Abordagem Gestáltica Vai Morrer

  • post publicado em 27/10/25 às 16:00 PM
  • Tempo estimado de leitura: 6 minutos

 

Abordagem Gestáltica Vai Morrer!

Sim, você leu certo. A abordagem gestáltica vai morrer — se não cuidarmos dela.
Vai morrer se continuar trancada nas quatro paredes do consultório.
Vai morrer se continuarmos a falar mais de teoria do que de experiência.
Vai morrer se não houver contato entre o que estudamos e o mundo que nos convoca.

Mas ainda há tempo. Podemos impedir isso se ampliarmos nossa atuação, se formos além do “suficiente”, se tornarmos a Gestalt novamente viva — atuante, criativa e socialmente relevante.

A Atuação é o Pulso da Gestalt

A Gestalt-terapia nasceu da contestação e da liberdade. Seu espírito é o do aqui e agora, da presença, do diálogo e da responsabilidade. Quando Fritz Perls e Laura Perls a criaram, não imaginaram uma psicologia acomodada. Imaginavam uma prática em movimento, comprometida com a transformação da pessoa e da cultura.

No entanto, parte do campo gestáltico contemporâneo parece ter se tornado um eco de si mesmo — teorizando sem agir, falando de contato sem se arriscar ao encontro.
Se a Gestalt é um modo de estar no mundo, ela só permanece viva enquanto houver mundo com o qual ela se relaciona.

Gestalt-Terapia: Uma Abordagem Ampliada

A Gestalt-terapia não é apenas um modelo de psicoterapia.
É uma forma de compreender o humano em sua totalidade — corpo, emoção, cultura, relação e espiritualidade.
E, por isso mesmo, não pode se limitar ao tratamento individual de sintomas.

O convite é para reinventar nossa atuação, levando o olhar fenomenológico e dialógico para todos os campos onde o sofrimento e a potência humana se manifestam.

A seguir, algumas possibilidades concretas — todas já estudadas e validadas em pesquisas nacionais e internacionais — onde a Gestalt pode florescer.

Educação: o contato que ensina

A escola é um dos lugares mais férteis para a aplicação da Gestalt-terapia.
Como mostram Dusi, Neves e Antony (2006), a abordagem gestáltica e a psicopedagogia podem oferecer “um olhar compreensivo para a totalidade criança-escola”, valorizando a expressão, o afeto e o aprendizado vivo.

Pesquisas como “A criança hiperativa: uma visão da abordagem gestáltica” (Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2004) mostram que a Gestalt pode ajudar a compreender o comportamento escolar para além do rótulo do transtorno, abrindo espaço para a singularidade do aluno.

Trabalhar com professores, pais e alunos sob uma perspectiva gestáltica é promover uma educação sensível, dialógica e humanizadora.

Hospital: o diálogo como cuidado

Em contextos hospitalares, a Gestalt-terapia se torna uma linguagem de presença.
O artigo “Gestalt-terapia e o diálogo psicológico no hospital” (PePSIC, 2010) aponta que o psicólogo, ao sustentar o diálogo, amplia o campo de cuidado, permitindo que o paciente não seja reduzido ao seu diagnóstico.

Na linha de Celma Ciornai, a arte, a corporeidade e o contato estético são caminhos de intervenção que restauram a dignidade e o sentido do viver — inclusive no sofrimento.
A Gestalt-terapia, no hospital, é uma prática de humanização da saúde.

Esporte: presença, corpo e superação

O campo esportivo é terreno fértil para a Gestalt.
Estudos como “O posicionamento existencial frente à dor” (PePSIC, 2008) e “Os problemas psicológicos do atleta” (PePSIC, 2010) mostram como a abordagem fenomenológica permite compreender a experiência do atleta lesionado, a frustração e o recomeço.

Ao trabalhar com atletas, treinadores e equipes técnicas, o psicólogo gestáltico atua no equilíbrio entre desempenho e humanidade, ajudando a reconhecer limites, emoções e sentido no esforço esportivo.

Jurídica: o olhar para o sujeito em conflito

No sistema socioeducativo, a Gestalt pode ser uma ponte entre punição e reintegração.
O estudo “Incríveis infratores: adolescentes estigmatizados em encontro com a Gestalt-Terapia” (PePSIC, 2007) evidencia o poder transformador do encontro dialógico — onde o jovem é visto como sujeito de possibilidades, e não como objeto do Estado.

Aqui, o psicólogo gestáltico atua na escuta e na reconstrução de sentido, abrindo espaço para o reconhecimento e a responsabilidade.

Organizações: o contato como cultura

A Gestalt também vive nas empresas.
O artigo “Contato, self e cultura organizacional” (UFSC, 2007) mostra como seus princípios podem ser aplicados à gestão de pessoas, liderança e resolução de conflitos.

Ao compreender a organização como campo, o psicólogo pode facilitar processos de mudança, inovação e bem-estar coletivo — promovendo relações mais autênticas, conscientes e produtivas.

Comunidades e Saúde Pública: o social como campo vivo

A Gestalt está profundamente alinhada às políticas públicas de saúde e assistência social.
Trabalhos como “A atuação do psicólogo na Estratégia Saúde da Família: articulações teóricas e práticas do olhar gestáltico” (Scielo, 2016) e “O aconselhamento psicológico e as possibilidades de uma nova clínica” (PePSIC, 2007) defendem que o campo comunitário é um espaço privilegiado para a psicologia fenomenológica.

Em projetos como NASF, CAPS, CRAS, PAIF e SUAS, o psicólogo gestáltico atua como facilitador de vínculos e promotor de saúde mental coletiva — transformando o cotidiano em espaço de encontro.

Família e Grupos: o diálogo como cura

Estudos como “Hermenêutica gestáltica de uma violência sexual intrafamiliar” (Scielo, 2009) e “Grupos terapêuticos na abordagem gestáltica” (UERJ, 2009) demonstram que a Gestalt oferece caminhos potentes para o trabalho com famílias e grupos.

A relação dialógica, base da Gestalt, é o que sustenta a reconstrução do contato, a reconfiguração dos papéis e o florescimento do vínculo.

Psicopatologia Fenomenológica: compreender antes de classificar

A psicopatologia fenomenológica é um dos pilares da Gestalt moderna.
Autores como Jaspers, Binswanger e Tatossian (cf. PePSIC, 2015; Scielo, 2016) propõem uma compreensão da loucura a partir da experiência vivida — e não apenas dos sintomas.
A Gestalt-terapia, inspirada nesse pensamento, entende o sofrimento como expressão de um modo de estar no mundo, não como defeito.

Filosofia e Religião: o humano em profundidade

A Gestalt é também um diálogo com a filosofia existencial e a espiritualidade vivida.
Textos como “Merleau-Ponty, Sartre e Heidegger: três concepções de fenomenologia” (PePSIC, 2008) mostram como a abordagem gestáltica se enraíza em uma tradição de pensamento que valoriza o corpo, a percepção e a liberdade.
Ela se abre inclusive à experiência religiosa — sem dogma, mas como expressão do sentido da existência (cf. Reflexões sobre o lugar de uma Psicologia da Religião, PePSIC, 2008).

Pesquisa, Ética e Formação: o compromisso de quem atua

Uma abordagem que se propõe viva precisa produzir conhecimento.
A pós-graduação em Psicologia Clínica: Abordagem Gestáltica Ampliada forma psicólogos capazes de unir teoria, pesquisa e atuação.
Com 360 horas distribuídas em 18 módulos, o curso integra fundamentos teóricos, prática supervisionada e metodologia fenomenológica aplicada.

O compromisso ético é eixo central: formar profissionais que saibam atuar com liberdade responsável, presença autêntica e rigor técnico.

Mais informações: institutosuassuna.com.br/tag/gestalt-terapia/

Levando a Gestalt Além das Quatro Paredes

A Gestalt só sobrevive quando há contato.
Contato entre teoria e prática, entre terapeuta e sociedade, entre a psicologia e a vida.

Se queremos que a abordagem gestáltica continue a florescer, precisamos atuar, pesquisar e formar novas gerações de psicólogos que não tenham medo do mundo.

“A atuação é o antídoto contra a fossilização de qualquer abordagem.”
Dr. Danilo Suassuna

Pergunta para você

Em que outros contextos você acredita que a Gestalt-terapia pode promover transformação e bem-estar?
Compartilhe suas experiências, e ajude a manter viva essa forma de compreender o humano — atuante, criativa e em permanente contato com o mundo.

Estrutura do Curso de Pós-Graduação

A pós-graduação em Psicologia Clínica: Abordagem Gestáltica Ampliada é projetada para capacitar psicólogos a aplicarem os princípios da Gestalt em diversos contextos. Com uma carga horária de 360 horas, divididas em 18 módulos, o curso aborda desde os fundamentos da Gestalt-terapia até sua aplicação prática em diferentes cenários.

Fundamentos Teóricos: O curso começa com uma introdução aos fundamentos teóricos da Gestalt-terapia, incluindo a história e as principais contribuições de seus fundadores, como Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman. Os alunos também aprenderão sobre a Teoria do Campo, a Psicologia da Gestalt e conceitos fenomenológicos e existencialistas que sustentam essa abordagem.

Aplicações Práticas: A formação abrange a aplicação prática da Gestalt-terapia em diferentes contextos. Técnicas específicas para terapia individual, de grupo, familiar e de casal são exploradas, juntamente com intervenções adaptadas para crianças e adolescentes. Os alunos também aprenderão a aplicar a Gestalt-terapia em ambientes organizacionais e comunitários, utilizando abordagens práticas para promover a saúde mental e o bem-estar.

Pesquisa e Ética: Além das aplicações práticas, o curso enfatiza a importância da pesquisa e da ética na prática gestáltica. Os alunos desenvolverão habilidades de pesquisa, aprendendo a conduzir estudos e a analisar dados para contribuir com o avanço do conhecimento na área. A formação ética é crucial, preparando os profissionais para enfrentar dilemas éticos e tomar decisões informadas e responsáveis em sua prática clínica.

Levando a Gestalt Além das Quatro Paredes

É crucial que os profissionais da psicologia se sintam encorajados a levar os princípios da Gestalt para fora do consultório. A atuação em diferentes contextos é a chave para manter a abordagem gestáltica viva e relevante.

Atuar é Fundamental: Precisamos estar presentes em escolas, organizações, comunidades e onde mais for necessário. A Gestalt-terapia oferece ferramentas poderosas para promover mudanças positivas em diversos cenários.

Produzir Conhecimento: Além de atuar, é importante continuar refletindo e conhecendo mais sobre a abordagem gestáltica. Produzir novos conhecimentos e disseminar essas ideias fortalece a prática e a teoria da Gestalt.

Assim….

Se queremos que a abordagem gestáltica continue a florescer, precisamos agir agora. Ampliar nossa atuação, levar a Gestalt para além das quatro paredes do consultório e aplicar seus princípios em diversos contextos é essencial.

Pergunta ao Leitor: Em que outros contextos você acha que a Gestalt-terapia poderia ser aplicada para promover bem-estar e transformação? Compartilhe suas ideias e experiências, e ajude a manter a abordagem gestáltica viva e relevante!

Venha conhecer nossa pos graduacao
https://institutosuassuna.com.br/tag/gestalt-terapia/ 

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527