa de coerência.”
Por que é tão fácil confundir autoconfiança com arrogância?
Desde cedo, muitas pessoas foram ensinadas a diminuir o próprio brilho.
Frases como “não se ache”, “quem fala demais se exibe” ou “fica quieto, não precisa mostrar” são marcas culturais que reprimem a autoexpressão.
A consequência é uma geração que, ao tentar se posicionar, sente culpa — e, ao tentar ser humilde, se apaga.
Carl Rogers (1959) chamou isso de incongruência: quando o que sentimos dentro de nós não pode ser expresso de forma autêntica.
Esse descompasso gera sofrimento.
A pessoa se cobra para ser “simpática”, “modesta”, “agradável”, mas se sente frustrada por não conseguir se colocar.
Reconhecer-se é quebrar esse ciclo.
É dizer: “Eu tenho valor, mas não sou melhor que ninguém.”
É um gesto de equilíbrio emocional — não de vaidade.
Dar passo pra frente e passo pra trás
A vida pede ritmo.
Existem momentos de avançar — falar, conquistar, agir.
Mas também existem momentos de recuar — ouvir, refletir, se reposicionar.
Dar passo pra trás, como costumo dizer, é sinal de presença psíquica.
É o instante em que o sujeito observa o que está sentindo antes de reagir.
Viktor Frankl (1946) chamou isso de liberdade interior:
“Entre o estímulo e a resposta, existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher a resposta.”
A arrogância é o oposto disso — é reação automática, movida por medo ou insegurança.
O reconhecimento de si é resposta consciente, movida por maturidade.
Como cultivar o reconhecimento de si (sem cair na prepotência)
- Pratique a escuta.
Falar sobre si é importante, mas ouvir o outro é essencial para o equilíbrio das relações.
Autoconhecimento sem empatia vira narcisismo. - Observe suas intenções.
Pergunte-se: “Quero ajudar ou quero provar algo?”
A resposta revela se há arrogância escondida no gesto. - Aprenda com o erro.
Quem se reconhece não precisa parecer perfeito.
A vulnerabilidade é parte da força. - Valorize o silêncio.
Em um mundo barulhento, quem sabe se calar demonstra domínio emocional.
Como dizemos na clínica: silêncio também é linguagem. - Busque ajuda se for difícil se enxergar com clareza.
A psicoterapia é o espaço onde o sujeito aprende a se ver sem filtros, sem exageros e sem autodepreciação.
Projetos como o Todos Cuidados do Instituto Suassuna nascem justamente desse propósito: oferecer acompanhamento acessível e humano, ajudando pessoas a reconhecerem seu valor sem precisarem se sobrepor a ninguém.
Reconhecer-se é voltar para si
Reconhecer-se é um ato de coragem.
Exige recuar quando o ego quer avançar.
Exige escutar quando a mente quer provar.
E, acima de tudo, exige humildade para admitir que ainda há o que aprender.
Como digo com frequência nas formações para psicólogos:
“Quem não se reconhece vive disputando espaço; quem se reconhece cria espaço.”
Reconhecer-se é o que sustenta a autenticidade, a presença e o cuidado.
É o que transforma a arrogância em consciência — e a prepotência em responsabilidade.
Dar passo pra trás, às vezes, é o maior avanço que a alma pode dar.
Com o Todos Cuidados, o passo pra trás vira passo de cuidado
O Projeto Todos Cuidados, do Instituto Suassuna, nasceu com o propósito de transformar esse passo pra trás em um gesto de saúde mental coletiva.
Cada sessão é uma oportunidade de pausa — um espaço de escuta, acolhimento e reflexão sobre si mesmo.
Porque reconhecer-se não é um ato solitário.
É um movimento que se sustenta em relação: comigo, com o outro e com o mundo.
E quando o cuidado com o outro é levado a sério, o reconhecimento de si deixa de ser arrogância e passa a ser presença.
Uma presença que cuida, transforma e dá sentido ao que somos — juntos.
Por Dr. Danilo Suassuna, psicólogo e doutor em Psicologia