Saúde Mental e Abordagem Gestáltica

  • post publicado em 14/10/24 às 14:57 PM
  • Tempo estimado de leitura: 5 minutos

 

O que é Saúde Mental? Uma Visão Através da Abordagem Gestáltica

Saúde mental refere-se a um estado de equilíbrio emocional e psicológico em que o indivíduo lida de maneira saudável com as demandas da vida cotidiana. Sob a ótica da abordagem gestáltica, esse equilíbrio é um processo dinâmico que envolve autorregulação, consciência e ajustamento criativo às necessidades pessoais e ao ambiente.

A abordagem gestáltica, segundo Ginger e Ginger (1995), é profundamente centrada no “aqui e agora”, enfatizando a importância da tomada de consciência da experiência presente. A partir dessa perspectiva, saúde mental é compreendida como a capacidade de estar plenamente consciente das próprias emoções, pensamentos e sensações corporais, integrando essas dimensões para promover uma vida autêntica e equilibrada.

O “Aqui e Agora” na Abordagem Gestáltica

A noção de “aqui e agora” é central para a abordagem gestáltica. Ela enfatiza que o foco na experiência presente permite ao indivíduo conectar-se de maneira mais profunda consigo mesmo, abrindo espaço para o desenvolvimento da awareness, ou conscientização, um conceito fundamental na Gestalt. Essa conscientização envolve tanto o plano emocional quanto o corporal, permitindo que a pessoa reconheça e entenda suas reações no momento presente.

Na abordagem gestáltica, o passado é importante, mas não como objeto principal de análise. O foco está em como as experiências anteriores influenciam a forma como o indivíduo se relaciona com o presente. Assim, ao viver de forma consciente no “aqui e agora”, o indivíduo pode fazer escolhas mais alinhadas às suas necessidades reais, promovendo sua saúde mental.

O Ciclo de Satisfação de Necessidades

Ginger e Ginger (1995) apontam que a abordagem gestáltica analisa os bloqueios ou interrupções que ocorrem no ciclo de satisfação de necessidades. Esse ciclo é um processo contínuo que envolve sentir uma necessidade, tomar consciência dela, agir para satisfazê-la e, finalmente, alcançar uma resolução. Quando esse ciclo é interrompido por barreiras emocionais ou comportamentais, o indivíduo experimenta um desequilíbrio que pode impactar sua saúde mental.

A interrupção desse ciclo ocorre por uma série de fatores, como medo de julgamento, traumas passados ou pressões sociais. Esses bloqueios dificultam o ajustamento criativo e a autorregulação, processos essenciais na abordagem gestáltica. O trabalho terapêutico nesse contexto envolve a identificação e superação desses bloqueios, ajudando o indivíduo a restaurar o ciclo natural de satisfação de suas necessidades e, consequentemente, seu equilíbrio psicológico.

A Integração Corpo-Mente

Um dos pilares da abordagem gestáltica é a visão integrada do ser humano, que considera as dimensões corporais e emocionais interdependentes. Para Ginger e Ginger (1995), as emoções estão profundamente conectadas ao corpo, e as sensações físicas podem servir como indicadores valiosos de estados emocionais subjacentes. A integração dessas duas dimensões na prática terapêutica é um ponto-chave para promover a saúde mental.

Em uma sessão baseada na abordagem gestáltica, o cliente é frequentemente convidado a observar as sensações físicas que surgem enquanto explora suas emoções. Por exemplo, uma pessoa pode perceber que ao falar de um evento estressante, sente uma tensão nos ombros ou uma respiração mais curta. Essas manifestações corporais são vistas como partes do processo emocional, e seu reconhecimento ajuda o indivíduo a tomar consciência de suas reações e promover uma reorganização interna.

Ajustamento Criativo

O ajustamento criativo é um conceito central na abordagem gestáltica e refere-se à capacidade do indivíduo de se adaptar às suas circunstâncias e ao meio de maneira saudável e espontânea. Esse ajustamento é fundamental para a saúde mental, pois envolve um processo dinâmico de adaptação que permite ao indivíduo lidar com as mudanças e desafios que surgem ao longo da vida.

A abordagem gestáltica reconhece que o ser humano está em constante interação com o ambiente e que essa relação é essencial para sua saúde psicológica. A autorregulação — que envolve o ajuste criativo entre o organismo e o ambiente — é vista como uma capacidade natural do indivíduo. Quando essa capacidade é bloqueada, surgem os sintomas de desequilíbrio mental, como ansiedade ou depressão.

O terapeuta, nesse sentido, auxilia o cliente a restaurar o fluxo natural desse processo, ajudando-o a identificar os bloqueios que impedem o ajustamento criativo. Esse trabalho promove a conscientização do indivíduo sobre suas necessidades reais e facilita a escolha de ações mais saudáveis e alinhadas ao seu bem-estar.

A Conscientização na Abordagem Gestáltica

A awareness — ou conscientização — é o princípio que sustenta grande parte da prática gestáltica. Trata-se da capacidade de perceber e estar plenamente consciente de tudo o que está acontecendo no momento presente, tanto no mundo externo quanto no interno. A conscientização é uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento e para a promoção da saúde mental, pois permite ao indivíduo identificar suas necessidades, desejos, sentimentos e sensações com maior clareza.

Na abordagem gestáltica, a ampliação dessa awareness é trabalhada por meio de técnicas que estimulam o contato direto com as sensações corporais e emocionais. Isso significa que o cliente é convidado a observar suas reações físicas enquanto explora suas emoções e pensamentos. Ao se conscientizar desses processos, o indivíduo se torna mais capaz de autorregular-se e responder de maneira mais assertiva e saudável às demandas da vida.

A Interação Organismo-Meio

Ribeiro (2011) destaca que, além de ser uma metodologia psicoterapêutica, a abordagem gestáltica é uma teoria sobre a pessoa como um todo, entendida como parte de um campo organismo-meio. Essa concepção vê o indivíduo como um ser em constante movimento e interação com seu ambiente, o que reflete a natureza processual da existência humana.

Essa interação organismo-meio é fundamental para a saúde mental. A abordagem gestáltica reconhece que o ser humano está em constante troca com seu ambiente e que essa interação define seu modo de ser e de agir no mundo. Quando o indivíduo é capaz de se ajustar de forma criativa ao seu ambiente, sua saúde mental se mantém equilibrada. No entanto, quando surgem bloqueios nessa interação, podem aparecer sintomas de desequilíbrio, como estresse, ansiedade ou insatisfação.

A Abordagem Gestáltica Como Filosofia de Vida

Ribeiro (2011) observa que a abordagem gestáltica vai além do contexto clínico e pode ser aplicada como uma filosofia de vida. Ao adotar essa postura, o indivíduo cultiva uma atenção plena ao presente e busca viver de maneira autêntica, em sintonia com suas reais necessidades. Essa filosofia valoriza a capacidade de cada pessoa de se autorregular e de encontrar soluções criativas para os desafios da vida.

A saúde mental, nessa perspectiva, é um estado de constante movimento e ajustamento, e não um ponto fixo a ser alcançado. Isso implica que o indivíduo deve estar sempre atento ao seu campo de interação com o meio, buscando equilíbrio entre suas necessidades internas e as demandas externas. Ao fazer isso, ele pode viver de forma mais consciente e plena, evitando os bloqueios que levam ao desequilíbrio mental.

Conclusão

A abordagem gestáltica oferece uma visão rica e integrativa da saúde mental. Ela reconhece o indivíduo como um ser completo, cujas emoções, sensações e pensamentos estão interligados, e cuja saúde depende da capacidade de se ajustar criativamente ao seu ambiente. Ao focar no “aqui e agora” e na ampliação da conscientização, essa abordagem promove um estado de equilíbrio psicológico que envolve tanto o corpo quanto a mente.

Adotar os princípios da abordagem gestáltica pode ajudar o indivíduo a cultivar uma vida mais consciente, onde o ajustamento criativo e a atenção plena permitem uma saúde mental mais estável e integrada.

E você, já parou para refletir sobre como suas necessidades no presente influenciam seu bem-estar? Como você poderia trazer mais consciência para sua vida cotidiana e cultivar uma saúde mental mais equilibrada? Compartilhe sua opinião nos comentários!

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Danilo Suassuna
Danilo Suassuna

Pós doutorando em Educação, Psicoterapeuta há quase 20 anos, é psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela PUC-GO. Especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT – GO. Foi professor da PUC-GO e do ITGT-GO entre os anos de 2006 e 2011.

É CEO, membro fundador e professor do Instituto Suassuna (IS-GO) e membro do Conselho Consultivo da Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies (RAG), além de consultor Ad – hoc da Revista em Psicologia em Revista (PUC-Minas).

É autor dos livros: – Histórias da Gestalt – terapia no Brasil – Um estudo historiográfico – Organizador do livro Renadi: a experiência do plantar em Goiânia – Organizador do livro Supervisão em Gestalt-Terapia, bem como autor de artigos na área da Psicologia.