A Importância da Parentalidade Responsável: Evitando Pegadinhas e Mentiras com as Crianças

  • post publicado em 08/07/24 às 10:47 AM
  • Tempo estimado de leitura: 9 minutos

 

A criação de filhos é uma responsabilidade que envolve muito mais do que simplesmente prover abrigo, alimento e educação. Também requer a construção de um relacionamento de confiança, respeito e empatia entre pais e filhos desde o início. Infelizmente, algumas práticas que podem parecer inofensivas, como pegadinhas e mentiras, podem ter consequências profundas e duradouras no desenvolvimento psicológico e social das crianças.

Quebra de Confiança

Uma das consequências mais evidentes de expor as crianças a pegadinhas e mentiras é a quebra de confiança entre pais e filhos. Quando uma criança percebe que foi enganada ou ludibriada por seus próprios pais, a base de confiança que deveria ser sólida começa a erodir. Isso pode resultar em um relacionamento tenso e desconfiado no futuro, onde a criança se torna relutante em compartilhar seus sentimentos e pensamentos com os pais.

Ansiedade nas Interações

A exposição contínua a brincadeiras enganosas pode levar as crianças a desenvolverem ansiedade em suas interações diárias. Elas podem ficar constantemente preocupadas com o que os adultos ao seu redor estão escondendo ou manipulando. Essa ansiedade pode afetar negativamente seu bem-estar emocional e seu desenvolvimento social, tornando mais difícil estabelecer relacionamentos saudáveis e duradouros.

Culpa e Medo da Exposição

Quando as crianças são alvo de mentiras e pegadinhas, elas podem sentir uma profunda culpa por não terem percebido ou entendido a situação. Além disso, podem desenvolver um medo de serem expostas ou ridicularizadas publicamente, o que pode prejudicar sua autoestima e autoconfiança. Esse medo pode durar até a vida adulta, afetando suas decisões e relacionamentos futuros.

Normalização de Comportamentos Semelhantes

A exposição constante a pegadinhas e mentiras pode levar as crianças a normalizarem tais comportamentos. Elas podem começar a acreditar que enganar os outros, mesmo que seja de maneira aparentemente inocente, é aceitável. Isso pode ter ramificações significativas na forma como elas interagem com os colegas, amigos e, eventualmente, com seus próprios filhos no futuro.

Obediência à Rede Social em Detrimento do Desejo Pessoal

Hoje em dia, as redes sociais desempenham um papel importante na vida de muitas crianças. Quando os pais expõem seus filhos a pegadinhas e mentiras para ganhar curtidas ou compartilhamentos nas redes sociais, a criança pode aprender a priorizar a busca por aprovação online em detrimento de seus desejos pessoais e valores. Isso pode resultar em uma desconexão entre o que a criança realmente deseja e o que ela faz para se encaixar nas expectativas da sociedade virtual.

2- Os pais são aqueles que deveriam proteger, amparar. Imagino que a criança fica confusa ao vê-los rir de uma situação que para elas é embaraçosa, causa vergonha. O que comportamentos assim podem causar na relação pais e filhos?

Quero ressaltar alguns pontos:

Falta de Confiança e Respeito: A criança pode começar a perder a confiança em seus pais, pois não se sente respeitada e valorizada. Ela pode se perguntar se pode confiar nos pais para apoiá-la em momentos difíceis, o que prejudica a base da relação.

Baixa Autoestima e Autoimagem Negativa: A exposição frequente a situações embaraçosas ou à zombaria dos pais pode levar a criança a desenvolver uma autoimagem negativa. Ela pode começar a acreditar que não é digna de respeito e que ser alvo de risadas é o seu destino.

Comportamento de Busca por Aprovação: Como mencionado anteriormente, a criança pode aprender que ser o “bobo da corte” é uma maneira de obter a atenção e a aceitação dos outros. Isso pode levá-la a repetir esse comportamento na escola ou em outros grupos sociais, sacrificando sua autoestima e dignidade em busca de aprovação.

Dificuldades nas Relações Sociais: A criança pode enfrentar dificuldades nas relações sociais, pois pode não saber como estabelecer relacionamentos saudáveis baseados em respeito mútuo. Ela pode ser mais propensa a ser alvo de bullying ou a se envolver em amizades tóxicas.

Ressentimento e Isolamento: À medida que a criança cresce, ela pode começar a ressentir os pais por terem exposto suas vulnerabilidades de maneira tão insensível. Isso pode levar ao distanciamento emocional entre pais e filhos, resultando em uma relação tensa e menos próxima.

TUDO POR UM CLIQUE?

Será que vale tudo por uma “curtida”? 

É fundamental que os pais estejam cientes do impacto de suas palavras e ações sobre seus filhos. Em vez de ridicularizar ou zombar, os pais devem oferecer apoio, empatia e orientação. Isso ajuda a construir uma relação de confiança sólida e a fortalecer o desenvolvimento emocional saudável das crianças, permitindo que cresçam com autoestima, autoconfiança e habilidades sociais positivas

3 – Em meio a tantos desafios virais na internet, às vezes pode ser difícil ter um parâmetro do que é saudável ou não na hora da brincadeira, até onde acredita que vai o limite de uma brincadeira?

Os desafios virais na internet podem ser uma fonte de diversão e entretenimento para muitos jovens. No entanto, é importante que os pais estejam cientes dos limites dessas brincadeiras e ajudem seus filhos a entender o que é saudável e seguro quando se trata dessas tendências online.

A comunicação aberta desempenha um papel fundamental nesse processo. Os pais devem manter linhas de comunicação abertas com seus filhos, perguntando-lhes como se sentem em relação aos desafios virais que estão vendo online e encorajando-os a compartilhar suas opiniões e preocupações.

É essencial que os jovens aprendam a avaliar os riscos associados a diferentes desafios. Os pais podem ajudar seus filhos a discutir as possíveis consequências físicas e emocionais de participar de determinadas brincadeiras, capacitando-os a tomar decisões informadas.

Além disso, é importante enfatizar o respeito pelos próprios limites e pelos limites dos outros. Os desafios não devem envolver atividades que possam causar dano físico ou angústia emocional.

Promover a autoestima e a autenticidade também desempenha um papel crucial. Os jovens devem entender que não precisam seguir todas as tendências online para se sentirem valorizados ou aceitos.

A capacidade de tomar decisões independentes é uma habilidade valiosa. Os pais podem ensinar seus filhos a considerar os prós e contras de participar de desafios e a entender que têm o direito de recusar qualquer atividade que não se sintam confortáveis em realizar.

Além disso, é importante que os pais estejam cientes das atividades online de seus filhos e monitorem as redes sociais e plataformas que eles utilizam para identificar comportamentos preocupantes ou tendências perigosas. Se os pais validam uma brincadeira ou outra, a criança também irá validar as coisas ou desafios que ela achar “engraçado”

Como modelos de comportamento, os pais desempenham um papel significativo. Eles podem demonstrar como fazer escolhas online saudáveis e autênticas, servindo de exemplo para seus filhos.

Por fim, é essencial estar disposto a intervir se for observado que os filhos estão participando de desafios perigosos ou prejudiciais. Conversar com eles sobre os riscos e ajudá-los a encontrar alternativas mais seguras e saudáveis para se envolverem online é uma maneira eficaz de orientá-los.

O objetivo não é proibir os filhos de se divertirem online, mas sim capacitá-los a tomar decisões conscientes e seguras em relação às tendências virais e desafios que encontram na internet. Essa abordagem pode ajudar a construir uma relação mais saudável e equilibrada com o mundo digital.

5- Por favor mencione situações que não são indicadas e o que os pais podem fazer para agir com mais responsabilidade na educação dos pequenos.

Não que exista uma unica forma correta de educar os filhos e longe de mim querer colocar uma regra na sua familia, afinal somos todos diferentes e devemos respeitar essa diferenca.

Algumas situações que não são indicadas na educação das crianças, bem como sugestões sobre como os pais podem agir com mais proximidade:

Ignorar os sentimentos das crianças: Ignorar ou minimizar os sentimentos das crianças, como tristeza, raiva ou medo, não é indicado. Os pais devem ouvir atentamente e validar os sentimentos das crianças, oferecendo apoio emocional quando necessário.

O que os pais podem fazer: Esteja presente e disponível para ouvir quando as crianças expressarem suas emoções. Ofereça conforto e orientação, ajudando-as a entender e lidar com suas emoções de maneira saudável. Lembre-se que isso gasta tempo, então, se desejar estar com seus filhos, ESTEJA. 

2. Utilizar punições físicas: O uso de punições físicas, como bater em uma criança, é inaceitável e prejudicial. Essas práticas não promovem uma relação de confiança e podem causar danos físicos e emocionais.

O que os pais podem fazer: Opte por métodos de disciplina não violentos, como o estabelecimento de limites claros, o uso de consequências lógicas e a comunicação eficaz. Ensine as crianças sobre as consequências de suas ações e ajude-as a aprender com seus erros.

3. Comparar as crianças com outras: Comparar uma criança com seus irmãos, amigos ou colegas não é saudável. Isso pode criar rivalidade e prejudicar a autoestima da criança. Ele sempre ficará de olho no que está fora dele, não no que realmente acha de si

O que os pais podem fazer: Reconheça e celebre as individualidades de cada filho. Incentive-os a desenvolverem suas próprias habilidades e interesses. Evite comparações negativas e promova um ambiente de apoio e aceitação.

4. Colocar pressão excessiva sobre o desempenho acadêmico: Exigir desempenho acadêmico perfeito ou impor pressão excessiva sobre as notas pode levar as crianças a sentirem-se constantemente estressadas e ansiosas em relação à escola.

O que os pais podem fazer: Valorize o esforço e o processo de aprendizagem, em vez de apenas as notas finais. Ajude as crianças a desenvolver habilidades de estudo e organização, e esteja lá para apoiá-las em suas dificuldades acadêmicas.

5. Falha em estabelecer limites claros: Não estabelecer limites claros pode criar confusão e insegurança nas crianças. Elas precisam de orientação e estrutura para entenderem o que é certo e errado.

O que os pais podem fazer: Estabeleça regras e limites claros desde cedo. Comunique expectativas consistentes e aplique consequências apropriadas quando as regras são quebradas. Isso ajuda as crianças a entenderem os limites e a responsabilidade de suas ações. Lembre-se que as regras sao DOS pais, e não so de um dos pais rsrsrsr

6. Não dar autonomia suficiente: Não permitir que as crianças tomem decisões ou assumam responsabilidades pode limitar seu desenvolvimento de independência e pensamento crítico.

O que os pais podem fazer: Conceda às crianças oportunidades para tomar decisões dentro de limites apropriados à idade. Isso ajuda a promover sua autonomia e autoconfiança.

7. Expor as crianças a conteúdo inapropriado: Permitir que as crianças acessem conteúdo inadequado para sua idade na mídia, internet ou videogames pode ter impactos negativos em seu desenvolvimento.

O que os pais podem fazer: Supervisione o conteúdo que as crianças consomem e defina restrições adequadas à idade. Converse com elas sobre os riscos associados a conteúdos impróprios e promova a educação sobre mídia e tecnologia.

Em resumo, os pais podem agir com mais responsabilidade na educação de seus filhos evitando práticas prejudiciais, ouvindo e apoiando emocionalmente suas crianças, promovendo disciplina não violenta, respeitando suas individualidades e necessidades, valorizando esforço em vez de perfeição e incentivando a autonomia e a tomada de decisões apropriadas para a idade. Isso cria um ambiente saudável e positivo para o desenvolvimento das crianças.

Para pensarmos juntos…..

Promovendo pensamento independente 

Um dos objetivos fundamentais da criação de filhos é capacitar as crianças a pensar de forma independente, tomar decisões informadas e desenvolver habilidades críticas para a vida. Em vez de simplesmente instruir as crianças a obedecer, os pais desempenham um papel crucial no estímulo ao pensamento crítico e à autonomia.

Estimulando a Curiosidade e a Exploração

Incentivar a curiosidade é o primeiro passo para promover o pensamento independente. Encoraje as crianças a fazer perguntas e explorar o mundo ao seu redor. Esteja disposto a responder a essas perguntas e a pesquisar juntos quando não souber a resposta. Isso ajuda a nutrir uma sede natural por conhecimento.

Comunicação Aberta e Respeitosa

Crie um ambiente de comunicação aberta em que as crianças se sintam à vontade para expressar suas opiniões e preocupações. Ouvir atentamente o que elas têm a dizer e respeitar suas perspectivas é essencial para desenvolver a confiança e a capacidade de expressão.

Fomentando a Resolução de Problemas

A resolução de problemas é uma habilidade crítica na vida. Incentive as crianças a enfrentarem desafios, identificarem problemas e gerarem soluções criativas. Isso envolve a habilidade de pensar criticamente sobre possíveis soluções e escolher a melhor abordagem.

Tomada de Decisões Autônomas

Permita que as crianças tomem decisões, mesmo que sejam pequenas. Isso ajuda no desenvolvimento de habilidades de tomada de decisão e na capacidade de assumir responsabilidade por suas ações. À medida que crescem, elas se tornam mais proficientes em tomar decisões informadas.

Habilidades de Pensamento Crítico

Ajude as crianças a desenvolverem habilidades de pensamento crítico, como analisar informações, considerar diferentes perspectivas e tomar decisões informadas. Isso é particularmente importante em um mundo repleto de informações, onde discernir a verdade da ficção é crucial.

Promovendo Gradualmente a Independência

À medida que as crianças crescem, dê a elas oportunidades para assumir responsabilidades e independência gradualmente. Isso as prepara para enfrentar desafios futuros com confiança e autonomia.

Reforçando a Autoconfiança

Reforce a autoestima e a autoconfiança das crianças, elogiando seus esforços e conquistas, independentemente do resultado final. Isso ajuda a criar uma base sólida para o pensamento independente.

Seja um Modelo de Pensamento Crítico

Demonstre o pensamento crítico em sua própria vida, mostrando como você avalia informações, toma decisões e resolve problemas. As crianças muitas vezes aprendem pelo exemplo, e você pode ser um modelo poderoso para elas.

Aprendizagem Ativa

Encoraje as crianças a se envolverem em atividades que promovam a aprendizagem ativa, como leitura, pesquisa, experimentação e exploração. Isso alimenta a sede de conhecimento e o desejo de aprender por conta própria.

Ofereça Apoio e Esteja Presente

Por fim, esteja sempre disponível para oferecer orientação e apoio quando as crianças enfrentarem desafios. Mostre que você está lá para ajudá-las a aprender e crescer, criando um ambiente seguro para o desenvolvimento de pensamento independente.

Lembre-se de que o objetivo é criar um ambiente em que as crianças se sintam capacitadas a pensar criticamente, tomar decisões responsáveis e aprender com suas experiências. Ao fazer isso, os pais estão preparando seus filhos para enfrentar os desafios do mundo de forma autêntica e independente.

Conclusão

A parentalidade responsável envolve muito mais do que apenas cuidar das necessidades básicas das crianças. Envolve também a construção de um ambiente seguro e confiável, onde as crianças possam crescer emocionalmente saudáveis e resilientes. Evitar pegadinhas e mentiras com os pequenos é fundamental para proteger a confiança, a autoestima e o desenvolvimento saudável das crianças. Os pais têm a responsabilidade de modelar um comportamento honesto e respeitoso, para que seus filhos possam crescer com valores sólidos e relacionamentos saudáveis.

Dr. Danilo Suassuna

Doutor em Psicologia

CEO-Founder do Instituto Suassuna

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.