Freud, há 130 anos, aproximadamente, observou que ao falar, as pessoas expunham mais do que elas próprias sabiam de si mesmas. Ao deixar transitar as palavras sem nenhuma preocupação apriorística, Freud e seus analisandos se deram conta de que a linguagem é articulada num emaranhado labiríntico, o qual, em seu cerne, aponta para o desejo e a falta constituintes do sujeito. Tal descoberta não foi sem consequência.
Ao mesmo tempo em que a escuta de Sigmund Freud pôde estabelecer as vias aos recônditos humanos, percebeu ele o potencial terapêutico quando alguém resolve encarar a matéria prima de seu desejo, ou seja, quando paramos de navegar a vida utilizando desculpas, hipocrisias, morais utilitaristas, frases prontas e afetos prêt-a-porter. A clínica psicanalítica, nesse sentido, numa mesma feita, busca uma liberdade artesã, produz reflexões sobre a história singular de cada um, em vez de se render a aplicações educativas baratas feitas para vendar ideais (des)confortáveis do nosso capitalismo de cada dia.
A invenção freudiana passou por grandes impasses e remodelações nesse pouco mais de século de sua história, não para se acomodar às exigências adaptativas que a pressão produtiva que nossa contemporaneidade impõe, mas sim, para continuar a ajudar a que a procura a lidar com as tramas discursivas de nosso mundo etéreo. Ou seja, a clínica ainda se atenta e se interessa pelos impasses do desejo humano, entende que é a partir do autêntico desejo que se pode criar uma forma de vida autoral e que a criatividade, tão importante ao cotidiano massificante, depende do quanto conseguimos suportar as nossas dúvidas, vazios e Verdade.
João Camilo de Souza Junior – @joao.camilo.s.j
Possui graduação e mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (2008-2013/graduação) (2014-2016/mestrado). Especialista em Saúde Mental pela Universidade Católica de São Bosco (2014-2016). Experiência profissional em Psicologia Clínica e Saúde pública. Docente em instituição de ensino superior: UNIFUCAMP (Centro Universitário Mário Palmério).