5 dicas para uma gravidez emocionalmente saudável

  • post publicado em 09/06/25 às 14:50 PM
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5 dicas para uma gravidez emocionalmente saudável

A gravidez é uma travessia: entre a mulher que se era e a mãe que se está se tornando. Ela atravessa o corpo, mas também a psique, os vínculos e a história pessoal de cada mulher. Ainda que o discurso social insista em romantizar a gestação como um tempo de plenitude e realização, a psicologia perinatal — sustentada por décadas de pesquisa clínica e científica — sabe que a gravidez também pode ser ambígua, solitária e angustiante.

Por isso, falar em gravidez emocionalmente saudável não é o mesmo que falar em “gravidez perfeita” ou “sem sofrimento”. Saúde emocional não é ausência de dor, mas a possibilidade de reconhecer, nomear, elaborar e sustentar os afetos que emergem nesse período tão transformador.

A seguir, apresento 5 dicas fundamentadas na psicologia do desenvolvimento, perinatal e da parentalidade, que podem ajudar a construir uma gravidez mais consciente, autêntica e emocionalmente cuidada.

Escute o que você sente — mesmo que não seja “bonito”

Culturalmente, espera-se que a mulher grávida esteja sempre sorridente, serena, grata. Mas a realidade afetiva da gestação é muito mais complexa. Sentimentos como medo, raiva, confusão, tristeza ou dúvida são frequentes — e absolutamente legítimos.

Segundo Geneviève Bydlowski (2004), psiquiatra francesa que estudou a experiência psíquica da gravidez, esse período é marcado por uma reativação de conteúdos inconscientes, especialmente ligados à própria infância da mulher, à sua relação com a mãe e à história dos vínculos anteriores. Por isso, o que se sente na gravidez não é apenas “hormônio” — é história viva se reorganizando.

Negar essas emoções em nome de uma imagem idealizada de “mãe plena” só aumenta o sofrimento e dificulta o vínculo com o bebê. Escutar-se com honestidade — e sem julgamento — é o primeiro passo para uma gestação emocionalmente saudável.

Exercício sugerido: mantenha um diário emocional da gestação. Escreva, sem censura, o que sente. Nomear o indizível é uma forma de construir saúde psíquica.

Permita-se mudar de ideia sobre o que é ser mãe

Muitas mulheres chegam à gestação com uma ideia formada sobre a maternidade: seja por idealização, seja por experiências anteriores, seja por pressões familiares ou culturais. Porém, a experiência real frequentemente desorganiza essas certezas. E isso é bom.

Joan Raphael-Leff (2001), em sua teoria sobre os processos psicológicos da maternidade, propõe que a mulher atravessa uma reconfiguração interna que exige tempo, espaço e elasticidade emocional. Ela precisa renegociar suas crenças, seus papéis e seu lugar no mundo.

Isso significa que não há problema algum em sentir-se insegura, em rever decisões, em redimensionar expectativas. A saúde emocional na gravidez exige flexibilidade psíquica para abandonar velhos modelos e abrir espaço para uma maternidade possível — e não idealizada.

Importante: mudar de ideia, sentir-se dividida ou confusa não é sinal de fragilidade, mas de amadurecimento.

Cerque-se de pessoas que validem, não que cobrem

A maternidade é um campo de disputas simbólicas: todos parecem saber o que é melhor para o bebê — menos a própria mulher. Durante a gestação, muitas mães se veem cercadas de conselhos, palpites e julgamentos, nem sempre bem-vindos.

Para construir uma gestação emocionalmente saudável, é fundamental cuidar da rede de apoio emocional. Mais do que pessoas disponíveis, é preciso ter por perto pessoas que saibam escutar sem corrigir, acolher sem invadir, acompanhar sem impor.

Donald Winnicott (1956) afirma que o ambiente facilitador — aquele que sustenta emocionalmente a mulher durante a gestação e o puerpério — é essencial para que ela desenvolva a capacidade de cuidar do bebê. Nenhuma mulher nasce sabendo ser mãe. Ela precisa ser sustentada para sustentar.

Dica prática: se possível, combine com um(a) amigo(a), parceira(o) ou familiar uma “escuta semanal” — um momento em que você possa falar sobre seus sentimentos sem interrupções ou julgamentos.

Busque espaços de escuta profissional

A psicologia perinatal existe para isso: para acolher as transformações psíquicas da gravidez com escuta técnica, ética e sensível. O psicólogo perinatal não está ali para julgar decisões, corrigir comportamentos ou apontar defeitos. Ele está ali para ajudar a mulher a reconhecer o que sente, sustentar o que a atravessa e transformar o sofrimento em narrativa.

Daniel Stern (1997) descreve a gestação como um tempo de “constelação da maternidade”, em que os temas da identidade, do cuidado, da autonomia e da herança emocional se reconfiguram. Ter um espaço terapêutico nesse período pode ajudar a:

  • Elaborar lutos não reconhecidos (de uma gestação anterior, de um parto que não foi como o esperado, de um vínculo idealizado que não se realizou);
  • Construir segurança psíquica para o vínculo com o bebê real (e não com o bebê ideal);
  • Reorganizar a imagem de si como mulher e futura mãe.

Importante: não é preciso estar “adoecida” para procurar ajuda psicológica. Prevenção também é cuidado.

Lembre-se: saúde emocional também é saúde pré-natal

Fala-se muito em pré-natal clínico, exames, alimentação, atividade física. Tudo isso é essencial. Mas a saúde mental da gestante ainda é pouco falada, pouco rastreada, pouco cuidada.

No entanto, estudos mostram que o sofrimento psíquico durante a gestação pode afetar o vínculo mãe-bebê, a qualidade do parto, a amamentação e até mesmo o desenvolvimento emocional da criança (Glover, 2014; WHO, 2018). Não para culpabilizar a mulher, mas para ampliar o cuidado.

Uma gravidez emocionalmente saudável não depende de controle absoluto sobre os sentimentos, mas de um ambiente onde a mulher possa ser inteira: com suas forças e suas fragilidades. Onde ela possa pedir ajuda sem ser julgada. Onde ela possa ser cuidada para, então, cuidar.

A saúde da mãe é também a saúde do bebê. E isso começa — literalmente — na escuta.

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Se você deseja seguir aprendendo sobre saúde emocional na gestação, construção do vínculo, limites com afeto e escuta ativa entre pais e filhos, acompanhe nosso projeto no Instagram:

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Criado pelos psicólogos  Dr. Danilo Suassuna e Karla Cerávolog, o projeto é um espaço de orientação, escuta e construção de vínculos saudáveis com base na psicologia do desenvolvimento, da infância e da parentalidade.


Rede integrada de cuidado que acompanha a mulher, o bebê e a família desde a gestação até a infância, oferecendo ações educativas, formações, acolhimento psicológico e conteúdos dedicados ao cuidado desde o início da vida.

Porque falar para seu filho ouvir começa com aprender a escutar — a si mesma.

Referências

  • Bydlowski, G. (2004). La dette de vie: Études psychanalytiques sur la maternité. Paris: PUF.
  • Glover, V. (2014). Maternal depression, anxiety and stress during pregnancy and child outcome; what needs to be done. Best Practice & Research Clinical Obstetrics & Gynaecology, 28(1), 25–35.
  • Raphael-Leff, J. (2001). Psychological Processes of Childbearing. London: Chapman & Hall.
  • Stern, D. N. (1997). A constelação da maternidade: O panorama da psicoterapia mãe-bebê. Porto Alegre: Artmed.
  • WHO – World Health Organization. (2018). Maternal mental health and child health and development in low and middle-income countries: Report of the meeting. Geneva: WHO.
  • Winnicott, D. W. (1956). Primary maternal preoccupation. In: Collected Papers. London: Tavistock.

Por 

Danilo Suassuna CRP 09/3697

Karla Cerávolo CRP 09/10088

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Dr. Danilo Suassuna Martins Costa CRP 09/3697 CEO do Instituto suassuna, membro fundador e professor do Instituto Suassuna ; Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás(PUC-GO);

Especialista em Gestalt-terapia, Doutor e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008) possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Pós-Doutorando em Educação;

Autor dos livros:

  • Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico;
  • Renadi - Rede de atenção a pessoa idosa;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia; Teoria e Prática;
  • Supervisão em Gestalt-Terapia: O cuidado como figura;

Organizador do livro Supervisão em Gestaltt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia; Professor na FacCidade.

Acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/8022252527245527