

Por que estamos tão preocupados com o tempo que nossos filhos passam nas telas, mas não percebemos o tempo que nós mesmos ficamos nelas? Essa provocação, feita por um dos especialistas citados no livro A Geração Ansiosa, nos convida a refletir: o problema está apenas nas crianças ou também no comportamento dos adultos?
O pediatra Michael Rich, professor da Escola de Medicina da Universidade Harvard, alerta que a maioria das queixas levadas aos consultórios por famílias tem um padrão claro: meninos chegam por uso excessivo de jogos, meninas por problemas com redes sociais, e a pornografia aparece em ambos os gêneros, mas é mencionada tardiamente – apenas quando a confiança já está consolidada. Esses dados revelam não só uma diferença de padrões de consumo, mas também a dificuldade das famílias em conversar abertamente sobre esses temas.
O tripé dos 3Ms: Monitorar, Mentorar e Modelar
A proposta de Rich para lidar com os desafios da era digital vai além da simples proibição. Ele sugere três pilares que pais e educadores podem adotar:
- Monitorar o uso das telas, sem vigiar de forma punitiva, mas com presença atenta e diálogo constante.
- Mentorar crianças e adolescentes, ajudando-os a compreender o que consomem e como isso os afeta.
- Modelar o comportamento: ser exemplo daquilo que esperamos deles. Não adianta exigir menos tempo de tela se estamos o tempo todo no celular.
A ciência do comportamento humano tem nos mostrado que a criança aprende sobretudo por modelagem. Quando ela vê os pais ou cuidadores interagindo de forma saudável com a tecnologia, aprendem a fazer o mesmo. Quando o celular se torna a companhia principal dos adultos, a mensagem transmitida é de que esse comportamento é aceitável – ou até desejável.
Um alerta para todos nós: o problema não é só da criança
Rich critica a abordagem simplista defendida por alguns autores que propõem, por exemplo, a proibição do uso de redes sociais até os 16 anos, como se isso resolvesse todos os problemas de saúde mental da infância e adolescência. Segundo ele, ansiedade e depressão não desapareceriam com o fim das redes sociais, porque essas condições são intrínsecas a certos indivíduos e contextos, e demandam atenção psicológica, não apenas controle externo.
O que nos leva a uma pergunta fundamental: estamos realmente ouvindo nossos filhos? Ou apenas reagindo aos seus comportamentos com regras, punições ou silêncios constrangedores?
Redes sociais, jogos e pornografia: como falar sobre isso?
Para muitas famílias, é difícil iniciar conversas sobre pornografia ou dependência digital. E aqui, mais uma vez, a escuta se torna ferramenta essencial. Criar um ambiente em que a criança se sinta segura para falar, sem medo de julgamento ou punição, é o primeiro passo para abordar assuntos difíceis.
No projeto Falar para seu filho ouvir, acreditamos que as palavras certas só surgem quando há espaço emocional e vínculo estabelecido. Uma boa escuta não minimiza o que o outro sente. Ao contrário: legitima, acolhe e educa com afeto.
O papel da escuta: presença antes da resposta
Uma das frases mais poderosas da matéria é esta:
“Curiosamente, uma das resenhas do livro A Geração Ansiosa disse que a geração ansiosa não são as crianças, são os pais.”
É uma verdade desconcertante. Temos muitas vezes terceirizado o cuidado para os algoritmos e nos tornado ausentes emocionalmente. Dizer “não” ao excesso de telas não basta. É preciso dizer “sim” ao vínculo, à presença e à escuta real.
Como transformar essa realidade?
Se você se reconhece nesse cenário, saiba que não está sozinho. Muitos pais, mães e responsáveis vivem esse desafio. Aqui vão algumas ações possíveis:
- Estabeleça momentos sem tela em família, como as refeições ou a hora de dormir.
- Observe e comente com curiosidade (não com julgamento) sobre o que seu filho vê, joga ou consome.
- Não subestime temas como pornografia ou redes sociais. Traga o assunto com abertura e cuidado, de forma gradual e apropriada à idade.
- E acima de tudo, esteja disponível emocionalmente. Uma criança que se sente ouvida tende a desenvolver mais autorregulação, mais senso crítico e menos impulsividade.
Um convite do Instituto Suassuna
O projeto Falar para seu filho ouvir existe para apoiar famílias nessa travessia. Nossos conteúdos são construídos com base em evidências científicas, práticas clínicas e escuta ativa de famílias reais. Porque acreditamos que, quando o adulto escuta de verdade, a criança fala. E quando ela fala, é possível cuidar de forma mais profunda, mais amorosa e mais eficaz.
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