A despedida de Preta Gil:  e o papel da psicologia no luto

  • post publicado em 21/07/25 às 21:55 PM
  • Tempo estimado de leitura: 4 minutos

 

No último domingo, 20 de julho de 2025, o Brasil se despediu de uma das vozes mais autênticas e corajosas da nossa música: Preta Gil. Cantora, empresária, atriz, mãe e ativista, ela faleceu aos 50 anos, em Nova York, após uma longa batalha contra o câncer de intestino. Sua morte foi sentida como um abalo coletivo — não apenas entre fãs, amigos e familiares, mas por toda uma geração que se viu representada em sua presença forte, vulnerável e real.

Neste momento de comoção, o Instituto Suassuna se une à dor de milhares de brasileiros para refletir sobre o impacto emocional da perda, o papel da psicologia no acolhimento do luto, e a importância de buscarmos cuidado para seguir em frente — mesmo quando a saudade parece querer nos parar.

Preta Gil: quando a arte também é afeto

Preta Gil não foi apenas uma artista. Foi um corpo político, um gesto de liberdade, uma ponte entre o que somos e o que gostaríamos de ser. Com suas músicas, sua agência (a Mynd), seu bloco de Carnaval, sua coragem em falar sobre o corpo, a saúde, a sexualidade, ela ocupou espaços onde muitas vozes ainda eram silenciadas.

Ao compartilhar publicamente sua experiência com o câncer — incluindo procedimentos como a ileostomia e a perda de mobilidade — Preta mostrou que é possível ser forte e frágil ao mesmo tempo. Que a dignidade não está em esconder a dor, mas em atravessá-la com amor, humor e consciência.

Por isso, sua morte reverberou de forma tão intensa. Ela era íntima de quem a acompanhava. Fez parte de histórias pessoais, foi trilha sonora de reconciliações, de festas, de superações. Sua partida é mais do que a perda de uma artista: é o silêncio inesperado de uma amiga que falava por nós.

O luto público também é legítimo

Muitas pessoas se perguntam: “Por que estou tão triste por alguém que nunca conheci pessoalmente?” A psicologia tem um nome para isso: luto simbólico. Quando uma figura pública representa valores, memórias ou partes importantes da nossa identidade, sua ausência toca camadas profundas da nossa subjetividade.

Chorar por Preta Gil, sentir-se abalado, querer prestar homenagens — tudo isso é saudável. O sofrimento psíquico precisa ser reconhecido para que não se transforme em adoecimento. A negação da dor não nos protege: apenas a adia.

É por isso que, como psicólogos e educadores, insistimos na importância de acolher o luto como um processo necessário e humano. Ele não segue fases rígidas, nem tem prazo para terminar. Cada pessoa vive à sua maneira. O importante é permitir que ele exista.

Gilberto Gil e o luto paterno: quando a dor se repete

A dor de perder um filho é considerada uma das experiências mais devastadoras que um ser humano pode viver. Gilberto Gil, pai de Preta, atravessa esse luto pela segunda vez — após já ter perdido o filho Pedro em um acidente nos anos 1990. Mesmo sendo uma figura pública admirada e um mestre da música brasileira, Gil é, nesse momento, apenas um pai diante da perda.

Em entrevistas, ele já havia falado sobre a possibilidade da morte de Preta com serenidade e fé. Mas isso não diminui a dor. A maturidade emocional não anula o sofrimento: apenas permite que ele seja vivido com mais consciência.

Para os homens, especialmente, o luto ainda é um tema cercado de silêncios. Muitos foram ensinados a serem “fortes”, “racionais”, “firmes”. Mas o que sustenta, de fato, a nossa saúde emocional é a capacidade de sentir — e de buscar apoio quando necessário.

Quando procurar ajuda?

É normal sentir tristeza, raiva, saudade e confusão após uma perda significativa. Mas se esses sentimentos persistem por muito tempo e começam a interferir na vida cotidiana — no sono, no trabalho, nos relacionamentos — é hora de buscar ajuda psicológica.

O Instituto Suassuna, por meio do projeto Todos Cuidados, oferece atendimento psicológico acessível, ético e qualificado, com profissionais prontos para acolher o sofrimento sem julgamentos, com escuta ativa e responsabilidade técnica.

O luto pode nos isolar. Mas o cuidado nos reconecta.

O projeto Todos Cuidados

O projeto Todos Cuidados nasceu com o compromisso de tornar o cuidado em saúde mental uma realidade concreta, acessível e contínua. Aqui, acreditamos que cuidar da mente é tão essencial quanto cuidar do corpo — especialmente em momentos de dor.

Se você se sentiu tocado pela partida de Preta Gil, se essa morte despertou lembranças de outras perdas ou se você percebe que está com dificuldade para lidar com o luto, nossos psicólogos estão disponíveis para te escutar.

Você pode marcar uma escuta inicial e iniciar um acompanhamento com base na sua realidade. Porque a vida pede cuidado. E o cuidado começa quando alguém nos pergunta: “Como você está de verdade?”

Ritualizar para não adoecer

Lembrar é também uma forma de resistir à dor. Criar pequenos rituais — como acender uma vela, escutar uma música de Preta, escrever uma carta para ela ou simplesmente falar sobre o que você sentiu — pode ajudar a simbolizar a passagem.

A arte tem esse poder: traduz o indizível. E Preta, com sua voz e sua coragem, nos ensinou a fazer isso.

Cuidar do luto também é uma prática profissional

O Instituto Suassuna, além do acolhimento clínico, também acredita na formação contínua de profissionais que desejam aprofundar-se nas temáticas do luto e da perda. Por isso, desenvolvemos uma pós-graduação completa em Psicologia do Luto e Processos de Perda, com professores que atuam diretamente com famílias enlutadas, profissionais da saúde, vítimas de catástrofes e instituições que lidam com despedidas difíceis.

Nesta formação, abordamos desde os fundamentos da tanatologia até práticas contemporâneas de cuidado ao enlutado, sempre com base em evidências científicas, escuta ética e intervenção humanizada.

Se você é psicólogo(a), profissional da saúde, do serviço social, da educação ou deseja se especializar para acolher com profundidade quem sofre perdas significativas, conheça nossa pós-graduação e amplie sua atuação.👉 Saiba mais sobre o curso em: institutosuassuna.com.br

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527