A Chegada da Gestalt-terapia ao Brasil: História, Desenvolvimento e Consolidação
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica que emergiu nos Estados Unidos em 1951, com a publicação da obra Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality, de Fritz Perls, Ralph Hefferline e Paul Goodman. Fundamentada na Psicologia da Gestalt, fenomenologia, existencialismo e teoria do campo, essa abordagem propõe uma compreensão integrada do ser humano e de seus processos de crescimento.
No Brasil, a Gestalt-terapia foi introduzida na década de 1970, um período de grandes mudanças na psicologia e no contexto sociopolítico do país. Com a regulamentação da profissão de psicólogo e a busca por novas abordagens terapêuticas, a Gestalt encontrou terreno fértil para se expandir e consolidar.
Neste artigo, exploramos a trajetória da Gestalt-terapia no Brasil, desde sua chegada até sua consolidação como uma abordagem amplamente reconhecida no meio acadêmico e clínico.
A Psicologia no Brasil e o Contexto da Chegada da Gestalt-terapia
Durante a década de 1970, a psicologia brasileira passou por um processo de estruturação e regulamentação. O Sistema Conselhos de Psicologia foi criado em 1971, e a psicoterapia ainda era amplamente influenciada pelo modelo psicanalítico e comportamentalista. A busca por novas abordagens terapêuticas era crescente, e a Gestalt-terapia surgiu como uma alternativa inovadora.
A introdução dessa abordagem no Brasil esteve intimamente ligada à atuação de Thérèse A. Tellegen, psicóloga holandesa que se estabeleceu no país. Tellegen teve contato com a Gestalt-terapia durante um workshop no Instituto Quaesitur, em Londres, e decidiu trazer seus conhecimentos para o Brasil. Em 1972, ela publicou o artigo Elementos de psicoterapia Guestáltica no Boletim da Sociedade de Psicologia de São Paulo, considerado o primeiro texto sobre Gestalt-terapia no Brasil (Gestalt.com.br).
A partir dessa publicação, a abordagem começou a despertar interesse entre os profissionais da psicologia, que buscavam alternativas às correntes terapêuticas tradicionais.
A Expansão da Gestalt-terapia no Brasil
Inicialmente, a Gestalt-terapia se desenvolveu nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde havia maior concentração de psicólogos interessados em novas abordagens. Um dos nomes fundamentais nesse processo foi Paulo Barros, que se destacou na formação de novos terapeutas gestálticos e na promoção de estudos sobre a abordagem (Tede2.pucgoias.edu.br).
A disseminação da Gestalt-terapia no Brasil ocorreu por meio de diferentes estratégias:
- Grupos de estudo e workshops: Psicólogos que tiveram contato com a abordagem no exterior começaram a organizar encontros para discutir e ensinar os princípios da Gestalt-terapia.
- Cursos de formação: Com o tempo, a abordagem começou a ser incluída em programas de especialização e pós-graduação em psicologia clínica.
- Tradução e publicação de livros: Obras fundamentais da Gestalt-terapia foram traduzidas para o português, facilitando o acesso de profissionais e estudantes a essa abordagem inovadora.
A crescente aceitação da Gestalt-terapia levou à sua inclusão nos currículos acadêmicos e a um aumento significativo no número de terapeutas formados nessa abordagem.
Gestalt-terapia e Psicologia Humanista no Brasil
A Gestalt-terapia se consolidou no Brasil dentro do movimento da Psicologia Humanista, que se posicionava como uma terceira via entre a psicanálise e o behaviorismo. Sua ênfase no “aqui e agora”, na experiência fenomenológica e na autorresponsabilidade trouxe uma nova perspectiva para a prática clínica e para a psicoterapia no país.
Com isso, a abordagem passou a ser utilizada em diversos contextos, como:
- Atendimentos clínicos individuais e grupais
- Psicoterapia infantil e familiar
- Intervenções organizacionais e empresariais
- Atuação em hospitais e instituições de saúde mental
A expansão da Gestalt-terapia para diferentes áreas demonstra sua versatilidade e aplicabilidade nos mais variados campos da psicologia.
Formação e Publicações em Gestalt-terapia no Brasil
A profissionalização da Gestalt-terapia no Brasil se fortaleceu ao longo das décadas seguintes, com o surgimento de cursos de formação e pós-graduação especializados na abordagem. Atualmente, diversas instituições oferecem programas de especialização para psicólogos interessados na Gestalt-terapia, permitindo um aprofundamento teórico e prático nessa linha de atuação.
Além disso, o crescimento da pesquisa acadêmica em Gestalt-terapia levou ao aumento do número de artigos científicos e publicações especializadas, contribuindo para a consolidação da abordagem no meio acadêmico. Hoje, a Gestalt-terapia é uma das linhas mais pesquisadas dentro da psicologia clínica, ao lado da psicanálise e das abordagens cognitivas.
As Novas Tendências da Gestalt-terapia no Brasil
Nos últimos anos, a Gestalt-terapia tem passado por transformações significativas, incorporando novos conhecimentos e ampliando suas áreas de atuação. Algumas das principais tendências incluem:
- Integração com as Neurociências: Estudos sobre consciência e regulação emocional vêm reforçando os princípios da Gestalt-terapia, ampliando suas bases teóricas e suas aplicações clínicas (Instituto Suassuna).
- Aplicações em Saúde Mental Coletiva: A abordagem tem sido amplamente utilizada em programas de saúde pública, assistência social e projetos comunitários, proporcionando um atendimento humanizado e acessível.
- Uso de Recursos Criativos: Técnicas expressivas, como arte, dramatização e escrita terapêutica, têm sido incorporadas à prática gestáltica, enriquecendo o processo terapêutico.
- Terapia Online e Atendimento Remoto: A popularização da psicoterapia online permitiu que a Gestalt-terapia ampliasse seu alcance, possibilitando o atendimento a um público maior e adaptando-se às novas demandas da sociedade contemporânea.
Essas tendências demonstram a capacidade da Gestalt-terapia de se renovar e se adaptar às necessidades atuais da psicologia e da sociedade.
Conclusão: O Futuro da Gestalt-terapia no Brasil
Desde sua chegada ao Brasil nos anos 1970, a Gestalt-terapia passou por um processo contínuo de expansão, profissionalização e reconhecimento. Inicialmente introduzida por psicólogos pioneiros como Thérèse Tellegen e Paulo Barros, a abordagem encontrou espaço dentro do meio acadêmico e clínico, tornando-se uma das principais vertentes da psicologia humanista no país.
Hoje, a Gestalt-terapia é amplamente praticada e estudada, sendo ensinada em cursos universitários, aplicada em diferentes contextos e constantemente aprimorada por meio de pesquisas e eventos científicos. Seu foco na experiência presente, no contato genuíno e na autorresponsabilidade faz dela uma abordagem extremamente relevante para os desafios contemporâneos da psicologia.
E você, já teve contato com a Gestalt-terapia? Como vê o impacto dessa abordagem no cenário psicológico atual? Quais autores ou terapeutas você considera como referências na Gestalt? Deixe seu comentário e compartilhe sua visão sobre essa abordagem transformadora!
